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Advogados decidirão divisão do Ártico
Disputa entre cinco países por posse do subsolo marítimo rico em petróleo dependerá de avaliação jurídica da ONU
Apesar de ter fincado bandeira no fundo do mar, Rússia tem de se valer de tratado firmado em 1982, não assinado pelos EUA
MICHAEL PEEL
DANIEL DOMBEY
DO "FINANCIAL TIMES"
A batalha internacional pelo
território ártico pode parecer
uma briga de bar no Velho Oeste, mas a verdadeira disputa pela supremacia provavelmente
dependerá mais de argumentos
jurídicos e dados sísmicos do
que de confrontos entre quebra-gelos e submarinos.
Enquanto o Canadá revela
planos para uma base militar e
a Rússia deposita uma bandeira
de titânio no leito do mar, os
advogados alegam que o verdadeiro centro da disputa é um
obscuro órgão ligado à ONU, a
Comissão sobre os Limites da
Plataforma Continental.
A comissão é a autoridade
mundial que determinará que
porção de território os cinco interessados no leito do oceano
Ártico -Canadá, Dinamarca,
EUA, Noruega e Rússia- receberão para fins de exploração
petroleira e outros usos.
Robert Volterra, sócio do escritório de advocacia Latham &
Watkins, diz que os casos que
países apresentarem à comissão nos próximos anos provavelmente terão mais influência
sobre o futuro do Ártico do que
a colocação de uma bandeira,
que tinha por objetivo basicamente influenciar a política interna da Rússia.
"Existe um corpo doutrinário consistente na lei internacional", diz Volterra. "Não estamos mais na Era dos Descobrimentos."
Advogados e cientistas dizem
que a mais recente missão ártica da Rússia foi muito importante em função das oportunidades que criou para a obtenção de novos dados geofísicos e
geológicos que sirvam de base
às pretensões do país de estender seus direitos territoriais.
Rússia e Noruega já apresentaram pedidos de extensão territorial à comissão da plataforma continental; espera-se que
Canadá e Dinamarca sigam-lhes o exemplo em breve.
Unclos
A comissão composta por
cientistas e especialistas em direito tem a responsabilidade de
implementar a Convenção sobre Lei Marítima das Nações
Unidas (Unclos), adotada em
1982, o principal acordo internacional quanto a esse assunto.
A Unclos concede aos países
o direito de explorar o leito marítimo até uma extensão de 200
milhas (cerca de 370 km) de
seus territórios, com a opção de
uma extensão ainda mais ampla, caso sejam capazes de provar que as plataformas continentais originadas em suas
massas terrestres se estendem
mar adentro.
Os Estados têm a obrigação
de apresentar esses pedidos de
extensão até no máximo dez
anos depois de sua adesão ao
tratado, o que significa que o
Canadá tem prazo até 2013 e a
Dinamarca até 2014.
A complicação que afeta a
Unclos é a relutância de Washington em se submeter à autoridade da ONU, por meio da ratificação de um tratado aprovado pela maioria dos demais países. Os advogados dizem que isso cria um dilema para os EUA.
Embora o país mantenha sua
autonomia ao rejeitar o tratado, isso potencialmente limita
sua solicitação de direitos sobre o limite de 200 milhas.
Alguns políticos em Washington tentam persuadir o
Congresso a aprovar a Unclos e
garantir que o governo americano tenha influência sobre a
adjudicação das disputas sobre
o Ártico.
O presidente George W.
Bush solicitou que o Senado ratifique o tratado.
Mas o acordo que o presidente e também republicano Ronald Reagan um dia rejeitou
continua a incomodar alguns
conservadores, que o vêem como uma tentativa de subordinar a soberania dos EUA a entidades supranacionais.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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