São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2010

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"A Turquia é a união de Leste e Oeste"

Ministro dos Assuntos Europeus diz que entrada no bloco continental seria "antítese do choque de civilizações"

Para Egemen Bagis, o país precisa se livrar da legislação herdada de um regime autoritário, se quiser ser aceito

Burhan Ozbilici/Associated Press
Apoiadores do voto "sim" no plebiscito constitucional no distrito de Uskudar, em Istambul, a maior cidade da Turquia

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM ISTAMBUL

O Ministro dos Assuntos Europeus da Turquia, Egemen Bagis, é o político mais jovem a chefiar um ministério no atual governo. Aos 40 anos, é ele quem tenta conquistar a tão aguardada aceitação do país pela União Europeia. Em entrevista exclusiva à Folha, Bagis explica como os resquícios do golpe militar de 1980 precisam ser apagados para que a nação turca seja finalmente aceita na UE. "Democracia mínima quer dizer desenvolvimento mínimo. Sempre que a Turquia quis fazer avanços, a Constituição do golpe militar nos puxou para trás como um ímã", afirma o ministro. (ACM)

 

Folha - Por que o pacote de mudanças tem propostas tão distintas?
Egemen Bagis -
Muitos países votam emendas em pacote. Os 27 membros da UE votaram o Tratado de Lisboa, a Constituição europeia, como um pacote. Nesse caso, nós já tínhamos votado artigo por artigo no Parlamento.

Muito se fala sobre a confiança dos investidores em caso de uma derrota no referendo. Quais seriam os benefícios econômicos da vitória?
A espinha dorsal da economia turca é o comércio com os países europeus. Conforme avançamos nas reformas da UE, o capital estrangeiro fluiu para o país. Hoje a Turquia é a sexta maior economia da Europa.
Tivemos sucesso ao fortalecer a confiança e a estabilidade. Quando você embarca no trem UE, quer dizer que você é um país democrático, transparente e estável.

A Turquia espera há 51 anos para entrar na UE. Por que isso ainda não aconteceu?
Veja os casos de Grécia, Portugal e Espanha. Todos se tornaram membros da Comunidade Europeia nos anos 80, depois de se libertarem das ditaduras, ao emendar suas Constituições herdadas dos regimes militares.
A Turquia se candidatou à UE em 1959 e temos constituição militar desde 1960, isso não pode ser uma coincidência. É hora de tomarmos a mesma decisão que esses países, ou não chegaremos a um nível de democracia compatível com padrões da UE.
Em 12 de setembro, a mentalidade do golpe deixará de existir.

A religião é uma ameaça ao projeto turco para a UE?
Busque nossa posição no mapa. Você verá que a Turquia não é a divisão entre o Leste e o Oeste, mas a união. Essa seria uma grande oportunidade para a UE provar que é um projeto pacífico. A Turquia como país-membro seria a antítese do choque de civilizações e preveniria novas polarizações no mundo.
Além disso, há milhões de cidadãos europeus muçulmanos, então isso não seria algo novo e facilitaria a integração e a compreensão mutual. Também é uma oportunidade de a UE provar se é um clube das elites cristãs ou uma união de valores.


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