São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Cobertura chavista sobre turnê de Lula faz crítica ao álcool

Chávez abandona ataques diretos a programa em discursos, mas boletins questionam combustível como alternativa "limpa"

Líderes de Nicarágua e Jamaica, países visitados por Lula na semana passada, vão a Caracas buscar petróleo barato

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

Foi mais uma turnê de Hugo Chávez: carregada da retórica bolivariana e de anúncios de investimentos energéticos, uma vez que o venezuelano já declarou seu horror a reuniões diplomáticas que acabam sem cifras a divulgar. Se todas saírem do papel, serão consumidos ao menos US$ 6,2 bilhões.
Chávez, porém, não bradou contra a política do álcool, a grande aposta brasileira, à diferença do que fez em seu último giro pela região em maio, excitado pela visita de George W. Bush ao Brasil e à região.
"Parece-me que Lula e Chávez estão tentando baixar o tom da disputa. O venezuelano viu que ser agressivo não estava dando certo", diz o economista argentino Mariano Lamothe.
Mas se o enfrentamento do petróleo e gás contra o álcool saiu explicitamente do discurso do venezuelano, continuou tomando espaço em sua comunicação e foi captado pelos aliados, que tentam se equilibrar.
A divulgação chavista explicitou as diferenças entre o giro de Chávez e a turnê do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na América Central. O boletim "Venezuela em Notícias" trouxe texto sobre a visita de Lula à Nicarágua. Destacou: "Lula chamou Daniel Ortega para subir no trem dos agrocombustíveis. Apesar de receber bem a oferta, o sandinista disse que é "crime" usar milho para produzir combustível". O texto ainda questiona a tese de Lula sobre o álcool: "Não está comprovado que essa energia alternativa polua menos que a gasolina".
No site da agência de notícias oficial, por sua vez, reportagem sobre a visita de Lula ao Panamá diz que o brasileiro chegou "escoltado por uma poderosa comitiva de empresários".
"A diferença é que, para Lula, é basicamente uma viagem de negócios, não propõe reformas gigantescas; para Chávez todo dia é dia de transformação", disse Larry Birns, diretor do esquerdista Council on Hemispheric Affairs (EUA), ao "Christian Science Monitor".
Parece ser essa a imagem que Chávez quer cultivar, ou como escreveu seu apoiador, o anglo-paquistanês Tariq Ali: "Venezuela, Equador e Bolívia são o eixo da esperança"; Brasil, Chile e México, o da desesperança.

Petrocaribe
Mas os líderes latinos, principalmente dos países menores, não vêem em condições de escolher lados ideológicos ou energéticos. O presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, que diz querer produzir álcool na ilha, explicou ao chegar em Caracas, na sexta: "Isso não deve ser um tema de conflito com a Venezuela, país ao qual só temos a agradecer".
Fernández e os representantes da Jamaica e Nicarágua, países visitados por Lula, estavam ontem na Venezuela para a cúpula da Petrocaribe. Trata-se da iniciativa inaugural da "petrodiplomacia". Pela Petrocaribe, criada em 2005, Chávez financia petróleo barato a 13 países. Ontem, ele prometeu "segurança energética por 200 anos" aos participantes.
Mas a tragédia é que nem assim a República Dominicana consegue pagar e por isso quer "ficar menos dependente dos combustíveis fósseis". Sua dívida com Caracas a ser saldada até 2009 é de US$ 23 milhões. E Fernández tem uma proposta: trocá-la por turismo. Recrutados por uma agência estatal, venezuelanos passariam as férias na ilha gastando pouco.
O governo Chávez não disse o que pensa da troca inusitada, mas é de se esperar mais grita da oposição, que protesta pelos "presentes" dados aos aliados.


Com agências internacionais



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