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análise
Bomba garante ao Japão aliados instantâneos
DAVID PILLING, ANNA FIFIELD
e MURE DICKIE
DO "FINANCIAL TIMES"
Excetuando o sorridente
âncora da TV norte-coreana,
poucos saudaram com alegria o teste nuclear feito por
Pyongyang. Mas para Shinzo
Abe, o novo premiê japonês
que está determinado a refazer as relações de seu país
com China e Coréia do Sul, o
teste não poderia ter sido
num momento melhor.
"Se algo pudesse ser feito
para empurrar Pequim e
Seul para os braços de Tóquio, seria isso", diz Peter
Beck, do International Crisis
Group. Em tom de semibrincadeira, um diplomata japonês descreveu o teste como
um "presente" do ditador
norte-coreano, Kim Jong-il.
O anúncio de Pyongyang
de que havia realizado o teste
ocorreu no momento em que
Abe voava de Pequim a Seul.
O líder japonês, que antes de
chegar ao poder, no mês passado, era visto como falcão
diplomático, fez da China e
da Coréia do Sul os seus primeiros destinos exteriores.
Seu objetivo declarado era
direcionar as relações danificadas "para o futuro".
As relações entre eles têm
sido tudo menos voltadas ao
futuro. Atoladas em memórias amargas da guerra e na
questão complicada do santuário Yasukuni -o memorial em Tóquio onde são homenageados 2,5 milhões de
soldados, entre eles 14 criminosos de guerra-, elas se encontravam no ponto mais
baixo das últimas décadas.
Com a Coréia do Sul as relações do Japão estavam
igualmente azedas, tendo sido envenenadas não apenas
pela questão do santuário
Yasukuni mas também por
uma disputa territorial.
Antes mesmo do teste, havia sinais de que a iniciativa
diplomática de Abe já dava
frutos. Em Pequim, Abe foi
recebido com boas-vindas
surpreendentemente calorosas. Embora um pouco
menos efusiva, Seul também
deu mostras de disposição
em fazer negócios com Abe.
Tudo isso aconteceu antes
do teste nuclear. Em questão
de horas, Abe aproveitou o
momento, dizendo em Seul
que a Coréia do Sul e o Japão
estavam avançando juntos
na questão da Coréia do Norte. E afirmou que os dois países e a China concordaram
que "um teste nuclear norte-coreano constitui grave
ameaça".
"As relações coreano-japonesas estão em mau estado
há algum tempo. Isto é um
remendo, mas será bem-sucedido? Estou pessimista",
diz Chung Jae-ho, da Universidade de Seul. "Feridas antigas tomam tempo para cicatrizar. Do nosso ponto de vista, o Japão esfrega sal nessas
feridas a todo momento."
Mas há incentivos para
que as relações mais amigáveis sejam mantidas. A economia japonesa está crescentemente integrada à sul-coreana, e, mais ainda, à chinesa. Tanto que a China está
prestes a tomar o lugar dos
EUA como principal parceira comercial do Japão.
A China representa uma
base de produção barata e indispensável para os fabricantes japoneses, além de um
mercado lucrativo para seus
produtos manufaturados. A
China também se beneficia
muito dos investimentos e
do know-how japoneses.
O segundo incentivo vem
dos EUA, que têm demonstrado cansaço com a incapacidade japonesa de criar uma
relação operacional com os
vizinhos. "Não é do interesse
dos EUA que as tensões sino-japonesas se intensifiquem",
diz Gerald Curtis, sinólogo
da Universidade Columbia,
em Nova York.
Tradução de CLARA ALLAIN
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