São Paulo, domingo, 12 de julho de 2009

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Diante de impasse político, França mira cooperação técnica

DA REPORTAGEM LOCAL

Um ano depois de fazer contorcionismo diplomático para lançar a União pelo Mediterrâneo (UM), o governo francês agora luta para mantê-la viva, mesmo que isso signifique reconfigurá-la -mais uma vez.
Paris comemorou duas recentes reuniões ministeriais como prova de que a UM reencontrou um rumo, seis meses após a crise gerada pela ofensiva israelense na faixa de Gaza.
Na última terça-feira, ministros das Finanças dos 43 países que formam a união (mais a Liga Árabe) se reuniram em Bruxelas para definir como serão financiadas iniciativas comuns.
Mas não houve acordo sobre a fonte dos 2 bilhões para os projetos de desenvolvimento iniciais, que incluem fundos para uma universidade euromediterrânea na Eslovênia, um programa de irrigação na Tunísia e uma operação para "despoluir" o mar Mediterrâneo.
O encontro financeiro foi precedido de uma reunião de ministros do Ambiente, no dia 25 de junho, em Paris.
"Há alguns meses, ninguém teria apostado que conseguiríamos promover essas reuniões", afirmou Henri Guiano, coordenador francês da UM.
Segundo analistas, a França percebeu que a aliança só sobreviverá se priorizar assuntos consensuais, como desenvolvimento sustentável e tecnologia agrícola.
Paris admite que temas políticos só causam atritos.

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"Nicolas Sarkozy apostou alto demais", diz Mikaïl Barah, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas.
Já o cientista político italiano Fabio Liberti prevê que nem uma agenda técnica poderá vingar. "A região está tão impregnada de política que projetos concretos dificilmente serão implementados", diz.
Segundo ele, a UM ilustra um dilema típico das regiões onde há conflitos: "projetos de desenvolvimento precedem a paz ou é a paz que abre caminho para o desenvolvimento?".
O formato atual é cada vez menos parecido com o originalmente pensado por Sarkozy, que defendia uma união mais restrita e mais voltada para a diplomacia tradicional.
Sarkozy quis aproveitar a presidência francesa da UE, iniciada em junho de 2008, para alavancar o projeto, mas teve que rever seus contornos diante do ceticismo generalizado.
A Turquia enxergou uma barreira aos seus planos de ingressar na UE. A Síria rejeitou entrar numa entidade que reconhece Israel. A Alemanha, irritada por ter sido escanteada, alegou que Sarkozy buscava usar fundos europeus para benefício exclusivo da diplomacia francesa. A UM só emplacou depois que os 27 países-membros da UE foram incluídos.
A desconfiança dos demais governos foi dissipada graças a uma intensa movimentação diplomática na região para apresentar um plano de união menos política e convencer a todos que o pacto não afetaria interesses nacionais.
A UM foi lançada com pompa em Paris em 13 de julho do ano passado -véspera da festa nacional francesa. Praticamente todos os 44 líderes atenderam o convite de Sarkozy. Os maiores ausentes foram o ditador líbio, Muammar Gaddafi, que esnobou a UM, e o rei do Marrocos , Mohamed 6º, avesso a cúpulas, mas que aderiu à entidade.
Há quem diga que o maior trunfo da UM até agora foi justamente ter propiciado tão raro encontro de líderes, como os inimigos Ehud Olmert (então premiê de Israel) e Bashar Assad (presidente sírio), que evitaram se falar, mas sentaram à mesma mesa de jantar.0 (SA)


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