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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Líder anuncia a criação de governo xiita em desafio aos EUA

Cresce ação xiita contra a ocupação americana

Jamal Saidi/Reuters
FOGO Notas de 10 mil dinares com imagem de Saddam Hussein são queimadas; os iraquianos terão três meses para trocar as antigas notas, com imagens do ex-ditador, por novas, com imagens de um líder da antiga Babilônia e de um matemático iraquiano do século 10


DA REDAÇÃO

Setores da maioria xiita do Iraque vêm aumentando sua retórica anti-EUA, em nova ameaça à ocupação norte-americana do país. Um dos principais líderes xiitas anunciou a formação de um governo xiita, em desafio ao Conselho de Governo Iraquiano, empossado pelos EUA e submetido a Washington.
A formação do governo foi anunciada pelo jovem líder xiita Muqtada al Sadr, de uma tradicional família de líderes religiosos iraquianos. Apesar de o Conselho ser formado majoritariamente por xiitas, o grupo de Sadr não está representado.
"Decidi formar um gabinete que inclua os ministérios da Justiça, das Finanças, da Informação, do Interior, das Relações Exteriores, da Promoção da Virtude e da Prevenção ao Vício", disse Sadr. "Se vocês aceitarem [o gabinete], peço que se manifestem pacificamente", acrescentou.
Em Najaf, cidade xiita 150 km ao sul de Bagdá, cerca de 150 pessoas manifestaram apoio ao "governo" de Sadr ontem. Em Karbala, outra cidade xiita, pode haver novo apoio em cerimônia religiosa marcada para hoje.
Anteontem, até 10 mil pessoas protestaram contra os EUA em Sadr City, bairro xiita de Bagdá com cerca de 2 milhões de moradores, antes chamado Saddam City e rebatizado com o nome do pai de Sadr, assassinado em 1999 pelo regime de Saddam Hussein.
O xeque Abdul-Hadi al Daraji, assessor de Sadr, pediu aos manifestantes que não permitam a presença de soldados americanos no bairro. "América, que se diz apoiadora da democracia, não passa de uma grande organização terrorista", disse ele.
Durante o regime de Saddam, um sunita, a maioria xiita do país foi implacavelmente reprimida.
Nos seis meses de ocupação do Iraque, a maior ameaça às tropas invasoras veio de criminosos comuns e de simpatizantes de Saddam. A maioria xiita vinha sendo mais simpática aos EUA.
As tensões entre os ocupantes e os seguidores de Sadr, de cerca de 30 anos, vêm crescendo nos últimos dias, após a prisão de um clérigo de seu grupo, acusado de esconder armas e um carro-bomba que explodiu na quinta-feira diante de delegacia iraquiana em Sadr City, matando oito pessoas e o terrorista suicida. Horas depois, tropas dos EUA cercaram a sede do grupo de Sadr e, segundo testemunhas, levaram armas e agrediram seus seguidores. Mais tarde, dois americanos e dois iraquianos morreram em choques.
Apesar da visibilidade de Sadr, há dúvidas em relação à sua influência sobre os xiitas, muitos dos quais seguem líderes mais moderados. Mesmo em Sadr City é fácil encontrar xiitas que falam abertamente contra ele. O comando americano disse que seguirá patrulhando o bairro xiita.
As autoridades americanas vêm acompanhando os passos de Sadr com cuidado, por causa de sua retórica anti-EUA, seus laços estreitos com clérigos conservadores do Irã e sua insistência em estabelecer um Estado islâmico no Iraque. Ele comanda uma milícia, Jaish al Mahdi, que circulou portando armas por Sadr City nos últimos dias, apesar de os EUA proibirem esse tipo de grupo.

Com agências internacionais e "The New York Times"


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