São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Demanda abre discussão sobre quem dominará petróleo do país e ameaça Constituição

Xiitas exigem território semi-autônomo

DA REDAÇÃO

Um dos principais líderes xiitas do Iraque pediu ontem a criação de uma região semi-independente xiita no sul do país -um desdobramento que pode acirrar o já intenso debate sobre federalismo a quatro dias da entrega do texto da nova Constituição.
A demanda tem duas implicações diretas. A primeira, mais preocupante para a minoria sunita do ponto de vista econômico, é a de que xiitas e curdos passem a dominar sozinhos o petróleo, principal fonte de renda do país.
Os principais campos de exploração do Iraque concentram-se no norte, perto de Kirkuk, e no sul, na região de Basra, onde está também o maior porto de escoamento. O xiitas, que perfazem 60% da população iraquiana, dominam o sul. Já os curdos são predominantes no norte, onde reivindicam manter a relativa autonomia da qual gozavam nos últimos anos do regime deposto.
Essa disputa põe em xeque o plano dos EUA para a transição iraquiana, diante da qual o Pentágono poderia começar a retirar suas tropas do país. Pelo cronograma, expira segunda o prazo para a entrega do texto da nova Constituição, que será levado à aprovação da Assembléia Nacional e a consulta popular antes de entrar em vigor. Só com a Constituição aprovada será possível convocar eleições no país, que por ora tem um governo interino.
O problema é que para ter a aprovação popular, a Constituição não pode ser vetada por mais de três das 18 Províncias iraquianas -na prática, isso dá a qualquer um dos três principais grupos étnicos-religiosos poder de derrubar o texto.
"A Constituição deve permitir a formação de um governo regional paralelo ao central, com base nos princípios da igualdade e da justiça", disse Abdul Aziz al Hakim, líder do Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque, em discurso na cidade sagrada xiita de Najaf. "Não podemos perder a chance de atingir esta meta."
Políticos sunitas se disseram surpresos com a declaração, até então inédita entre os xiitas. "O tempo está se esgotando, e manifestações como esta têm de ser mais contidas. Não temos tempo para grandes manobras", afirmou Saleh al Mutlaq, membro sunita do comitê constituinte. O grupo reúne xiitas, sunitas, curdos, um cristão e um turcomano.
Para Ayad al Samarai, membro do Partido Islâmico do Iraque, principal representação política sunita, as declarações de Al Hakim "ameaçam" o consenso ao abrirem uma série de "questões laterais", como a distribuição da riqueza nacional.
Líderes sunitas sugerem que o debate sobre federalismo seja adiado até a eleição de dezembro. A expectativa é que no novo Parlamento haja mais sunitas do que entre os atuais parlamentares, pois a minoria boicotou a votação anterior, em janeiro passado.

Violência e ameaça
A consulta popular está programada para ocorrer em outubro.
Em um comunicado na internet, supostamente assinado pelo braço iraquiano da Al Qaeda, a rede terrorista ameaçou matar os envolvidos na redação da Carta e atacar os locais de votação. "A corte judicial da Organização Al Qaeda no Iraque determinou que é um dever manter a lei de Deus e matar aqueles que se declararam parceiros de Deus na redação desta Constituição nula", diz o texto.
Também ontem, quatro iraquianos foram mortos a tiros em diferentes ataques pelo país, e o comando americano anunciou a morte de um marine atingido por uma bomba em Ramadi (oeste). Mais de 40 soldados dos EUA já morreram em ataques neste mês.


Com agências internacionais

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