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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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Publicação segue a trilha do conservadorismo de Bush

DA REPORTAGEM LOCAL

O sucesso da revista "Revolve" é um sinal do alcance da bandeira do "conservadorismo com compaixão" do governo de George W. Bush, segundo alguns críticos.
A sintonia entre as campanhas de Bush e o conteúdo de "Revolve" não param por aí. Além do Novo Testamento, a publicação contém dicas baseadas em princípios bíblicos. Algumas delas, no entanto, encontram forte amparo nos discursos do presidente dos EUA, como no caso da campanha do governo pelo celibato da juventude contra a Aids.
Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida à Folha por Laurie Whaley, 28, uma das editoras de "Revolve". (FM)

Folha - Como surgiu a idéia de fazer uma Bíblia nos moldes de uma revista de moda?
Laurie Whaley -
A editora Thomas Nelson tem feito Bíblias por mais de dois séculos. Há dois anos, iniciamos uma pesquisa sobre adolescentes. Perguntamos a garotas com que frequência liam a Bíblia, e a resposta que obtivemos foi que elas não a lêem. Na opinião delas, a Bíblia é "muito grande", "intimidadora" e "não faz sentido". Algumas garotas a classificaram até mesmo como "esquisita e bizarra". Quando perguntamos a elas o que efetivamente liam, a reposta foi "revistas". Foi aí que surgiu a idéia: por que não levar a mensagem da Bíblia, seu texto original, para o formato de uma revista?

Folha - Então o texto que está em "Revolve" não é adaptado?
Whaley -
Não. É o mesmo texto das Bíblias de capa de couro preto. É o Novo Testamento.

Folha - Além do texto bíblico, "Revolve" traz uma série de dicas para questões da adolescência. Como a publicação lida com temas como sexo e namoro?
Whaley -
Nós encorajamos as garotas a esperar até seu casamento para fazer sexo, o que é um princípio bíblico e é também uma tendência bastante em voga hoje entre adolescentes americanas. Sobre namoro, somos bastante neutros. Encorajamos as meninas a não levarem seus namoros tão a sério porque provavelmente aquela relação não durará para sempre. Nós recomendamos a elas que deixem que os garotos tomem as iniciativas.

Folha - Então vocês acham que garotas não devem tomar iniciativa em relação a algo que querem?
Whaley -
Para ser sincera, a razão para isso é que avaliamos que a maioria de nossas leitoras tenham entre 12 e 15 anos. Elas são muito jovens, ainda estão em formação. Queremos recomendar a elas que desenvolvam hábitos que não afetem sua reputação. Não queremos que elas sejam apontadas como assanhadas ou atiradas. É uma maneira de protegê-las.

Folha - "Revolve" também prega que as garotas se vistam com modéstia, mas traz fotos de meninas que não estão vestidas exatamente desta maneira. Por quê?
Whaley -
Acho que esse conceito de modéstia é muito subjetivo e variável. Mas eu posso dizer que há um bom número de imagens que foram trocadas na segunda edição de "Revolve" para combater as críticas nessa área. Não estamos pedindo a elas que se vistam como freiras, mas que respeitem a si mesmas. Todas as dicas giram em torno de obediência aos pais, que é um princípio bíblico, e de busca da beleza interior.

Folha - Você julga apropriado o formato de uma revista de moda para o Novo Testamento?
Whaley -
Nós pegamos a mensagem da Bíblia e a colocamos numa mídia à qual as adolescentes estão mais acostumadas. O Novo Testamento fala da vida de Jesus, que foi alguém que procurou diferentes grupos, que foi aos lugares onde os homens de diferentes culturas estavam e que fez todo o esforço possível para se comunicar com eles. E isso não coloca limites às formas como comunicamos sua mensagem hoje.

Folha - Não é um paradoxo imprimir a mensagem de Jesus, que prega o desapego e o antimaterialismo, em um formato que propõe justamente o contrário?
Whaley -
Acho que não. Entendo que as pessoas possam achar isso, mas isso é devido a uma falha no conhecimento da história da Bíblia. Para começar, nem sempre a Bíblia teve o formato de um livro de capa de couro preto com letras minúsculas. A Palavra original era falada. Depois ela foi transposta para manuscritos. E, na passagem do século 14 para o século 15, a Bíblia passou a ser efetivamente impressa. Se "Revolve" representa uma revolução na forma como a Bíblia é apresentada, é natural que ela seja controversa.

Folha - Quais publicações você considera como concorrentes?
Whaley -
Todas as que capturam a atenção de uma adolescente podem ser consideradas como concorrente: a MTV, as revistas, os livros ou mesmo outras Bíblias.

Folha - Haverá uma versão de "Revolve" para garotos?
Whaley -
Sim. Ela está programada para meados de 2004.


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