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MOTIVAÇÃO
Terroristas querem mostrar que os EUA são vulneráveis
Segundo especialista americana, extremista pertence a grupo segregado
Para Amy Sands, atentados nos EUA é muito mais do que simples vingança
DA REDAÇÃO
O objetivo do grupo terrorista
responsável pelos atentados de
ontem é "provar a vulnerabilidade dos Estados Unidos", demonstrar que o país pode ser atacado
caso não modifique sua política
interna ou externa -segundo as
reivindicações dos extremistas.
A afirmação é de Amy Sands,
diretora-assistente do Centro para Estudos de Não-Proliferação
de Armas dos EUA.
Sands, 51, autora de obras como
"Uma Ameaça Improvável" (sobre armas atômicas) e "Desafios
futuros para o Controle de Armas", é especialista em terrorismo, armas de destruição em massa, incluindo armas nucleares,
biológicas e químicas.
Leia a seguir trechos da entrevista que Sands concedeu à Folha.
(PAULO DANIEL FARAH)
Folha - O que faz alguém aderir
ao terrorismo?
Amy Sands - As motivações variam, de extremistas religiosos a
grupos que combatem o sistema
vigente. O que houve ontem foi
muito mais do que um indivíduo
tentando se vingar dos EUA. Foi
um ataque sofisticado, realizado
por um grupo que tem uma visão
bastante ampla de ação, que acredita ser capaz de ferir o país. Esse
ataque foi organizado minuciosamente por um movimento que
tem em mente muito mais do que
uma simples vingança. Apesar de
não sabermos quem cometeu o
atentado, é claro que o grande número de mortes quer chamar a
atenção para os EUA e tentar mudar sua visão. É um projeto ambicioso, muito maior do que uma
simples vingança.
Folha - Qual o objetivo desse grupo? E que movimento conseguiria
se engajar numa ação dessas?
Sands - Digamos que tenha sido
um movimento norte-americano,
como os que defendem a supremacia branca. Estaria tentando
mostrar a fraqueza do governo
em proteger a população. Se tiver
sido um grupo islâmico, a intenção seria retirar os EUA do Oriente Médio, fazer o país controlar
menos o que ocorre ali e promover uma destruição simbólica do
Ocidente. Todos tentam provar a
vulnerabilidade dos EUA.
Folha - Como um movimento extremista imagina que, ao matar civis, pode obter concessões políticas ou enviar algum outro tipo de
mensagem a um governo inimigo?
As religiões em geral não condenam a morte de civis?
Sands - A psicologia do terrorismo é bastante complexa. A mensagem geral é que as pessoas vão
continuar a morrer e as coisas
precisam mudar. Quando alguém
adere ao terrorismo acredita que
precisa realmente chamar a atenção. Os atos de violência assumiram proporções maiores na última década. O número de ataques
diminuiu, mas a intensidade aumentou. Não se considera mais
tão importante um atentado a
carro-bomba, utiliza-se um caminhão-bomba ou apela-se para o
sequestro de aviões.
Alguns grupos não encaram o
peso de matar pessoas porque desumanizam as vítimas. Essa é a
única forma de fazer isso.
Folha - É possível traçar algum tipo de perfil de um extremista?
Sands - São pessoas eliminadas
de seu própria comunidade e que
encontram um grupo que pode
lhes conferir uma missão. É o que
acontece com um grupo nacionalista, por exemplo. São pessoas de
uma comunidade segregada por
algum motivo, envolvida em uma
situação em que a violência faz
parte do cotidiano. Passam a ter
uma forma diferente de moral e
valores. Isso parece lógico para
quem se sente injustiçado.
Folha - Algumas pessoas acreditam então que, mesmo que seja necessário explodir a si próprias, isso
seria em nome de uma causa maior
que a vida e que poderia haver uma
retribuição depois?
Sands - Faz sentido para elas. Do
ponto de vista religioso, acreditam que podem transcender, obter uma recompensa, não importa a religião que professem. Outros grupos acreditam simplesmente que a morte é uma forma
válida para atingir os objetivos.
Folha - Não temem retaliação?
Sands - Grupos étnicos ou nacionalistas, em especial, temem
retaliações e também perder
apoio popular. Mas grupos estrangeiros às vezes acreditam que
atacar uma empresa a milhares de
quilômetros não os prejudica. Se
os EUA tiverem certeza dos autores, creio que vão retaliar.
Folha - Em Detroit, parte da população de origem árabe foi para
casa com medo de retaliação...
Sands - Infelizmente, isso pode
acontecer. Temos de ter muito
cuidado para não acusar ninguém
injustamente. Não podemos assumir que foi um movimento árabe ou islâmico. Mas não culpo a
comunidade árabe de tomar cuidado e adotar uma postura de
cautela. Eles devem fazer isso. É
fundamental tentar entender por
que esse tipo de ação acontece, o
que leva a isso. Seja um grupo doméstico ou do Oriente Médio, o
importante é saber o porquê.
Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online
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