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Publicação segue a trilha do conservadorismo de Bush
DA REPORTAGEM LOCAL
O sucesso da revista "Revolve" é
um sinal do alcance da bandeira
do "conservadorismo com compaixão" do governo de George W.
Bush, segundo alguns críticos.
A sintonia entre as campanhas
de Bush e o conteúdo de "Revolve" não param por aí. Além do
Novo Testamento, a publicação
contém dicas baseadas em princípios bíblicos. Algumas delas, no
entanto, encontram forte amparo
nos discursos do presidente dos
EUA, como no caso da campanha
do governo pelo celibato da juventude contra a Aids.
Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida à Folha por Laurie Whaley, 28, uma das editoras
de "Revolve".
(FM)
Folha - Como surgiu a idéia de fazer uma Bíblia nos moldes de uma
revista de moda?
Laurie Whaley - A editora Thomas Nelson tem feito Bíblias por
mais de dois séculos. Há dois
anos, iniciamos uma pesquisa sobre adolescentes. Perguntamos a
garotas com que frequência liam
a Bíblia, e a resposta que obtivemos foi que elas não a lêem. Na
opinião delas, a Bíblia é "muito
grande", "intimidadora" e "não
faz sentido". Algumas garotas a
classificaram até mesmo como
"esquisita e bizarra". Quando
perguntamos a elas o que efetivamente liam, a reposta foi "revistas". Foi aí que surgiu a idéia: por
que não levar a mensagem da Bíblia, seu texto original, para o formato de uma revista?
Folha - Então o texto que está em
"Revolve" não é adaptado?
Whaley - Não. É o mesmo texto
das Bíblias de capa de couro preto. É o Novo Testamento.
Folha - Além do texto bíblico,
"Revolve" traz uma série de dicas
para questões da adolescência. Como a publicação lida com temas como sexo e namoro?
Whaley - Nós encorajamos as
garotas a esperar até seu casamento para fazer sexo, o que é um
princípio bíblico e é também uma
tendência bastante em voga hoje
entre adolescentes americanas.
Sobre namoro, somos bastante
neutros. Encorajamos as meninas
a não levarem seus namoros tão a
sério porque provavelmente
aquela relação não durará para
sempre. Nós recomendamos a
elas que deixem que os garotos tomem as iniciativas.
Folha - Então vocês acham que
garotas não devem tomar iniciativa em relação a algo que querem?
Whaley - Para ser sincera, a razão para isso é que avaliamos que
a maioria de nossas leitoras tenham entre 12 e 15 anos. Elas são
muito jovens, ainda estão em formação. Queremos recomendar a
elas que desenvolvam hábitos que
não afetem sua reputação. Não
queremos que elas sejam apontadas como assanhadas ou atiradas.
É uma maneira de protegê-las.
Folha - "Revolve" também prega
que as garotas se vistam com modéstia, mas traz fotos de meninas
que não estão vestidas exatamente desta maneira. Por quê?
Whaley - Acho que esse conceito
de modéstia é muito subjetivo e
variável. Mas eu posso dizer que
há um bom número de imagens
que foram trocadas na segunda
edição de "Revolve" para combater as críticas nessa área. Não estamos pedindo a elas que se vistam
como freiras, mas que respeitem a
si mesmas. Todas as dicas giram
em torno de obediência aos pais,
que é um princípio bíblico, e de
busca da beleza interior.
Folha - Você julga apropriado o
formato de uma revista de moda
para o Novo Testamento?
Whaley - Nós pegamos a mensagem da Bíblia e a colocamos numa mídia à qual as adolescentes
estão mais acostumadas. O Novo
Testamento fala da vida de Jesus,
que foi alguém que procurou diferentes grupos, que foi aos lugares
onde os homens de diferentes culturas estavam e que fez todo o esforço possível para se comunicar
com eles. E isso não coloca limites
às formas como comunicamos
sua mensagem hoje.
Folha - Não é um paradoxo imprimir a mensagem de Jesus, que prega o desapego e o antimaterialismo, em um formato que propõe
justamente o contrário?
Whaley - Acho que não. Entendo
que as pessoas possam achar isso,
mas isso é devido a uma falha no
conhecimento da história da Bíblia. Para começar, nem sempre a
Bíblia teve o formato de um livro
de capa de couro preto com letras
minúsculas. A Palavra original era
falada. Depois ela foi transposta
para manuscritos. E, na passagem
do século 14 para o século 15, a Bíblia passou a ser efetivamente impressa. Se "Revolve" representa
uma revolução na forma como a
Bíblia é apresentada, é natural que
ela seja controversa.
Folha - Quais publicações você
considera como concorrentes?
Whaley - Todas as que capturam
a atenção de uma adolescente podem ser consideradas como concorrente: a MTV, as revistas, os livros ou mesmo outras Bíblias.
Folha - Haverá uma versão de
"Revolve" para garotos?
Whaley - Sim. Ela está programada para meados de 2004.
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