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ALERTA
Poderio militar americano não impede ataque isolado
Potência capaz de bombardear qualquer país se vê incapaz diante da falta de informações detalhadas sobre as atividades de terroristas
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um orçamento militar de US$
300 bilhões por ano não bastou
para que os norte-americanos impedissem os atentados de ontem.
Os EUA têm condições de facilmente bombardearem qualquer
ponto do planeta -são o único
país capaz disso. Mas qualquer
ataque imediato constitui mais
uma vingança mal planejada do
que um ataque eficaz.
O maior obstáculo para os EUA
impedirem atentados terroristas
-e mesmo reagirem a eles- é a
falta de "inteligência", isto é, informações detalhadas sobre suas
atividades. Grupos terroristas são
notoriamente difíceis de serem
infiltrados por agentes secretos, e
isso é ainda mais difícil no caso de
serem fundamentalistas religiosos dispostos a se matarem pela
causa.
Unidades americanas em todo o
mundo foram colocadas em estado de alerta iminente, conhecido
como "delta" no jargão militar
americano. Muito das reações
americanas ainda tem como base
a idéia de um outro país como inimigo. Países inimigos são vulneráveis a ataques à sua infra-estrutura econômica, como foi o caso
da Iugoslávia submetida a ataques aéreos na crise de Kosovo.
Frotas de porta-aviões da Marinha dos EUA rondam os mares
do mundo, capazes de intervir rapidamente contra qualquer país.
Bombardeiros de longo alcance
equipados com mísseis de cruzeiro -aviões sem piloto que voam
em altitudes baixas- estão de
prontidão para atacar qualquer
alvo selecionado.
Mísseis de cruzeiro como o Tomahawk são a resposta mais simples, disponíveis em submarinos
de propulsão nuclear e capazes de
lançar ataques a centenas de quilômetros de distância.
Em 1986, os americanos bombardearam a Líbia. Em 1998, os
americanos bombardearam o Sudão e o Afeganistão. Usar aviões
contra países que supostamente
dariam auxílio a terroristas é uma
opção de vingança, se for possível
associar o alvo aos atentados.
Mas como fazer em relação a
pequenos grupos de indivíduos
capazes de sequestrar aviões nas
principais cidades americanas e
arremessá-los contra alvos selecionados?
Uma operação usando forças
especiais para capturar terroristas
também é possível. Desde que a
inteligência esteja disponível, essas forças também podem se mover rapidamente por via aérea ou
usando bases nos porta-aviões.
A incapacidade americana tanto de se defender contra um ataque terrorista como de atacar
prontamente os responsáveis ficou clara ontem com uma das
medidas tomadas ontem: navios
da Marinha americana se posicionaram ao longo da Costa Leste do
país para defender o país de um
novo "ataque aéreo".
Ora, os aviões utilizados foram
sequestrados dentro do próprio
território americano. A movimentação dos navios é um bom
exemplo de como o terror consegue encostar uma potência militar na parede, deixando-a completamente na defensiva, apenas
esperando os ataques.
Os acontecimentos de ontem
mostram que nem seria preciso
uma "arma de destruição maciça"
-nuclear, química ou biológica- para causar danos traumáticos. Bastou reunir duas das armas
do terrorismo internacional em
uma só: o sequestro de aviões e o
carro-bomba.
A incapacidade de reagir contra
um inimigo visível é particularmente frustrante para os militares
americanos quando se compara
com o que aconteceu depois do
ataque traiçoeiro japonês a Pearl
Harbor, em 1941. Os EUA construíram então a maior máquina
militar de todos os tempos para se
vingar dos japoneses e dos seus
aliados alemães.
Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online
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