|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Carter se destacou após Presidência criticada
RUPERT CORNWELL
DO "THE INDEPENDENT"
Em 1987, seis anos após o final
de uma das Presidências mais criticadas da história dos EUA,
Jimmy Carter publicou um livro
com sua mulher, Rosalynn, sobre
a vida após a Casa Branca: "Everything to Gain: Making the Most of
the Rest of Your Life" (tudo para
ganhar: fazendo o máximo do
resto de sua vida). Ontem, o título
mostrou ser uma profecia que se
cumpriu.
Em termos de redenção entre
presidentes norte-americanos,
apenas Herbert Hoover pode se
equiparar a ele -e Hoover não
ganhou o Prêmio Nobel da Paz.
Os EUA são a terra da segunda
chance. De sua maneira própria,
Carter, 78, agarrou sua segunda
chance com as duas mãos. Carter
foi um presidente acidental. Quase com certeza, ele não teria se tornado presidente em 1977 não fosse o Watergate (escândalo que
derrubou o presidente dos EUA
Richard Nixon em 1974).
Mas Carter aproveitou o anseio
nacional por um candidato que
pudesse purificar a política dos
EUA. "Confie em mim" era seu
slogan. Como presidente, porém,
Carter se tornou um microadministrador compulsivo. Sua insegurança se refletiu na "máfia da
Geórgia" (Estado que ele governou) em torno dele.
Seu maior sucesso -como deixaram claro ontem, em Oslo- foi
o acordo de Camp David. Carter
quase ganhou o Prêmio Nobel da
Paz naquele ano, em 1978, quando o primeiro-ministro Menachem Begin (Israel) e o presidente
Anwar Sadat (Egito) dividiram a
premiação pelo acordo de paz que
lideraram. O comitê queria dar a
Carter o prêmio naquele ano, mas
ele não foi formalmente nomeado
até o prazo final de fevereiro.
Mas Carter também foi um presidente azarado. O sucesso do
acordo israelo-egípcio foi eclipsado pela Revolução Islâmica, em
1979, no Irã, onde norte-americanos foram feitos reféns, e pela invasão soviética do Afeganistão,
no final de 1979. Carter não soube
como reagir à invasão soviética, e
sua fraqueza em lidar com os mulás em Teerã ficou evidente na
tentativa de resgate que fracassou
no Irã, em abril de 1980.
Observador de eleições
O comitê do Nobel elogiou Carter por seu compromisso com os
direitos humanos e por sua atuação contra doenças tropicais. Carter também "assumiu um trabalho bem amplo e perseverante para resolver conflitos em diversos
continentes... Serviu como observador em inúmeras eleições em
todos os continentes", ressaltou
ontem o comitê responsável pela
nomeação do Nobel.
O diplomata brasileiro Sérgio
Vieira de Mello, que atualmente
ocupa o cargo de alto comissário
da ONU para os direitos humanos, elogiou a premiação e disse
que pôde comprovar pessoalmente, em Timor Leste, "o compromisso de Carter com a assistência ao desenvolvimento de instituições democráticas com base
no completo respeito dos direitos
humanos".
Com agências internacionais
Texto Anterior: Homenagem: Crítico a Bush, Carter leva o Nobel da Paz Próximo Texto: Guerra à vista: EUA têm plano para ocupação do Iraque Índice
|