São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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MOTIVAÇÃO

Terroristas querem mostrar que os EUA são vulneráveis

Segundo especialista americana, extremista pertence a grupo segregado

Para Amy Sands, atentados nos EUA é muito mais do que simples vingança

DA REDAÇÃO

O objetivo do grupo terrorista responsável pelos atentados de ontem é "provar a vulnerabilidade dos Estados Unidos", demonstrar que o país pode ser atacado caso não modifique sua política interna ou externa -segundo as reivindicações dos extremistas.
A afirmação é de Amy Sands, diretora-assistente do Centro para Estudos de Não-Proliferação de Armas dos EUA.
Sands, 51, autora de obras como "Uma Ameaça Improvável" (sobre armas atômicas) e "Desafios futuros para o Controle de Armas", é especialista em terrorismo, armas de destruição em massa, incluindo armas nucleares, biológicas e químicas.
Leia a seguir trechos da entrevista que Sands concedeu à Folha. (PAULO DANIEL FARAH)

Folha - O que faz alguém aderir ao terrorismo?
Amy Sands -
As motivações variam, de extremistas religiosos a grupos que combatem o sistema vigente. O que houve ontem foi muito mais do que um indivíduo tentando se vingar dos EUA. Foi um ataque sofisticado, realizado por um grupo que tem uma visão bastante ampla de ação, que acredita ser capaz de ferir o país. Esse ataque foi organizado minuciosamente por um movimento que tem em mente muito mais do que uma simples vingança. Apesar de não sabermos quem cometeu o atentado, é claro que o grande número de mortes quer chamar a atenção para os EUA e tentar mudar sua visão. É um projeto ambicioso, muito maior do que uma simples vingança.

Folha - Qual o objetivo desse grupo? E que movimento conseguiria se engajar numa ação dessas?
Sands -
Digamos que tenha sido um movimento norte-americano, como os que defendem a supremacia branca. Estaria tentando mostrar a fraqueza do governo em proteger a população. Se tiver sido um grupo islâmico, a intenção seria retirar os EUA do Oriente Médio, fazer o país controlar menos o que ocorre ali e promover uma destruição simbólica do Ocidente. Todos tentam provar a vulnerabilidade dos EUA.

Folha - Como um movimento extremista imagina que, ao matar civis, pode obter concessões políticas ou enviar algum outro tipo de mensagem a um governo inimigo? As religiões em geral não condenam a morte de civis?
Sands -
A psicologia do terrorismo é bastante complexa. A mensagem geral é que as pessoas vão continuar a morrer e as coisas precisam mudar. Quando alguém adere ao terrorismo acredita que precisa realmente chamar a atenção. Os atos de violência assumiram proporções maiores na última década. O número de ataques diminuiu, mas a intensidade aumentou. Não se considera mais tão importante um atentado a carro-bomba, utiliza-se um caminhão-bomba ou apela-se para o sequestro de aviões.
Alguns grupos não encaram o peso de matar pessoas porque desumanizam as vítimas. Essa é a única forma de fazer isso.

Folha - É possível traçar algum tipo de perfil de um extremista?
Sands -
São pessoas eliminadas de seu própria comunidade e que encontram um grupo que pode lhes conferir uma missão. É o que acontece com um grupo nacionalista, por exemplo. São pessoas de uma comunidade segregada por algum motivo, envolvida em uma situação em que a violência faz parte do cotidiano. Passam a ter uma forma diferente de moral e valores. Isso parece lógico para quem se sente injustiçado.

Folha - Algumas pessoas acreditam então que, mesmo que seja necessário explodir a si próprias, isso seria em nome de uma causa maior que a vida e que poderia haver uma retribuição depois?
Sands -
Faz sentido para elas. Do ponto de vista religioso, acreditam que podem transcender, obter uma recompensa, não importa a religião que professem. Outros grupos acreditam simplesmente que a morte é uma forma válida para atingir os objetivos.

Folha - Não temem retaliação?
Sands -
Grupos étnicos ou nacionalistas, em especial, temem retaliações e também perder apoio popular. Mas grupos estrangeiros às vezes acreditam que atacar uma empresa a milhares de quilômetros não os prejudica. Se os EUA tiverem certeza dos autores, creio que vão retaliar.

Folha - Em Detroit, parte da população de origem árabe foi para casa com medo de retaliação...
Sands -
Infelizmente, isso pode acontecer. Temos de ter muito cuidado para não acusar ninguém injustamente. Não podemos assumir que foi um movimento árabe ou islâmico. Mas não culpo a comunidade árabe de tomar cuidado e adotar uma postura de cautela. Eles devem fazer isso. É fundamental tentar entender por que esse tipo de ação acontece, o que leva a isso. Seja um grupo doméstico ou do Oriente Médio, o importante é saber o porquê.

Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online


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