São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2006

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Atentados matam ao menos 179 na Índia

Série de 8 explosões ocorreu na hora do rush em trens suburbanos de Mumbai; nenhum grupo assumiu prontamente a autoria

Hospitais locais viveram cenas de caos com grande número de feridos na cidade que é considerada a capital financeira dos indianos


DA REDAÇÃO

Ao menos 179 pessoas morreram e 661 ficaram feridas durante uma série de oito explosões coordenadas em Mumbai (antiga Bombaim), no pior ataque terrorista em dez anos na Índia. Até ontem não se sabia a autoria do atentado.
As explosões ocorreram dentro de vagões da primeira classe dos trens por volta das 18h30 do horário local (10h de Brasília), quando muitos trabalhadores voltavam para casa.
A força das bombas destruiu portas e janelas dos trens, arremessando pertences dos passageiros para fora. Destroços de metal retorcido misturados ao sangue das vítimas eram vistos pelas linhas ferroviárias.
Os trens tiveram a circulação suspensa depois do incidente, que foi retomada só por volta da meia-noite local, e milhares de pessoas ficaram impossibilitadas de viajar. O sistema transporta mais de 6 milhões de passageiros por dia.
Momentos após o atentado, o sistema de telefonia celular entrou em colapso. O grande fluxo de chamadas de pessoas em busca de notícias de parentes e amigos impedia que as ligações fossem completadas.
Nos hospitais locais eram vistas cenas de caos. Autoridades fizeram um apelo para que a população de Mumbai doasse sangue. "Não consigo escutar nada. As pessoas ao meu lado não sobreviveram. Não sei como eu consegui", disse Shailesh Mhate, um homem de cerca de 20 anos, enquanto era atendido no chão de um hospital.
A natureza dos ferimentos impedia a pronta identificação dos corpos, muitos deles mutilados. Centenas de parentes e amigos congestionavam as entradas de setores de emergência nos hospitais.
O fato de que a maioria das vítimas apresentava ferimentos na cabeça e no tórax levou as autoridades a acreditar que as bombas foram colocadas em compartimentos de bagagens.

Terroristas
O premiê indiano, Manmohan Singh convocou uma reunião de emergência de seu gabinete e declarou que terroristas estavam por trás dos atentados. Especialistas afirmam que a condição de Mumbai -onde vivem 16 milhões de pessoas- de capital financeira da Índia torna a cidade um alvo específico de ataques.
Apesar de os atentados não terem sua autoria reivindicada, a série de explosões em uma rápida sucessão é uma tática normalmente empregada por grupos separatistas da Caxemira. A região, de maioria muçulmana, onde vivem 10 milhões de pessoas, é motivo de disputa há décadas entre os governos do Paquistão e da Índia.
As explosões nos trens de Mumbai ocorreram horas depois que militantes islâmicos mataram oito pessoas em um ataque com granadas na maior cidade da Caxemira. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Paquistão condenou os ataques.
"O terrorismo é a ruína de nossos tempos e deve ser condenado, rejeitado e combatido ampla e efetivamente", dizia o texto divulgado, que citava as condolências do ditador paquistanês, Pervez Musharraf. Khursheed Mehmood Kasuri, o chanceler do Paquistão, disse que os ataques mostram a necessidade de negociações entre seu país e a Índia.
Grupos terroristas da Caxemira já praticaram atentados contra Musharraf, que, a partir do 11 de Setembro e por pressão dos EUA, iniciou ações contra esses militantes, cujos laços com a rede Al Qaeda, de Osama bin Laden, são conhecidos.
O fato de que as explosões tenham ocorrido em um dia 11 também chamou a atenção -além do 11 de Setembro, o ataque no metrô de Madri que matou 192 pessoas ocorreu no dia 11 de março de 2004.
O primeiro-ministro da Índia classificou os ataques como "uma covarde tentativa de espalhar um sentimento de medo e terror entre os cidadãos".
Sean McCormack, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, declarou que as explosões "são atos de violência sem sentido que foram planejados para atingir pessoas inocentes".
Tony Blair, o premiê britânico, afirmou que "nunca há justificativa alguma para o terrorismo". "Nossos pensamentos estão com as vítimas e seus familiares. Estamos juntos com a Índia, a democracia com a maior população no mundo, que compartilha de nossos valores", declarou.

Nova York
A Polícia de Nova York reforçou a segurança no metrô da cidade após os atentados nos trens da Índia como medida de precaução. "Não recebemos nenhuma ameaça específica", disse o porta-voz da polícia. Um efetivo maior de policiais trabalhou revistando bolsas de passageiros na hora do rush.
"Nós encaramos um ataque terrorista em qualquer lugar do mundo, especialmente um ocorrido no sistema de transporte público, como um sério alerta", disse o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.


Com agências internacionais

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