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Veteranos descrevem padrão de abusos no Iraque
DO "INDEPENDENT", EM WASHINGTON
Na vida política dos EUA, um
dos axiomas é que as Forças Armadas estão acima da crítica.
Excetuados os malfeitores ocasionais, como no caso Abu
Ghraib, a imagem dominante é
a de que os militares estão fazendo um trabalho heróico no
Iraque apesar das adversidades. Essa percepção sofreu severo abalo ontem, com a publicação, pela revista "The Nation", de uma série de entrevistas em que 50 veteranos dos
combates no Iraque descreveram em detalhes atos cotidianos de violência.
A reportagem não trata das
atrocidades mais divulgadas.
Em lugar disso, revela um padrão de abusos. "Não se tratam
de atrocidades individuais",
disse Garett Reppenhagen, atirador de elite do 263º Batalhão
Blindado, "mas do fato de que a
guerra toda é uma atrocidade".
Jornalistas e grupos de defesa dos direitos humanos publicaram reportagens e relatórios
nos quais apontavam para casos de civis mortos por soldados dos EUA. A investigação da
"Nation" foi a primeira a mencionar testemunhas militares
identificadas para confirmar
abertamente essas alegações.
Diversos dos entrevistados
revelaram que as Forças Armadas freqüentemente tentam
atribuir a espectadores inocentes a condição de insurgentes,
muitas vezes depois que soldados norte-americanos movidos
pelo pânico disparam contra
grupos de civis iraquianos. Os
veteranos também ofereceram
indícios de que as tropas costumavam deter quaisquer sobreviventes e acusá-los de fazer
parte da resistência, enquanto
plantavam fuzis de assalto AK-47 ao lado dos cadáveres, para
criar a impressão de que haviam morrido em combate.
Também houve mortes causadas por comportamento irresponsável de comboios. A
sargento Kelly Dougherty, da
Guarda Nacional do Colorado,
descreveu um atropelamento
em que um comboio passou por
cima de um menino de 10 anos
acompanhado por três burros
de carga. "Com base nas marcas
deixadas na estrada, os caminhões mal frearam. Mas, quero
dizer, a ordem básica é a de que
você não deve parar nunca."
Os piores abusos parecem ter
ocorrido durante batidas em
residências privadas, em operações de caça de insurgentes.
O sargento John Bruhns, 29, da
3ª Brigada, 1º Divisão Blindada,
descreve a brutalidade casual
de um incidente típico.
"As tropas entram na casa,
sobem as escadas correndo. Pegam o homem da casa e o arrancam da cama na frente da mulher. Ele é posicionado contra a
parede, e o quarto é despedaçado durante a revista. Os soldados pedem que o intérprete
pergunte se existem armas na
casa, se existe propaganda contra os EUA. Normalmente os
moradores dizem que não, e
normalmente isso é verdade",
disse o sargento Bruhns à "Nation". "Assim, nós tiramos as almofadas do sofá, e as jogamos
longe. Viramos o sofá, aos chutes, se a família tiver um sofá.
Vamos ao refrigerador, se houver um na casa, e jogamos tudo
que contiver no chão. As gavetas são removidas, o conteúdo
jogado no chão. Os armários
são abertos e todas as roupas
são removidas e jogadas pela
casa. É como se tivesse passado
um furacão por lá."
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