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Fidel ataca desigualdade em Cuba
Em artigo, ditador cubano reclama dos privilégios de quem tem dólar na ilha e prega a austeridade
Crise permitiu surgimento de classe privilegiada por dólares, como empregados do setor turístico e cubanos com parentes nos EUA
DA REDAÇÃO
O ditador cubano, Fidel Castro, atacou as "desigualdades e
privilégios irritantes" que surgiram no país pela introdução
do dólar e do peso conversível
[em dólar] e criticou quem gasta muito combustível. "Esse dinheiro às vezes cria desigualdades irritantes em um país que
se esmera pelos serviços gratuitos que oferece a toda população", escreveu.
O artigo "Autocrítica de Cuba" é o 26º que escreve desde
29 de março. Fidel, 80, está
afastado do poder há quase um
ano para tratamento de saúde.
"É indubitável que em Cuba
quem recebe pesos conversíveis ou os que recebem divisas
do exterior usam [também]
serviços sociais essenciais e
gratuitos, alimentos, remédios
e outros bens a preços ínfimos e
subsidiados", acrescentou.
O líder cubano aprovou a circulação do dólar na ilha em
1993, no momento mais severo
da crise econômica provocada
pelo fim da União Soviética,
chamado de "período especial".
Fidel afirmou que o "período
especial" foi aliviado, mas que
muitos problemas persistem.
Por isso, elogiou medidas
anunciadas pela União da Juventude Comunista, que, a fim
de economizar gasolina, reduziu o número de brigadas de estudantes enviadas para atividades de trabalho manual.
O ditador deu um violento
puxão de orelhas em um funcionário do regime, sem citar o
nome, por ignorar a austeridade: "Fiquei de cabelo em pé
quando alguns dias atrás um
distinto burocrata informou,
na televisão, que, agora que o
período especial acabou, enviaremos mais e mais delegações
para atividades externas. De
onde saiu esse bárbaro?".
Contra reformas
Além de Fidel, altos dirigentes do Partido Comunista de
Cuba têm feito duros ataques
às reformas liberalizantes instituídas no auge da crise -o que
contrasta com as análises de
que Raul Castro, que assumiu
"provisoriamente" as funções
executivas de Fidel, estaria disposto a promover no país reformas ao estilo chinês.
A livre circulação do dólar
por uma década, o recebimento
de remessas de dólares de cubanos nos Estados Unidos por
parentes em Cuba, o trabalho
autônomo e o crescimento do
turismo internacional criaram
uma nova classe em Cuba: os
com-dólar.
Empregados de hotéis começaram a ganhar em gorjetas
mais do que médicos de prestígio no governo. A partir de novembro de 2004, o dólar voltou
a ser proibido em transações na
ilha, sendo imposta a troca por
"pesos conversíveis", com câmbio determinado pelo governo.
Em discurso, o chefe do Departamento de Cultura do PC,
Eliades Acosta, afirmou que na
crise econômica dos 1990 cresceu "uma anti-Cuba indesejável, parasitária, medíocre, submissa ao exterior, consumista e
despolitizada". O ministro da
Economia, José Luis Rodríguez, descartou em abril qualquer mudança econômica.
"Quem especulava que haveria
uma mudança dramática ou
que procuraríamos outro modelo que não é o nosso já viu
que não é assim."
NA INTERNET - Leia a íntegra do artigo de Fidel Castro em http://www.folha.com.br/071922
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