São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004

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VENEZUELA

PT entrega documento pró-Chávez; Coordenação Democrática apresenta manifesto com assinaturas de notáveis

Governo e oposição exibem seus apoiadores

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

Com jornalistas oposicionistas sentados do lado direito e repórteres chavistas posicionados do lado esquerdo, a delegação do PT na Venezuela concedeu ontem de manhã uma polarizada entrevista coletiva para demonstrar o apoio do partido ao presidente Hugo Chávez, que no próximo domingo enfrenta um plebiscito revogatório de seu mandato.
No mesmo horário, mas em outro lugar de Caracas, a Coordenação Democrática apresentava um documento assinado por 106 diplomatas e intelectuais venezuelanos, entre os quais seis são ex-chanceleres e outros 66 são embaixadores aposentados ou afastados pelo governo Chávez.
No evento pró-chavismo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi citado, apesar do discurso de que se tratava de iniciativa partidária petista, e não do Planalto.
"O PT é o partido governante neste momento do Brasil, com o presidente Lula, que tem enorme presença internacional. Para nós, é um motivo de orgulho que o PT tenha se manifestado sua opção de manifestar solidariedade a Venezuela", disse Samuel Moncada, um dos líderes da campanha oficialista, no início do evento.
Para ele, o apoio mostra que Venezuela não está "isolada no cenário internacional".
Em seguida, o deputado federal Greenhalgh (SP), líder da delegação, leu carta dirigida a Chávez e assinada pelo presidente do partido, José Genoino, com nova citação a Lula: "Também o governo brasileiro tem atuado com firmeza para garantir o direito de vossa nação a escolher seu próprio caminho. O presidente Lula sempre considerou o processo venezuelano fator decisivo para o cenário latino-americano". A carta seria entregue pessoalmente a Chávez ontem à noite, em ato público.
A declaração oposicionista fala praticamente o contrário: "Observamos com profunda preocupação a forma com que a ausência de uma política exterior democrática fundada no consenso nacional, expressão de um real Estado de Direito, destinada à defesa dos interesses vitais do país, nos tem levado a perder a significativa posição que a Venezuela ocupava na comunidade internacional".
Após ler o documento pró-Chávez, Greenhalgh ressaltou que se trata do apoio do PT, e não do governo: "Não estamos falando pelo nosso governo", disse o petista. "Não há nenhuma contradição".
Apesar de ter classificado a iniciativa petista de "irresponsável" e acusá-la de ingerência, a oposição tem elogiado a política de Lula na Venezuela.
"Temos visto um posicionamento correto por parte de Lula, apesar de Chávez tentar atraí-lo para uma suposta aliança continental com [o presidente argentino, Néstor] Kirchner", disse à Folha Humberto Calderón, ex-chanceler e um dos signatários do documento oposicionista.
Calderón disse que a iniciativa petista "é de um grupo da esquerda radical, não da esquerda moderada, com quem temos tido contado em todo o mundo".
Acostumados a reclamar da imprensa brasileira, os petistas se surpreenderam com as perguntas dos jornalistas venezuelanos, que, durante o evento, sentaram em dois blocos separados.
Um repórter chavista, diante de um atônito Greenhalgh, perguntou, aos berros, se "o Brasil tinha telefônicas fascistas como a Cantv na Venezuela", em alusão às acusações do governo de que essa empresa local está apoiando a oposição. Ele não respondeu.
Já uma repórter de um veículo oposicionista polemizou com Bruno Maranhão, do Diretório Nacional petista, ao questionar se ele também não considerava "povo" as pessoas que convocaram o plebiscito contra Chávez.
Diferentemente de Greenhalgh, porém, Maranhão entrou na discussão: "Para mim, povo são todos os explorados e oprimidos". Em seguida, disse que "a oposição não tem candidato" e que "será derrotada pela terceira vez", em referência a vitórias de Chávez nas eleições de 1998 e 2000.
O governo brasileiro doou US$ 50 mil para as atividades de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA), confirmou à Folha o chefe da missão da entidade no país, o embaixador brasileiro Valter Pecly.
Até agora, o Brasil foi o único país a efetuar a doação, comum nesse tipo de missão diplomática. Japão e Canadá também se comprometeram em enviar dinheiro, mas a quantia ainda não foi definida. Os gastos da OEA foram estimados em cerca de US$ 350 mil.


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