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RESISTÊNCIA
Tradicional produto de cortiça do Alentejo disputa garrafas de vinho pelo mundo com tampas de rosca e rolha sintética
Rolha portuguesa desafia rivais modernos
JOHN TAGLIABUE
DO "NEW YORK TIMES",
EM AZARUJA, PORTUGAL
Esta é uma terra que conhece
seu inimigo -e ele toma vinho
tinto de uma garrafa fechada com
tampa de rosca.
Estamos na terra da cortiça. Sobreiros verde-prateados pontilham a paisagem ressecada. Os vilarejos de casas caiadas são cercados por fábricas onde se corta, ferve e amarra a cortiça em feixes. Os
presuntos e as linguiças da região
são feitos dos porcos que vagam
soltos pelos quintais, alimentando-se dos frutos dos sobreiros.
Rolhas de cortiça fecham as garrafas dos vinhos locais do Alentejo, que acompanham praticamente todas as refeições.
A cortiça deu certo grau de
prosperidade a essa região no
centro-sul de Portugal, que, de
outro modo, seria paupérrima.
Teresa Ortigão Ramos é descendente dos condes de Galveias. Ela
convida o visitante a conhecer
uma capela em sua propriedade,
cujas paredes são recobertas de
ex-votos retratando a vida de corticeiros locais, os primeiros deles
datando de meados do século 18,
na época em que sua família se estabeleceu na região. Isso foi apenas um século depois que o monge francês Dom Perignon pela
primeira vez fechou uma garrafa
de vinho espumante com um pedaço redondo de cortiça. Antes, as
garrafas de vinho eram tampadas
com rolhas de madeira ou chumaços de pano.
Exatamente quantos sobreiros
Teresa possui? ""Milhares", ela
responde. O administrador de sua
propriedade, Eduardo Silva, 61,
estima que ela tenha 49 mil árvores numa área de 680 hectares.
Pode-se afirmar que a cortiça é
para Portugal o que o petróleo é
para a Arábia Saudita. Mais de
metade dos US$ 2 bilhões em rolhas de cortiça produzidas anualmente no mundo têm sua origem
no país, e quase todo o restante
vem dos países mediterrâneos vizinhos. O restolho de cortiça é
usado para produzir pisos, painéis de isolamento e produtos semelhantes. Aproximadamente 16
mil portugueses trabalham na indústria da cortiça.
Concorrência
Entretanto, à medida que a produção mundial de vinho vem
crescendo, também vêm aumentando alternativas para tampar as
garrafas, como as rolhas de plástico e as tampas de rosca.
As rolhas de cortiça natural às
vezes vazam e às vezes se desfazem. Além disso, podem conferir
ao vinho um odor de mofo, estragando o que deveriam proteger.
Outro problema é que seu preço
vem subindo. Nos últimos cinco
anos, segundo Eduardo Silva, o
preço da cortiça bruta subiu de
US$ 41 ou menos por feixe padrão
de 15 quilos para até US$ 58.
Assim, os vinicultores da Austrália, da Califórnia e até mesmo
de regiões francesas como Bordeaux vêm recorrendo a alternativas. É uma batalha declarada entre os produtores de rolhas de
cortiça e seus concorrentes.
Em sites na internet e em periódicos especializados, o setor das
tampas de rosca chama a atenção
para os defeitos das rolhas de cortiça e dá destaque a testes de sabor
e pesquisas realizadas com consumidores que indicam uma preferência pela tampa de rosca.
Os fabricantes de rolhas de cortiça andam igualmente ocupados
tecendo críticas às tampas de rosca e apresentando argumentos a
seu próprio favor. Quando, por
exemplo, o Instituto Australiano
de Pesquisas Vinícolas constatou,
recentemente, que os odores borrachosos em vinhos brancos engarrafados eram mais perceptíveis em garrafas fechadas com
tampas de rosca do que nas que
utilizam rolhas de cortiça, os fabricantes de cortiça alardearam o
resultado aos quatro ventos.
Ambos os lados se irritam com
os fabricantes de rolhas sintéticas,
dizendo que estas são difíceis de
extrair das garrafas e podem conferir um sabor químico aos vinhos. Os fabricantes de rolhas
plásticas, enquanto isso, repetem
as críticas feitas às rolhas de cortiça, mas dizem que os consumidores querem que suas garrafas de
vinho abram com um estouro,
não com uma viradinha.
A casca do sobreiro é colhida
entre maio e julho. Os sobreiros
precisam ter pelo menos 40 anos
para que sua casca seja adequada
para a produção de rolhas de garrafas de vinho. A cortiça -ou seja, a casca do sobreiro- é colhida
uma vez a cada nove anos durante
o tempo de vida de cada árvore,
estimado em mais de 200 anos.
Um sobreiro médio rende cortiça
suficiente em um ano para tampar 4.000 garrafas.
Tradução de Clara Allain
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