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Comerciante é leal ao Hizbollah e a futebol do Brasil
DO ENVIADO A TALOUSSA (LÍBANO)
Quando Jalal deixou o vilarejo libanês de Taloussa,
aos 16 anos, Israel ainda ocupava a região, a fronteira passava a poucos metros de sua
casa e as chances de vencer
na vida pareciam escassas.
Levado por um irmão que
havia se mudado anos antes
para a Tríplice Fronteira, Jalal se juntou aos milhares de
libaneses xiitas que decidiram tentar a vida em Foz de
Iguaçu, movido pelo sonho
de fazer um pé de meia com
comércio.
Dezesseis anos depois, Jalal voltou à aldeia natal, mas
está mais dividido do que
nunca. Na parede da sala,
uma foto do líder do Hizbollah, Hassan Nasrallah. Na
entrada da casa, uma bandeira do Brasil, que ele deixou mesmo após a eliminação da seleção na Copa.
"Não perco nenhum jogo
da seleção e nem do São Paulo, mesmo tendo de ficar
acordado até 4h da manhã
ouvindo na internet", conta
Jalal, 32, que se diz "tricolor
roxo".
De volta a Taloussa com a
mulher libanesa e a filha Fátima, de um mês, Jalal confessa que está desambientado. Lembra-se com saudade
da adolescência em Foz do
Iguaçu, onde aproveitava o
clima bem mais liberal e agitado para sair toda noite com
os amigos.
Dos 16 anos que ficou fora
do país natal, passou 12 em
Foz e quatro em Ciudad del
Este, no lado paraguaio da
fronteira, onde tem uma loja
de produtos eletrônicos.
As saudades são aliviadas
pelo "clima brasileiro" que
encontrou na volta ao sul do
Líbano. Símbolos da seleção
disputam as paredes e postes
com ícones xiitas, como o xeque Mohammed Hussein Fadlallah, morto recentemente.
Leal ao Hizbollah e à resistência, Jalal não teme ser vítima de um bombardeio israelense. "A gente só morre uma
vez", diz, com ar despreocupado. Mas confessa: se houver uma nova guerra vai pegar a família e fugir para o
Brasil.
(MN)
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