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Diante de impasse político, França mira cooperação técnica
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ano depois de fazer contorcionismo diplomático para
lançar a União pelo Mediterrâneo (UM), o governo francês
agora luta para mantê-la viva,
mesmo que isso signifique reconfigurá-la -mais uma vez.
Paris comemorou duas recentes reuniões ministeriais
como prova de que a UM reencontrou um rumo, seis meses
após a crise gerada pela ofensiva israelense na faixa de Gaza.
Na última terça-feira, ministros das Finanças dos 43 países
que formam a união (mais a Liga Árabe) se reuniram em Bruxelas para definir como serão
financiadas iniciativas comuns.
Mas não houve acordo sobre
a fonte dos 2 bilhões para os
projetos de desenvolvimento
iniciais, que incluem fundos
para uma universidade euromediterrânea na Eslovênia, um
programa de irrigação na Tunísia e uma operação para "despoluir" o mar Mediterrâneo.
O encontro financeiro foi
precedido de uma reunião de
ministros do Ambiente, no dia
25 de junho, em Paris.
"Há alguns meses, ninguém
teria apostado que conseguiríamos promover essas reuniões", afirmou Henri Guiano,
coordenador francês da UM.
Segundo analistas, a França
percebeu que a aliança só sobreviverá se priorizar assuntos
consensuais, como desenvolvimento sustentável e tecnologia
agrícola.
Paris admite que temas políticos só causam atritos.
Avaliações
"Nicolas Sarkozy apostou alto demais", diz Mikaïl Barah, do
Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas.
Já o cientista político italiano
Fabio Liberti prevê que nem
uma agenda técnica poderá
vingar. "A região está tão impregnada de política que projetos concretos dificilmente serão implementados", diz.
Segundo ele, a UM ilustra um
dilema típico das regiões onde
há conflitos: "projetos de desenvolvimento precedem a paz
ou é a paz que abre caminho para o desenvolvimento?".
O formato atual é cada vez
menos parecido com o originalmente pensado por Sarkozy,
que defendia uma união mais
restrita e mais voltada para a
diplomacia tradicional.
Sarkozy quis aproveitar a
presidência francesa da UE,
iniciada em junho de 2008, para alavancar o projeto, mas teve
que rever seus contornos diante do ceticismo generalizado.
A Turquia enxergou uma
barreira aos seus planos de ingressar na UE. A Síria rejeitou
entrar numa entidade que reconhece Israel. A Alemanha, irritada por ter sido escanteada,
alegou que Sarkozy buscava
usar fundos europeus para benefício exclusivo da diplomacia
francesa. A UM só emplacou
depois que os 27 países-membros da UE foram incluídos.
A desconfiança dos demais
governos foi dissipada graças a
uma intensa movimentação diplomática na região para apresentar um plano de união menos política e convencer a todos
que o pacto não afetaria interesses nacionais.
A UM foi lançada com pompa
em Paris em 13 de julho do ano
passado -véspera da festa nacional francesa. Praticamente
todos os 44 líderes atenderam o
convite de Sarkozy. Os maiores
ausentes foram o ditador líbio,
Muammar Gaddafi, que esnobou a UM, e o rei do Marrocos ,
Mohamed 6º, avesso a cúpulas,
mas que aderiu à entidade.
Há quem diga que o maior
trunfo da UM até agora foi justamente ter propiciado tão raro
encontro de líderes, como os
inimigos Ehud Olmert (então
premiê de Israel) e Bashar Assad (presidente sírio), que evitaram se falar, mas sentaram à
mesma mesa de jantar.0
(SA)
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