São Paulo, quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE SOB TUTELA

Xiitas aceitam emendas à Constituição, como queriam os sunitas; acordo visa reduzir violência sectária

Em dia com mais de 50 mortos, xiitas cedem

DA REDAÇÃO

Uma série de ataques a quatro dias do plebiscito sobre a Constituição do Iraque deixou ontem mais de 50 mortos no país. Na tentativa de conter as tensões sectárias, amplificadas pela proximidade da votação, líderes políticos chegaram a um acordo para estabelecer um comitê parlamentar que revisará o documento e poderá propor emendas, antes vetadas.
Alguns líderes sunitas que vinham criticando o texto e ameaçando estimular o "não" no plebiscito de sábado apoiaram o acordo. Com a mudança, eles ganham a chance de alterar o documento numa próxima legislatura, quando devem ter uma representação mais expressiva -na atual, por terem boicotado as últimas eleições, são sub-representados.
Os sunitas são minoritários no Iraque, mas têm ampla maioria em 3 das 18 governadorias (Províncias) do país, suficiente para derrubar a Carta.
Um dos principais grupos sunitas do Iraque, o Partido Islâmico Iraquiano, passou a exortar seus simpatizantes a apoiarem a Carta depois de parte de suas demandas ser aceita ontem. O acordo, do qual foram divulgados poucos detalhes, foi fechado após dois dias de reuniões na casa do presidente Jalal Talabani das quais participaram membros do governo, o embaixador americano no Iraque, Zalmay Khalilzad, e representantes sunitas. Por ele foi estabelecido que a Constituição pode ser emendada a partir do quarto mês de mandato da próxima legislatura, a ser eleita em dezembro.
No entanto, segundo autoridades iraquianas citadas pelo jornal "New York Times", os xiitas e os curdos não cederam nos pontos mais delicados. Entre eles estão a relação entre religião e Estado, o acesso de ex-membros do Baath (o extinto partido de Saddam Hussein) a cargos no governo e o federalismo, que daria maior autonomia às regiões (logo, dificultaria o acesso dos sunitas, que dominam regiões sem campos de petróleo, à principal fonte de riqueza do país).
Com o acordo, as autoridades dos EUA e do Iraque, que vêem nos sunitas os principais responsáveis pela violência no país, esperam melhorar a segurança.
Ontem, um ataque com carro-bomba que visou um mercado lotado em Tal Afar (noroeste) matou 30 civis e feriu pelo menos 45. Foi o segundo atentado do tipo na cidade, que fica perto da fronteira com a Síria, desde que os EUA lançaram ali uma extensa ofensiva militar em agosto, na qual dizem ter matado 200 insurgentes.
Em Bagdá, um carro-bomba atingiu uma barreira do Exército iraquiano e matou oito soldados e um civil. Ainda na capital, duas policiais, quatro civis e um soldado iraquiano foram mortos em diferentes tiroteios. Outro policial e um civil morreram na explosão de uma bomba.
Em Mossul, uma terrorista suicida detonou um carro perto de uma patrulha americana, no primeiro atentado com carro-bomba de que se tem notícia executado por uma mulher no país. A polícia não tinha informações sobre vítimas. Em Kirkuk, dois policiais foram mortos a tiros.
Em uma carta divulgada pela Inteligência dos EUA, o segundo homem no comando da Al Qaeda, Ayaman al Zawahri, afirma que a rede terrorista no Iraque deve estar pronta para que um governo islâmico assuma o país quando os americanos partirem. O Pentágono não disse como obteve a carta.

Petróleo por comida
Um ex-embaixador da França na ONU, Jean-Bernard Merimée, 68, foi preso por medida preventiva dentro das investigações sobre a corrupção no programa de troca Petróleo por Comida, que vigorou sob controle da ONU nos 12 anos de sanções contra o regime de Saddam. Os investigadores suspeitam que Merimée tenha tirado partido do programa.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Brasil busca reduzir mortes no parto em 75%
Próximo Texto: Apesar da propaganda do governo, iraquianos ignoram Constituição
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.