São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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ALERTA

Poderio militar americano não impede ataque isolado

Potência capaz de bombardear qualquer país se vê incapaz diante da falta de informações detalhadas sobre as atividades de terroristas

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um orçamento militar de US$ 300 bilhões por ano não bastou para que os norte-americanos impedissem os atentados de ontem. Os EUA têm condições de facilmente bombardearem qualquer ponto do planeta -são o único país capaz disso. Mas qualquer ataque imediato constitui mais uma vingança mal planejada do que um ataque eficaz.
O maior obstáculo para os EUA impedirem atentados terroristas -e mesmo reagirem a eles- é a falta de "inteligência", isto é, informações detalhadas sobre suas atividades. Grupos terroristas são notoriamente difíceis de serem infiltrados por agentes secretos, e isso é ainda mais difícil no caso de serem fundamentalistas religiosos dispostos a se matarem pela causa.
Unidades americanas em todo o mundo foram colocadas em estado de alerta iminente, conhecido como "delta" no jargão militar americano. Muito das reações americanas ainda tem como base a idéia de um outro país como inimigo. Países inimigos são vulneráveis a ataques à sua infra-estrutura econômica, como foi o caso da Iugoslávia submetida a ataques aéreos na crise de Kosovo.
Frotas de porta-aviões da Marinha dos EUA rondam os mares do mundo, capazes de intervir rapidamente contra qualquer país. Bombardeiros de longo alcance equipados com mísseis de cruzeiro -aviões sem piloto que voam em altitudes baixas- estão de prontidão para atacar qualquer alvo selecionado.
Mísseis de cruzeiro como o Tomahawk são a resposta mais simples, disponíveis em submarinos de propulsão nuclear e capazes de lançar ataques a centenas de quilômetros de distância.
Em 1986, os americanos bombardearam a Líbia. Em 1998, os americanos bombardearam o Sudão e o Afeganistão. Usar aviões contra países que supostamente dariam auxílio a terroristas é uma opção de vingança, se for possível associar o alvo aos atentados.
Mas como fazer em relação a pequenos grupos de indivíduos capazes de sequestrar aviões nas principais cidades americanas e arremessá-los contra alvos selecionados?
Uma operação usando forças especiais para capturar terroristas também é possível. Desde que a inteligência esteja disponível, essas forças também podem se mover rapidamente por via aérea ou usando bases nos porta-aviões.
A incapacidade americana tanto de se defender contra um ataque terrorista como de atacar prontamente os responsáveis ficou clara ontem com uma das medidas tomadas ontem: navios da Marinha americana se posicionaram ao longo da Costa Leste do país para defender o país de um novo "ataque aéreo".
Ora, os aviões utilizados foram sequestrados dentro do próprio território americano. A movimentação dos navios é um bom exemplo de como o terror consegue encostar uma potência militar na parede, deixando-a completamente na defensiva, apenas esperando os ataques.
Os acontecimentos de ontem mostram que nem seria preciso uma "arma de destruição maciça" -nuclear, química ou biológica- para causar danos traumáticos. Bastou reunir duas das armas do terrorismo internacional em uma só: o sequestro de aviões e o carro-bomba.
A incapacidade de reagir contra um inimigo visível é particularmente frustrante para os militares americanos quando se compara com o que aconteceu depois do ataque traiçoeiro japonês a Pearl Harbor, em 1941. Os EUA construíram então a maior máquina militar de todos os tempos para se vingar dos japoneses e dos seus aliados alemães.

Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online


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