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VENEZUELA
PT entrega documento pró-Chávez; Coordenação Democrática apresenta manifesto com assinaturas de notáveis
Governo e oposição exibem seus apoiadores
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Com jornalistas oposicionistas
sentados do lado direito e repórteres chavistas posicionados do
lado esquerdo, a delegação do PT
na Venezuela concedeu ontem de
manhã uma polarizada entrevista
coletiva para demonstrar o apoio
do partido ao presidente Hugo
Chávez, que no próximo domingo enfrenta um plebiscito revogatório de seu mandato.
No mesmo horário, mas em outro lugar de Caracas, a Coordenação Democrática apresentava um
documento assinado por 106 diplomatas e intelectuais venezuelanos, entre os quais seis são ex-chanceleres e outros 66 são embaixadores aposentados ou afastados pelo governo Chávez.
No evento pró-chavismo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
foi citado, apesar do discurso de
que se tratava de iniciativa partidária petista, e não do Planalto.
"O PT é o partido governante
neste momento do Brasil, com o
presidente Lula, que tem enorme
presença internacional. Para nós,
é um motivo de orgulho que o PT
tenha se manifestado sua opção
de manifestar solidariedade a Venezuela", disse Samuel Moncada,
um dos líderes da campanha oficialista, no início do evento.
Para ele, o apoio mostra que Venezuela não está "isolada no cenário internacional".
Em seguida, o deputado federal
Greenhalgh (SP), líder da delegação, leu carta dirigida a Chávez e
assinada pelo presidente do partido, José Genoino, com nova citação a Lula: "Também o governo
brasileiro tem atuado com firmeza para garantir o direito de vossa
nação a escolher seu próprio caminho. O presidente Lula sempre
considerou o processo venezuelano fator decisivo para o cenário
latino-americano". A carta seria
entregue pessoalmente a Chávez
ontem à noite, em ato público.
A declaração oposicionista fala
praticamente o contrário: "Observamos com profunda preocupação a forma com que a ausência
de uma política exterior democrática fundada no consenso nacional, expressão de um real Estado
de Direito, destinada à defesa dos
interesses vitais do país, nos tem
levado a perder a significativa posição que a Venezuela ocupava na
comunidade internacional".
Após ler o documento pró-Chávez, Greenhalgh ressaltou que se
trata do apoio do PT, e não do governo: "Não estamos falando pelo
nosso governo", disse o petista.
"Não há nenhuma contradição".
Apesar de ter classificado a iniciativa petista de "irresponsável"
e acusá-la de ingerência, a oposição tem elogiado a política de Lula
na Venezuela.
"Temos visto um posicionamento correto por parte de Lula,
apesar de Chávez tentar atraí-lo
para uma suposta aliança continental com [o presidente argentino, Néstor] Kirchner", disse à Folha Humberto Calderón, ex-chanceler e um dos signatários do
documento oposicionista.
Calderón disse que a iniciativa
petista "é de um grupo da esquerda radical, não da esquerda moderada, com quem temos tido
contado em todo o mundo".
Acostumados a reclamar da imprensa brasileira, os petistas se
surpreenderam com as perguntas
dos jornalistas venezuelanos, que,
durante o evento, sentaram em
dois blocos separados.
Um repórter chavista, diante de
um atônito Greenhalgh, perguntou, aos berros, se "o Brasil tinha
telefônicas fascistas como a Cantv
na Venezuela", em alusão às acusações do governo de que essa
empresa local está apoiando a
oposição. Ele não respondeu.
Já uma repórter de um veículo
oposicionista polemizou com
Bruno Maranhão, do Diretório
Nacional petista, ao questionar se
ele também não considerava "povo" as pessoas que convocaram o
plebiscito contra Chávez.
Diferentemente de Greenhalgh,
porém, Maranhão entrou na discussão: "Para mim, povo são todos os explorados e oprimidos".
Em seguida, disse que "a oposição
não tem candidato" e que "será
derrotada pela terceira vez", em
referência a vitórias de Chávez
nas eleições de 1998 e 2000.
O governo brasileiro doou US$
50 mil para as atividades de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA), confirmou à Folha o chefe da missão da
entidade no país, o embaixador
brasileiro Valter Pecly.
Até agora, o Brasil foi o único
país a efetuar a doação, comum
nesse tipo de missão diplomática.
Japão e Canadá também se comprometeram em enviar dinheiro,
mas a quantia ainda não foi definida. Os gastos da OEA foram estimados em cerca de US$ 350 mil.
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