São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 2006

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Mortos no Iraque podem superar 600 mil

Números mensais apontados por estudo publicado no "Lancet" são quase o quádruplo dos anunciados pelo governo iraquiano

Bush minimiza a estimativa, afirmando que metodologia é "desacreditada"; governo americano não disponibiliza cifra total de mortes de civis

SABRINA TAVERNISE
DONALD G. MCNEIL
DO "NEW YORK TIMES", em Bagdá

Uma equipe de pesquisadores de saúde pública americanos e iraquianos estimou que mais de 600 mil civis tenham morrido vítimas de violência no Iraque desde a invasão pelos EUA em 2003, a mais alta estimativa já apresentada quanto ao custo da guerra no país.
O número equivale a 15 mil mortes violentas ao mês, estimativa quatro vezes superior à do governo iraquiano e do necrotério de Bagdá em julho, publicada no mês passado como parte de um relatório da ONU. Julho representou o mês com o maior número de civis iraquianos mortos desde a invasão. Mas se trata de uma estimativa e não de uma contagem precisa, e os pesquisadores reconheceram uma margem de erro que coloca o total de mortes entre 426,4 mil e 793,6 mil.
O presidente George W. Bush rejeitou o estudo. "Não considero que seja um relatório confiável, e o general [George] Casey [principal comandante militar americano no Iraque], assim como os funcionários do governo iraquiano, tampouco o aceitam", declarou. "Sei que muitas pessoas inocentes morreram, e isso me incomoda".
Bush classificou a metodologia como "bastante desacreditada". Em dezembro, ele estimou que 30 mil iraquianos houvessem morrido até então. Mais cedo, Bryan Whitman, porta-voz do Pentágono, se recusara a contestar os números, dizendo ser difícil computar mortes civis. Segundo ele, o Ministério da Saúde do Iraque está em melhor posição para lidar com o cálculo. O governo iraquiano disse que o relatório "não merece confiança" e é "impreciso". Ele estima os mortos em 40 mil.

Amostragem
Este é o segundo estudo conduzido pela Escola Bloomberg de Medicina, parte da Universidade Johns Hopkins. O método se baseia em amostragem de vítimas em domicílios iraquianos para extrapolar um total de 601.027 mortes violentas de março de 2003 a julho de 2006.
As conclusões do estudo anterior, publicado pela revista médica britânica "The Lancet", em 2004, foram criticadas por apresentarem totais elevados demais e pela elevada margem de erro. O novo estudo é mais representativo, segundo os pesquisadores, e a amostra foi ampliada para incluir 1.849 famílias iraquianas. A seleção das áreas nas 18 Províncias em que o Iraque se divide se baseou em dimensão da população, e não em nível de violência.
As forças armadas norte-americanas contestam os números iraquianos mas não divulgaram estimativas próprias, oferecendo apenas comparações percentuais. Ou totais brutos para o número de iraquianos mortos e feridos no conflito, como parte de uma prestação de contas trimestral imposta pelo Congresso.
No relatório "Medindo a Estabilidade e Segurança do Iraque", a média diária para o número de soldados, policiais e civis iraquianos mortos e feridos subiu de 26 ao dia em 2004 para quase 120 em agosto último. O índice de mortalidade antes da invasão era de cerca de 5,5 por mil ao ano, constatou o estudo, e subiu para 19,8 por mil ao ano nos 12 meses encerrados em junho. O grupo independente Iraq Body Count estima o número máximo de mortes em 49 mil.

Tropas
Ontem, o chefe do Estado-maior do Exército dos EUA, Peter Schoomaker, afirmou que planeja manter o número atual de soldados americanos no Iraque -cerca de 140 mil- até depois de 2010. "Não é uma previsão de que as coisas vão pior ou melhor. Apenas tenho que ter bala na agulha suficiente para que possa continuar atirando enquanto eles [comandantes do Iraque] quiserem." Estimativas anteriores previam o início da retirada já neste ano.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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