São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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AFEGANISTÃO

Taleban condena ataques e defende líder extremista

Para chanceler, país é "vítima de ataques dos meios de comunicação"

Para o grupo que controla o país, terror é inaceitável

Reuters
Em Cabul, o chanceler do Afeganistão, Wakil Ahmed Mutawakel (esq.), conversa com seus assessores antes de se pronunciar sobre os atentados em NY e Washington


DA REDAÇÃO

O grupo extremista islâmico Taleban, que controla quase todo o território do Afeganistão, condenou os ataques terroristas nos Estados Unidos e rechaçou as suspeitas de que o extremista saudita Osama bin Laden possa ter sido o autor intelectual dos ataques.
Queixando-se de que o Taleban tem sido "vítima de ataques dos meios de comunicação internacional", o ministro das Relações Exteriores do Afeganistão, Wakil Ahmed Mutawakel, declarou, em entrevista à rede de TV CNN, que "nenhum ato terrorista pode ser aceito sob nenhuma lógica".
Embora as autoridades norte-americanas ainda não tenham acusado ninguém de orquestrar os ataques de ontem, Bin Laden, supostamente refugiado no Afeganistão, é suspeito.
Segundo disse em Londres Abdu Bari Atwan, chefe de redação do diário árabe "Al Quds Al Arabi" (Jerusalém Árabe), o extremista teria dito há três semanas que iria levar a cabo "ataques muito grandes" contra alvos norte-americanos.
Citando fontes "muito boas", o jornalista, que é conhecido por ser um dos poucos com acesso a Bin Laden, declarou que a série de atentados "é seguramente obra de extremistas islâmicos".

Embaixadas
O terrorista saudita é acusado por Washington de ser o mentor dos ataques a duas embaixadas norte-americanas na África em 1998, que deixaram 224 mortos e milhares de feridos. Em represália, os Estados Unidos bombardearam o Afeganistão naquele ano.
Saindo em defesa do extremista, o porta-voz do Taleban em Kandahar (cidade do sul do Afeganistão), Abdul Hai Mutmaen, disse que "uma conspiração tão grande, uma infiltração de tamanha magnitude, é impossível para Osama [bin Laden"".
Mutmaen acrescentou que o saudita não possui instalações para coordenar uma ação dessas dimensões dentro dos Estados Unidos.
No Paquistão, o embaixador do Taleban Abdul Salam Zaeef também afirmou ser contrário aos ataques. "É um ato terrorista e nós o condenamos", disse.
Tropas soviéticas invadiram o Afeganistão em 1979 para manter o Partido Democrático Popular do Afeganistão (marxista) no poder.
Os mujahidin, grupos guerrilheiros islâmicos que controlavam o interior do país, combateram os soviéticos e forçaram sua retirada, iniciada em 1988. Em abril de 1992, diversos grupos rebeldes, incluindo o do líder da oposição Ahmed Massoud, capturaram a capital, Cabul.
Em setembro de 1996, o grupo extremista islâmico Taleban tomou a capital. Atualmente, controla mais de 90% do território do país. O Taleban baniu cinema, TV, parabólicas e música no Afeganistão.

Enforcamento
O grupo extremista afegão enforcou publicamente, no mês passado, quatro homens condenados por realizar ataques a bomba em Cabul, a capital do país.
"Eles são inimigos do islamismo e do Afeganistão. Enforcá-los deve servir como uma boa lição para outros", disse um militante do Taleban.
Os corpos dos quatro homens foram pendurados em Cabul em uma torre de orientação de trânsito perto do palácio presidencial, onde o grupo extremista havia executado o presidente aliado da ex-União Soviética Najibullah.
A rádio Voz de Sharia, controlada pelo Taleban, disse que uma série de explosões de bombas no ano passado havia causado "perdas de vida e propriedade" em Cabul. Centenas de pessoas assistiram à execução.

Com agências internacionais

Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online


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