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IRAQUE SOB TUTELA
Demanda abre discussão sobre quem dominará petróleo do país e ameaça Constituição
Xiitas exigem território semi-autônomo
DA REDAÇÃO
Um dos principais líderes xiitas
do Iraque pediu ontem a criação
de uma região semi-independente xiita no sul do país -um desdobramento que pode acirrar o já
intenso debate sobre federalismo
a quatro dias da entrega do texto
da nova Constituição.
A demanda tem duas implicações diretas. A primeira, mais
preocupante para a minoria sunita do ponto de vista econômico, é
a de que xiitas e curdos passem a
dominar sozinhos o petróleo,
principal fonte de renda do país.
Os principais campos de exploração do Iraque concentram-se
no norte, perto de Kirkuk, e no
sul, na região de Basra, onde está
também o maior porto de escoamento. O xiitas, que perfazem
60% da população iraquiana, dominam o sul. Já os curdos são predominantes no norte, onde reivindicam manter a relativa autonomia da qual gozavam nos últimos anos do regime deposto.
Essa disputa põe em xeque o
plano dos EUA para a transição
iraquiana, diante da qual o Pentágono poderia começar a retirar
suas tropas do país. Pelo cronograma, expira segunda o prazo
para a entrega do texto da nova
Constituição, que será levado à
aprovação da Assembléia Nacional e a consulta popular antes de
entrar em vigor. Só com a Constituição aprovada será possível
convocar eleições no país, que por
ora tem um governo interino.
O problema é que para ter a
aprovação popular, a Constituição não pode ser vetada por mais
de três das 18 Províncias iraquianas -na prática, isso dá a qualquer um dos três principais grupos étnicos-religiosos poder de
derrubar o texto.
"A Constituição deve permitir a
formação de um governo regional
paralelo ao central, com base nos
princípios da igualdade e da justiça", disse Abdul Aziz al Hakim, líder do Conselho Supremo para a
Revolução Islâmica no Iraque, em
discurso na cidade sagrada xiita
de Najaf. "Não podemos perder a
chance de atingir esta meta."
Políticos sunitas se disseram
surpresos com a declaração, até
então inédita entre os xiitas. "O
tempo está se esgotando, e manifestações como esta têm de ser
mais contidas. Não temos tempo
para grandes manobras", afirmou
Saleh al Mutlaq, membro sunita
do comitê constituinte. O grupo
reúne xiitas, sunitas, curdos, um
cristão e um turcomano.
Para Ayad al Samarai, membro
do Partido Islâmico do Iraque,
principal representação política
sunita, as declarações de Al Hakim "ameaçam" o consenso ao
abrirem uma série de "questões
laterais", como a distribuição da
riqueza nacional.
Líderes sunitas sugerem que o
debate sobre federalismo seja
adiado até a eleição de dezembro.
A expectativa é que no novo Parlamento haja mais sunitas do que
entre os atuais parlamentares,
pois a minoria boicotou a votação
anterior, em janeiro passado.
Violência e ameaça
A consulta popular está programada para ocorrer em outubro.
Em um comunicado na internet, supostamente assinado pelo
braço iraquiano da Al Qaeda, a rede terrorista ameaçou matar os
envolvidos na redação da Carta e
atacar os locais de votação. "A
corte judicial da Organização Al
Qaeda no Iraque determinou que
é um dever manter a lei de Deus e
matar aqueles que se declararam
parceiros de Deus na redação desta Constituição nula", diz o texto.
Também ontem, quatro iraquianos foram mortos a tiros em
diferentes ataques pelo país, e o
comando americano anunciou a
morte de um marine atingido por
uma bomba em Ramadi (oeste).
Mais de 40 soldados dos EUA já
morreram em ataques neste mês.
Com agências internacionais
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