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Cobertura chavista sobre turnê de Lula faz crítica ao álcool
Chávez abandona ataques diretos a programa em discursos, mas boletins questionam combustível como alternativa "limpa"
Líderes de Nicarágua e Jamaica, países visitados por Lula na semana
passada, vão a Caracas
buscar petróleo barato
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
Foi mais uma turnê de Hugo
Chávez: carregada da retórica
bolivariana e de anúncios de investimentos energéticos, uma
vez que o venezuelano já declarou seu horror a reuniões diplomáticas que acabam sem cifras a divulgar. Se todas saírem
do papel, serão consumidos ao
menos US$ 6,2 bilhões.
Chávez, porém, não bradou
contra a política do álcool, a
grande aposta brasileira, à diferença do que fez em seu último
giro pela região em maio, excitado pela visita de George W.
Bush ao Brasil e à região.
"Parece-me que Lula e Chávez estão tentando baixar o
tom da disputa. O venezuelano
viu que ser agressivo não estava
dando certo", diz o economista
argentino Mariano Lamothe.
Mas se o enfrentamento do
petróleo e gás contra o álcool
saiu explicitamente do discurso do venezuelano, continuou
tomando espaço em sua comunicação e foi captado pelos aliados, que tentam se equilibrar.
A divulgação chavista explicitou as diferenças entre o giro
de Chávez e a turnê do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
na América Central. O boletim
"Venezuela em Notícias" trouxe texto sobre a visita de Lula à
Nicarágua. Destacou: "Lula
chamou Daniel Ortega para subir no trem dos agrocombustíveis. Apesar de receber bem a
oferta, o sandinista disse que é
"crime" usar milho para produzir combustível". O texto ainda
questiona a tese de Lula sobre o
álcool: "Não está comprovado
que essa energia alternativa polua menos que a gasolina".
No site da agência de notícias
oficial, por sua vez, reportagem
sobre a visita de Lula ao Panamá diz que o brasileiro chegou
"escoltado por uma poderosa
comitiva de empresários".
"A diferença é que, para Lula,
é basicamente uma viagem de
negócios, não propõe reformas
gigantescas; para Chávez todo
dia é dia de transformação",
disse Larry Birns, diretor do esquerdista Council on Hemispheric Affairs (EUA), ao
"Christian Science Monitor".
Parece ser essa a imagem que
Chávez quer cultivar, ou como
escreveu seu apoiador, o anglo-paquistanês Tariq Ali: "Venezuela, Equador e Bolívia são o
eixo da esperança"; Brasil, Chile e México, o da desesperança.
Petrocaribe
Mas os líderes latinos, principalmente dos países menores,
não vêem em condições de escolher lados ideológicos ou
energéticos. O presidente da
República Dominicana, Leonel
Fernández, que diz querer produzir álcool na ilha, explicou ao
chegar em Caracas, na sexta:
"Isso não deve ser um tema de
conflito com a Venezuela, país
ao qual só temos a agradecer".
Fernández e os representantes da Jamaica e Nicarágua,
países visitados por Lula, estavam ontem na Venezuela para
a cúpula da Petrocaribe. Trata-se da iniciativa inaugural da
"petrodiplomacia". Pela Petrocaribe, criada em 2005, Chávez
financia petróleo barato a 13
países. Ontem, ele prometeu
"segurança energética por 200
anos" aos participantes.
Mas a tragédia é que nem assim a República Dominicana
consegue pagar e por isso quer
"ficar menos dependente dos
combustíveis fósseis". Sua dívida com Caracas a ser saldada
até 2009 é de US$ 23 milhões. E
Fernández tem uma proposta:
trocá-la por turismo. Recrutados por uma agência estatal, venezuelanos passariam as férias
na ilha gastando pouco.
O governo Chávez não disse o
que pensa da troca inusitada,
mas é de se esperar mais grita
da oposição, que protesta pelos
"presentes" dados aos aliados.
Com agências internacionais
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