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memória
Operação tem tudo para ser novo "blowback"
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
"Blowback" é uma contradição em termos. "Blow", em
inglês, quer dizer tanto "explodir" quanto "soprar", entre outras traduções, e o
complemento "back", "retroceder".
No mundo das armas, é a
fumaça traseira que sobra do
tiro da pistola. Na política externa norte-americana, é
uma ação do governo que resulta no inverso do inicialmente pretendido.
O primeiro uso do termo
com esse sentido é de março
de 1954, atribuído à CIA, em
documentos recentemente
liberados ao público por
Washington, segundo informação do intelectual de esquerda Chalmers Johnson,
confirmada por um dos verbetes do "Dicionário de Princeton".
A agência central de inteligência norte-americana se
apropriou da palavra para se
referir então aos riscos potenciais da operação que resultou na queda do premiê
iraniano Mohammed Mossadegh.
No lugar do líder nacionalista, entrou o regime pró-Ocidente do xá Reza Pahlevi
(1953-1979), que reprimiu o
nacionalismo iraniano, encurralando-o nas mesquitas.
O resultado, como os EUA
pressentiam já no documento de 1954, seria desastroso
para o próprio país, com a
Revolução Islâmica de 1979,
que implantou o atual regime dos aiatolás. É o exemplo
que "deu origem à série",
mas há outros na história recente dos Estados Unidos.
Três deles, entre muitos:
as relações promíscuas
com o general Manuel Noriega, que comandou o Panamá de fato de 1983 a 1989,
por anos homem dos EUA no
canal, até ser capturado durante invasão do país ordenada por Bush pai -hoje, ele
cumpre os últimos anos da
pena numa prisão em Miami,
na Flórida;
o treinamento militar dado ao saudita Osama bin Laden e seus homens para que
resistissem ao invasor soviético no Afeganistão em 1979,
o que adubaria o terreno para que surgisse a mesma Al
Qaeda que executou os ataques do 11 de Setembro;
o apoio dos EUA a Saddam
Hussein na Guerra Irã-Iraque (1980-1988), levado ao
então já ditador Saddam
Hussein (1979-2003) pelo
mesmo Donald Rumsfeld
que, anos depois, à frente do
Ministério da Defesa, seria
um dos executores da Guerra
do Iraque, cujo objetivo oficial era derrubar o líder iraquiano e impedi-lo que produzisse ou comprasse armas
de destruição em massa.
Agora, segundo informação do "New York Times", os
EUA estão armando grupos
sunitas que prometeram
combater seus ex-aliados,
militantes ligados à Al Qaeda. Parece um novo capítulo
da infinda "Operação Blowback" sendo escrito.
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