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TV iraniana acusa EUA de usar Sakineh em complô
Jornal exibe rara reportagem do caso e acusa mídia de difundir mentiras
Emissora ligada ao líder supremo acusa "Israel e EUA" de usar a sentença para pressionar soltura de supostos espiões
GABRIELA MANZINI
DE SÃO PAULO
O noticiário da TV iraniana
rompeu o silêncio ontem e
exibiu uma reportagem sobre Sakineh Ashtiani, a iraniana condenada a morrer
apedrejada por adultério.
O jornal "20:30", do Seda
Va Sima, caiu na internet
poucas horas após ir ao ar.
Ele acusa a mídia internacional de ser "ferramenta política" para "Israel e os EUA"
pressionarem pela libertação
de três cidadãos americanos
presos no Irã há um ano sob
acusação de espionagem.
"Mas qual é a razão da propaganda internacional sobre
o caso? Será que Israel e os
EUA, incluindo [a secretária
de Estado americana] Hillary
Clinton, se preocupam com a
vida de Sakineh?", questiona
o apresentador.
São exibidas imagens das
TVs americanas CNN e Fox
News e da britânica BBC, e o
apresentador as acusa de
"desrespeitar o princípio básico de informar as pessoas".
O noticiário exibiu trechos
de uma entrevista com Sakineh na qual a mulher que foi
identificada como a ré aparece quase totalmente coberta
por um véu islâmico e com o
rosto desfigurado por recurso de computação. Ela ainda
tem a voz dublada, já que Sakineh fala turco, e não farsi.
Nas declarações, "Sakineh" dá detalhes sobre o dia
em que o marido foi assassinado e ataca o próprio advogado, Mohammad Mostafaei.
Mas não se diz nem culpada
nem inocente, e isso apenas
dias antes de a Suprema Corte decidir se ela será mesmo
morta e, em caso afirmativo,
se apedrejada ou enforcada.
"Por que ele [Mostafaei] divulga minha história na TV?
Por que ele brinca com a minha reputação?", diz a entrevistada. "Parte dos meus familiares não sabia que eu estava na prisão", argumenta.
Mostafaei é um notório defensor dos direitos humanos
no Irã, de onde fugiu no fim
do mês passado, depois de
ser interrogado pelas autoridades e ter a mulher presa
sem motivo aparente. O advogado fugiu para a Turquia,
de onde foi mandado para a
Noruega, onde pede asilo.
CRIME
Na entrevista, Sakineh admite ter mantido contato por
telefone, em 2005, durante
dois meses, com um primo
do marido que dizia querer
matá-lo.
"Ele tentou me enganar
com o seu idioma. Ele disse
"eu farei isso por você, me
preocupo com você'", contou. "Ele me disse: "vamos
matar seu marido", mas eu
nunca acreditei. Pensei que
fosse uma piada."
Na sequência, Malek Ajdar
Sharifi, o chefe do Judiciário
da Província de Azerbaijão
do Leste, responsável pelo
caso, acusa Sakineh de ter
dado uma injeção anestésica
no marido para que o assassino pudesse, então, conectar
fios e matá-lo eletrocutado.
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