São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

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memória

Operação tem tudo para ser novo "blowback"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

"Blowback" é uma contradição em termos. "Blow", em inglês, quer dizer tanto "explodir" quanto "soprar", entre outras traduções, e o complemento "back", "retroceder".
No mundo das armas, é a fumaça traseira que sobra do tiro da pistola. Na política externa norte-americana, é uma ação do governo que resulta no inverso do inicialmente pretendido.
O primeiro uso do termo com esse sentido é de março de 1954, atribuído à CIA, em documentos recentemente liberados ao público por Washington, segundo informação do intelectual de esquerda Chalmers Johnson, confirmada por um dos verbetes do "Dicionário de Princeton".
A agência central de inteligência norte-americana se apropriou da palavra para se referir então aos riscos potenciais da operação que resultou na queda do premiê iraniano Mohammed Mossadegh.
No lugar do líder nacionalista, entrou o regime pró-Ocidente do xá Reza Pahlevi (1953-1979), que reprimiu o nacionalismo iraniano, encurralando-o nas mesquitas. O resultado, como os EUA pressentiam já no documento de 1954, seria desastroso para o próprio país, com a Revolução Islâmica de 1979, que implantou o atual regime dos aiatolás. É o exemplo que "deu origem à série", mas há outros na história recente dos Estados Unidos.
Três deles, entre muitos:
as relações promíscuas com o general Manuel Noriega, que comandou o Panamá de fato de 1983 a 1989, por anos homem dos EUA no canal, até ser capturado durante invasão do país ordenada por Bush pai -hoje, ele cumpre os últimos anos da pena numa prisão em Miami, na Flórida;
o treinamento militar dado ao saudita Osama bin Laden e seus homens para que resistissem ao invasor soviético no Afeganistão em 1979, o que adubaria o terreno para que surgisse a mesma Al Qaeda que executou os ataques do 11 de Setembro;
o apoio dos EUA a Saddam Hussein na Guerra Irã-Iraque (1980-1988), levado ao então já ditador Saddam Hussein (1979-2003) pelo mesmo Donald Rumsfeld que, anos depois, à frente do Ministério da Defesa, seria um dos executores da Guerra do Iraque, cujo objetivo oficial era derrubar o líder iraquiano e impedi-lo que produzisse ou comprasse armas de destruição em massa.
Agora, segundo informação do "New York Times", os EUA estão armando grupos sunitas que prometeram combater seus ex-aliados, militantes ligados à Al Qaeda. Parece um novo capítulo da infinda "Operação Blowback" sendo escrito.


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