São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2010

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"Pecados de dentro" são maior ameaça à igreja, afirma papa

Bento 16 diz que a instituição precisa se penitenciar por conta dos escândalos de pedofilia envolvendo sacerdotes

Declarações contrastam com a retórica inicial do Vaticano de que escândalos eram parte de campanha externa de difamação


DA REDAÇÃO

A maior ameaça ao catolicismo não vem de inimigos externos, e sim "dos pecados de dentro da igreja", afirmou ontem o papa Bento 16, na mais direta admissão de culpa da instituição nos escândalos de pedofilia envolvendo padres católicos.
Em contraste com a retórica inicial de alguns setores católicos e do próprio Vaticano -de que os escândalos eram parte de uma campanha difamatória externa-, Bento 16 disse que "a igreja precisa reaprender profundamente a [fazer] penitência" por seus pecados e "aceitar a purificação".
Agregou que "o perdão não substitui a justiça" nos casos de abusos sexuais e que não tolerará tais abusos. As declarações foram dadas a jornalistas a bordo do avião papal rumo a Lisboa, Portugal.
Na pior crise do pontificado de Bento 16, a igreja tem sido alvo de uma série de denúncias de abusos sistemáticos de menores envolvendo padres católicos, em dez países europeus e em EUA e Brasil.
Em três dos casos (dois nos EUA e um na Alemanha), há indícios de que o papa, quando ainda era cardeal, tenha sido omisso na reação a casos de pedofilia de subordinados.
Recentemente, Bento 16 disse que a igreja devia "penitências" por seus pecados, publicou diretrizes contra a pedofilia -recomendando pela primeira vez denúncias à Justiça civil- e prometeu "ação" contra os padres pedófilos.
Também aceitou renúncias de bispos que admitiram culpa no acobertamento de abusos.
Ontem, o pontífice disse que a igreja sempre sofreu de problemas produzidos por si própria, tendência percebida atualmente "de uma maneira aterrorizante".
Críticos, por outro lado, alegam que, apesar das renúncias, os sacerdotes não foram diretamente punidos. "Muitos estão cansados de ouvir sobre os "comentários fortes" [do papa] e querem ver ações fortes", disse ontem David Clohessy, diretor de uma associação de vítimas de abusos de padres nos EUA.

Ética nas finanças
Já em Portugal, país de maioria católica e profundamente afetado pela crise econômica, o papa pediu responsabilidade moral e ética ao sistema financeiro mundial.
Portugal está em vias de legalizar o matrimônio entre homossexuais e em 2007 descriminalizou o aborto -fato criticado ontem pelo papa.
Também ontem, Bento 16 celebrou uma missa ao ar livre, acompanhada por centenas de milhares de pessoas em Lisboa.

Com agências internacionais



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