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Dona de reserva, Caracas compra gás
30% do produto existente na região está na Venezuela, que terá gasoduto para trazer combustível da Colômbia
Projeto visa sanar déficit interno e, segundo analista, é prova de que Gasoduto do
Sul, que levará gás ao Brasil e à Argentina, é inviável
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Dona das maiores reservas
de gás natural da América Latina, a Venezuela acaba de se
converter em importador do
combustível com a conclusão
de um gasoduto entre o oeste
do país e a vizinha Colômbia. O
objetivo da obra é aliviar a histórica e crescente falta do produto no mercado interno.
O Transguajiro será inaugurado hoje pelos presidentes
Hugo Chávez e Alvaro Uribe e
tem uma extensão de 230 km.
Liga Punta Ballenas, do lado colombiano, a Maracaibo (oeste),
segunda maior cidade venezuelana e epicentro da indústria
petroleira. A obra custou US$
335 milhões e foi paga pela estatal venezuelana PDVSA.
O duto tem capacidade para
14 milhões de m3 por dia, mas o
acordo inicial prevê 4,2 milhões m3 diários -o que supre
só 10% do déficit atual.
As maiores carências estão
na indústria petroquímica, nas
termelétricas (que hoje funcionam a diesel, bem mais caro) e
nas fábricas de cimento.
Do lado colombiano, o gás
será vendido por uma associação formada entre a americana
Chevron e a estatal Ecopetrol.
Segundo a PDVSA, o preço a
ser pago pela Venezuela deve
ser anunciado hoje.
O projeto prevê que a Venezuela importe gás colombiano
durante pelo menos quatro
anos. Depois, o fluxo deverá ser
invertido: a Colômbia passará a
comprar gás venezuelano.
Para que a Venezuela exporte gás, porém, é necessário que
o governo Hugo Chávez termine a construção de um gasoduto interno ligando a região de
Maracaibo ao leste do país, onde estão as maiores reservas.
O gasoduto ICO (Interconexão Centro-Ocidente), uma das
obras em andamento mais importantes do país, deve ficar
pronto em julho de 2008, segundo o presidente da PDVSA
Gás, Felix Rodriguez. Terá 300
km e custará US$ 470 milhões.
Defensor do gasoduto com a
Colômbia, o ex-secretário geral
da Opep (2001-2003) Alvaro
Silva Calderón afirma que a
obra "estimula a integração
energética". "Nunca houve antes um plano integral. O gás
sempre foi uma espécie de subproduto associado ao petróleo,
e as companhias petroleiras,
por muito tempo, queimavam e
desperdiçavam o gás. Mas hoje
existe esse plano de gasodutos
integrados", disse à Folha Silva, que foi ministro de Energia
de Chávez entre 2001 e 2002.
Crítico do governo, o ex-ministro de Energia e Relações
Exteriores em presidências anteriores Humberto Calderón
Berti diz que o gasoduto com a
Colômbia expõe a fragilidade
venezuelana e a inviabilidade
do Gasoduto do Sul.
"A mensagem é muito clara.
Com o gasoduto, a Venezuela
vai suprir apenas 10% de seu
déficit. Como pode propor a
construção de um gasoduto para o sul do continente que, para
ser rentável, teria de transportar pelo menos 141 milhões de
m3 por dia? É a melhor evidência de que tudo o que Chávez
propõe sobre esse gasoduto
não funciona", disse.
Segundo Calderón, ainda
não há estudos suficientes para
saber se a Venezuela tem condições para exportar gás. Ele
diz que 85% das reservas de gás
estão associados ao petróleo, e
uma grande parte precisa ser
utilizada na própria produção
do combustível mais nobre.
Há um mês, Chávez anunciou um ambicioso plano de
desenvolvimento do gás, que
prevê investimentos de US$ 18
bilhões até 2012. Com 5,1 bilhões de m3 de gás, a Venezuela
tem 30% das reservas latino-americanas. A Bolívia tem 764
milhões de m3.
Farc e CAN
Chávez e Uribe também devem aproveitar o encontro de
hoje para discutir a mediação
do venezuelano nas negociações do governo com as Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Ele também
deve ouvir do colombiano e do
equatoriano Rafael Correa,
convidado a participar da cúpula, pedidos para que a Venezuela volte à CAN (Comunidade
Andina de Nações) -bloco econômico que o país deixou por
discordar dos acordos de livre
comércio firmados por integrantes com os EUA.
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