São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ORIENTE MÉDIO

Atentado a bomba em Tel Aviv mata 1 e fere 32; para premiê, veredicto de corte "encoraja o terrorismo"

Sharon liga ataque em Israel à decisão de tribunal da ONU

DA REDAÇÃO

O premiê israelense, Ariel Sharon, relacionou ontem um atentado a bomba ocorrido horas antes em Tel Aviv à decisão de corte da ONU que, na última sexta, concluiu que o muro em construção entre Israel e a Cisjordânia é ilegal.
Foi o primeiro ataque palestino com morte dentro do território israelense em quatro meses, e o premiê vinculou a explosão ao veredicto da Corte Internacional de Justiça, principal órgão judicial das Nações Unidas.
"A decisão enviou uma mensagem destrutiva que encoraja o terrorismo e prejudicou países que estão tentando se defender", declarou Sharon. Para ele, a análise da corte foi "unilateral e politicamente motivada", e o atentado de ontem ocorreu "sob os auspícios da decisão" internacional.
Sharon também ordenou a continuidade da construção da barreira, desafiando o julgamento da corte da ONU. Para o premiê israelense, o muro na Cisjordânia "é a providência mais razoável a ser tomada contra o terrorismo criminoso".
O ataque de ontem ocorreu em um ponto de ônibus em Tel Aviv, onde a explosão de uma bomba matou uma soldado israelense e feriu outras 32 pessoas.
A bomba, um explosivo de 2 kg com pedaços cortantes de metal, foi detonada ao amanhecer no momento em que um ônibus parava no ponto. "De repente, houve uma grande explosão. As janelas estouraram, e o ônibus ficou cheio de fumaça preta", disse o motorista Eyal Gazit. "Os passageiros pularam uns sobre os outros quando tentavam sair do ônibus", completou.
O grupo terrorista palestino Brigadas de Mártires de Al Aqsa assumiu a autoria da operação, dizendo ter vingado a morte pelo Exército de Israel de integrantes da organização. "Isso mostra que podemos chegar a qualquer lugar, mesmo onde há um muro", declarou um porta-voz do grupo em Nablus, na Cisjordânia.
O atentado foi condenado pelos principais líderes palestinos, incluindo Iasser Arafat, presidente da Autoridade Nacional Palestina: "Somos contrários a qualquer ataque como esse".

Reunião
Em encontro com seus ministros para discutir como reagir ao tribunal da ONU, Sharon confirmou que a construção do muro na Cisjordânia continuará, respeitando recentes decisões da Justiça israelense, que ordenou mudanças na rota na região de Jerusalém, argumentando que o traçado gerava muitas dificuldades para os palestinos.
Ontem, a Suprema Corte israelense congelou a construção de outro trecho da barreira, perto da cidade de Rosh Ha'Ayin (20 km a leste de Tel Aviv). Segundo a Associação pelos Direitos Civis em Israel, que moveu a ação, a obra ficará paralisada até que um novo traçado seja definido naquele trecho pela Justiça.
O governo israelense promete uma "ofensiva diplomática total" contra a decisão do tribunal da ONU e já pediu aos EUA que intercedam a favor de Israel caso a questão chegue ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Em dois anos de construções, Israel já ergueu um quarto dos 685 km projetados para o muro. Segundo o governo Sharon, o número de ataques palestinos caiu até 90% nos trechos já concluídos. Na avaliação da corte da ONU, o traçado da obra prejudicaria mais de 230 mil palestinos que vivem na Cisjordânia.
Ontem, em reunião em Ramallah (Cisjordânia), chegou a consenso de que não tentarão levar a disputa ao CS até novembro -a estratégia do premiê Ahmed Korei é aguardar o resultado das eleição presidencial americana e uma possível mudança de poder em Washington.
Em resposta à reação negativa israelense, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmou que a gestão Sharon deveria respeitar a decisão judicial, que não tem caráter obrigatório.
"Aceitamos que o governo de Israel tem responsabilidade e dever de proteger seus cidadãos, mas qualquer ação deve ser tomada de acordo com a decisão judicial", declarou o secretário-geral.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Blair inflou informações, dizem agentes
Próximo Texto: Europa: Gangue agride jovem francesa em trem pensando que ela fosse judia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.