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Morales critica Peru e agrava crise bilateral
Presidente boliviano disse que indígenas peruanos foram "humilhados"; Lima reclama de ingerência
DA REDAÇÃO
O presidente boliviano, Evo
Morales, criticou duramente
ontem a atuação do governo do
Peru no conflito com comunidades indígenas locais, deteriorando as já desgastadas relações bilaterais.
Morales, durante visita a Cuba, lamentou pelos indígenas
peruanos mortos durante confronto na cidade de Bagua, há
uma semana -foram 9 os mortos, segundo o número oficial, e
ao menos 30, segundo os manifestantes indígenas.
"Não é possível que os mais
vilipendiados da história latino-americana sejam humilhados", disse ele, da etnia aimará,
também existente no Peru.
As declarações do esquerdista Morales aprofundam meses
de mal-estar e troca de acusações entre La Paz e o governo
conservador de Alan García. O
governo peruano já reclamava
da ingerência boliviana no arrastado conflito com os indígenas, que protestam pela revogação de um pacote de leis que
facilitam investimento na
Amazônia, baixado em 2008.
Na última semana, Lima acusou Morales de incitar a sublevação no Peru por ter defendido que indígenas busquem a
"segunda e definitiva independência" em carta enviada a um
congresso internacional indígena realizado na cidade de Puno, no final de maio.
"Nossa luta não termina, da
resistência passamos à rebelião
e da rebelião à revolução", diz
Morales no texto a 5.000 delegados de povos indígenas.
Ontem, o presidente do Conselho de Ministros (premiê) do
Peru, Yehude Simon, classificou a mensagem de "inaceitável". Disse que La Paz também
reagiria se o governo peruano
enviasse carta aos oposicionistas de Santa Cruz de La Sierra
dizendo: "Nos parece ótimo o
processo de descentralização.
Vocês não devem deixar de lutar por esse processo".
Os cruzenhos lideram movimento na Bolívia por autonomia administrativa em relação
a La Paz, que os acusa, por sua
vez, de disfarçarem intenções
golpistas e separatistas.
A verborragia de Morales é só
mais uma faceta da tensão bilateral. Ele já havia protestado
porque o governo peruano concedeu asilo político, em maio, a
ex-ministros do governo Gonzalo Sánchez de Lozada (2002-03), réus em processo pela
morte de 60 pessoas durante
repressão a protestos da chamada "guerra do gás" em 2003.
Antes disso, o governo boliviano já havia acusado o Peru
de questionar a demarcação de
limites marítimos com o Chile,
na corte de Haia, só para atrapalhar La Paz em sua busca por
uma saída ao mar.
O ideal para a Bolívia seria
obter terras no norte chileno.
Mas, como eram território peruano antes da Guerra do Pacífico, no fim século 19, a transferência, por tratado de 1929, depende da anuência de Lima.
Protesto e negociação
Ontem foi dia de protesto em
várias cidades do Peru, na selva
e na costa, convocados pelo
movimento indígena e aliados.
Em Lima, participantes de
marcha da CGTP, principal
central sindical peruana, entraram em confronto com policiais, que responderam com gás
lacrimogêneo.
As manifestações pró-indígenas exigiam a revogação das
leis, e não só a sua suspensão,
como aprovado anteontem pelo Congresso em relação a dois
dos decretos.
O governo anunciou a criação de uma comissão para discutir o desenvolvimento amazônico, com participação dos
indígenas, mas declarou que
não considera a Aidesep, a
principal associação indígena,
um interlocutor.
Com agências internacionais
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