São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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Carter se destacou após Presidência criticada

RUPERT CORNWELL
DO "THE INDEPENDENT"

Em 1987, seis anos após o final de uma das Presidências mais criticadas da história dos EUA, Jimmy Carter publicou um livro com sua mulher, Rosalynn, sobre a vida após a Casa Branca: "Everything to Gain: Making the Most of the Rest of Your Life" (tudo para ganhar: fazendo o máximo do resto de sua vida). Ontem, o título mostrou ser uma profecia que se cumpriu.
Em termos de redenção entre presidentes norte-americanos, apenas Herbert Hoover pode se equiparar a ele -e Hoover não ganhou o Prêmio Nobel da Paz.
Os EUA são a terra da segunda chance. De sua maneira própria, Carter, 78, agarrou sua segunda chance com as duas mãos. Carter foi um presidente acidental. Quase com certeza, ele não teria se tornado presidente em 1977 não fosse o Watergate (escândalo que derrubou o presidente dos EUA Richard Nixon em 1974).
Mas Carter aproveitou o anseio nacional por um candidato que pudesse purificar a política dos EUA. "Confie em mim" era seu slogan. Como presidente, porém, Carter se tornou um microadministrador compulsivo. Sua insegurança se refletiu na "máfia da Geórgia" (Estado que ele governou) em torno dele.
Seu maior sucesso -como deixaram claro ontem, em Oslo- foi o acordo de Camp David. Carter quase ganhou o Prêmio Nobel da Paz naquele ano, em 1978, quando o primeiro-ministro Menachem Begin (Israel) e o presidente Anwar Sadat (Egito) dividiram a premiação pelo acordo de paz que lideraram. O comitê queria dar a Carter o prêmio naquele ano, mas ele não foi formalmente nomeado até o prazo final de fevereiro.
Mas Carter também foi um presidente azarado. O sucesso do acordo israelo-egípcio foi eclipsado pela Revolução Islâmica, em 1979, no Irã, onde norte-americanos foram feitos reféns, e pela invasão soviética do Afeganistão, no final de 1979. Carter não soube como reagir à invasão soviética, e sua fraqueza em lidar com os mulás em Teerã ficou evidente na tentativa de resgate que fracassou no Irã, em abril de 1980.

Observador de eleições
O comitê do Nobel elogiou Carter por seu compromisso com os direitos humanos e por sua atuação contra doenças tropicais. Carter também "assumiu um trabalho bem amplo e perseverante para resolver conflitos em diversos continentes... Serviu como observador em inúmeras eleições em todos os continentes", ressaltou ontem o comitê responsável pela nomeação do Nobel.
O diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que atualmente ocupa o cargo de alto comissário da ONU para os direitos humanos, elogiou a premiação e disse que pôde comprovar pessoalmente, em Timor Leste, "o compromisso de Carter com a assistência ao desenvolvimento de instituições democráticas com base no completo respeito dos direitos humanos".


Com agências internacionais


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