São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2010

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Comerciante é leal ao Hizbollah e a futebol do Brasil

DO ENVIADO A TALOUSSA (LÍBANO)

Quando Jalal deixou o vilarejo libanês de Taloussa, aos 16 anos, Israel ainda ocupava a região, a fronteira passava a poucos metros de sua casa e as chances de vencer na vida pareciam escassas.
Levado por um irmão que havia se mudado anos antes para a Tríplice Fronteira, Jalal se juntou aos milhares de libaneses xiitas que decidiram tentar a vida em Foz de Iguaçu, movido pelo sonho de fazer um pé de meia com comércio.
Dezesseis anos depois, Jalal voltou à aldeia natal, mas está mais dividido do que nunca. Na parede da sala, uma foto do líder do Hizbollah, Hassan Nasrallah. Na entrada da casa, uma bandeira do Brasil, que ele deixou mesmo após a eliminação da seleção na Copa.
"Não perco nenhum jogo da seleção e nem do São Paulo, mesmo tendo de ficar acordado até 4h da manhã ouvindo na internet", conta Jalal, 32, que se diz "tricolor roxo".
De volta a Taloussa com a mulher libanesa e a filha Fátima, de um mês, Jalal confessa que está desambientado. Lembra-se com saudade da adolescência em Foz do Iguaçu, onde aproveitava o clima bem mais liberal e agitado para sair toda noite com os amigos.
Dos 16 anos que ficou fora do país natal, passou 12 em Foz e quatro em Ciudad del Este, no lado paraguaio da fronteira, onde tem uma loja de produtos eletrônicos.
As saudades são aliviadas pelo "clima brasileiro" que encontrou na volta ao sul do Líbano. Símbolos da seleção disputam as paredes e postes com ícones xiitas, como o xeque Mohammed Hussein Fadlallah, morto recentemente.
Leal ao Hizbollah e à resistência, Jalal não teme ser vítima de um bombardeio israelense. "A gente só morre uma vez", diz, com ar despreocupado. Mas confessa: se houver uma nova guerra vai pegar a família e fugir para o Brasil. (MN)


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