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Mortos no Iraque podem superar 600 mil
Números mensais apontados por estudo publicado no "Lancet" são quase o quádruplo dos anunciados pelo governo iraquiano
Bush minimiza a estimativa, afirmando que metodologia é "desacreditada"; governo americano não disponibiliza cifra total de mortes de civis
SABRINA TAVERNISE
DONALD G. MCNEIL
DO "NEW YORK TIMES", em Bagdá
Uma equipe de pesquisadores de saúde pública americanos e iraquianos estimou que
mais de 600 mil civis tenham
morrido vítimas de violência
no Iraque desde a invasão pelos
EUA em 2003, a mais alta estimativa já apresentada quanto
ao custo da guerra no país.
O número equivale a 15 mil
mortes violentas ao mês, estimativa quatro vezes superior à
do governo iraquiano e do necrotério de Bagdá em julho, publicada no mês passado como
parte de um relatório da ONU.
Julho representou o mês com o
maior número de civis iraquianos mortos desde a invasão.
Mas se trata de uma estimativa e não de uma contagem precisa, e os pesquisadores reconheceram uma margem de erro
que coloca o total de mortes entre 426,4 mil e 793,6 mil.
O presidente George W.
Bush rejeitou o estudo. "Não
considero que seja um relatório
confiável, e o general [George]
Casey [principal comandante
militar americano no Iraque],
assim como os funcionários do
governo iraquiano, tampouco o
aceitam", declarou. "Sei que
muitas pessoas inocentes morreram, e isso me incomoda".
Bush classificou a metodologia
como "bastante desacreditada". Em dezembro, ele estimou
que 30 mil iraquianos houvessem morrido até então.
Mais cedo, Bryan Whitman,
porta-voz do Pentágono, se recusara a contestar os números,
dizendo ser difícil computar
mortes civis. Segundo ele, o Ministério da Saúde do Iraque está em melhor posição para lidar
com o cálculo. O governo iraquiano disse que o relatório
"não merece confiança" e é
"impreciso". Ele estima os
mortos em 40 mil.
Amostragem
Este é o segundo estudo conduzido pela Escola Bloomberg
de Medicina, parte da Universidade Johns Hopkins. O método
se baseia em amostragem de vítimas em domicílios iraquianos
para extrapolar um total de
601.027 mortes violentas de
março de 2003 a julho de 2006.
As conclusões do estudo anterior, publicado pela revista
médica britânica "The Lancet",
em 2004, foram criticadas por
apresentarem totais elevados
demais e pela elevada margem
de erro. O novo estudo é mais
representativo, segundo os
pesquisadores, e a amostra foi
ampliada para incluir 1.849 famílias iraquianas. A seleção das
áreas nas 18 Províncias em que
o Iraque se divide se baseou em
dimensão da população, e não
em nível de violência.
As forças armadas norte-americanas contestam os números iraquianos mas não divulgaram estimativas próprias,
oferecendo apenas comparações percentuais. Ou totais
brutos para o número de iraquianos mortos e feridos no
conflito, como parte de uma
prestação de contas trimestral
imposta pelo Congresso.
No relatório "Medindo a Estabilidade e Segurança do Iraque", a média diária para o número de soldados, policiais e civis iraquianos mortos e feridos
subiu de 26 ao dia em 2004 para quase 120 em agosto último.
O índice de mortalidade antes da invasão era de cerca de
5,5 por mil ao ano, constatou o
estudo, e subiu para 19,8 por
mil ao ano nos 12 meses encerrados em junho. O grupo independente Iraq Body Count estima o número máximo de
mortes em 49 mil.
Tropas
Ontem, o chefe do Estado-maior do Exército dos EUA, Peter Schoomaker, afirmou que
planeja manter o número atual
de soldados americanos no Iraque -cerca de 140 mil- até depois de 2010. "Não é uma previsão de que as coisas vão pior ou
melhor. Apenas tenho que ter
bala na agulha suficiente para
que possa continuar atirando
enquanto eles [comandantes
do Iraque] quiserem." Estimativas anteriores previam o início da retirada já neste ano.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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