São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dona de reserva, Caracas compra gás

30% do produto existente na região está na Venezuela, que terá gasoduto para trazer combustível da Colômbia

Projeto visa sanar déficit interno e, segundo analista, é prova de que Gasoduto do Sul, que levará gás ao Brasil e à Argentina, é inviável

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Dona das maiores reservas de gás natural da América Latina, a Venezuela acaba de se converter em importador do combustível com a conclusão de um gasoduto entre o oeste do país e a vizinha Colômbia. O objetivo da obra é aliviar a histórica e crescente falta do produto no mercado interno.
O Transguajiro será inaugurado hoje pelos presidentes Hugo Chávez e Alvaro Uribe e tem uma extensão de 230 km. Liga Punta Ballenas, do lado colombiano, a Maracaibo (oeste), segunda maior cidade venezuelana e epicentro da indústria petroleira. A obra custou US$ 335 milhões e foi paga pela estatal venezuelana PDVSA.
O duto tem capacidade para 14 milhões de m3 por dia, mas o acordo inicial prevê 4,2 milhões m3 diários -o que supre só 10% do déficit atual.
As maiores carências estão na indústria petroquímica, nas termelétricas (que hoje funcionam a diesel, bem mais caro) e nas fábricas de cimento.
Do lado colombiano, o gás será vendido por uma associação formada entre a americana Chevron e a estatal Ecopetrol. Segundo a PDVSA, o preço a ser pago pela Venezuela deve ser anunciado hoje.
O projeto prevê que a Venezuela importe gás colombiano durante pelo menos quatro anos. Depois, o fluxo deverá ser invertido: a Colômbia passará a comprar gás venezuelano.
Para que a Venezuela exporte gás, porém, é necessário que o governo Hugo Chávez termine a construção de um gasoduto interno ligando a região de Maracaibo ao leste do país, onde estão as maiores reservas.
O gasoduto ICO (Interconexão Centro-Ocidente), uma das obras em andamento mais importantes do país, deve ficar pronto em julho de 2008, segundo o presidente da PDVSA Gás, Felix Rodriguez. Terá 300 km e custará US$ 470 milhões.
Defensor do gasoduto com a Colômbia, o ex-secretário geral da Opep (2001-2003) Alvaro Silva Calderón afirma que a obra "estimula a integração energética". "Nunca houve antes um plano integral. O gás sempre foi uma espécie de subproduto associado ao petróleo, e as companhias petroleiras, por muito tempo, queimavam e desperdiçavam o gás. Mas hoje existe esse plano de gasodutos integrados", disse à Folha Silva, que foi ministro de Energia de Chávez entre 2001 e 2002.
Crítico do governo, o ex-ministro de Energia e Relações Exteriores em presidências anteriores Humberto Calderón Berti diz que o gasoduto com a Colômbia expõe a fragilidade venezuelana e a inviabilidade do Gasoduto do Sul.
"A mensagem é muito clara. Com o gasoduto, a Venezuela vai suprir apenas 10% de seu déficit. Como pode propor a construção de um gasoduto para o sul do continente que, para ser rentável, teria de transportar pelo menos 141 milhões de m3 por dia? É a melhor evidência de que tudo o que Chávez propõe sobre esse gasoduto não funciona", disse.
Segundo Calderón, ainda não há estudos suficientes para saber se a Venezuela tem condições para exportar gás. Ele diz que 85% das reservas de gás estão associados ao petróleo, e uma grande parte precisa ser utilizada na própria produção do combustível mais nobre.
Há um mês, Chávez anunciou um ambicioso plano de desenvolvimento do gás, que prevê investimentos de US$ 18 bilhões até 2012. Com 5,1 bilhões de m3 de gás, a Venezuela tem 30% das reservas latino-americanas. A Bolívia tem 764 milhões de m3.

Farc e CAN
Chávez e Uribe também devem aproveitar o encontro de hoje para discutir a mediação do venezuelano nas negociações do governo com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Ele também deve ouvir do colombiano e do equatoriano Rafael Correa, convidado a participar da cúpula, pedidos para que a Venezuela volte à CAN (Comunidade Andina de Nações) -bloco econômico que o país deixou por discordar dos acordos de livre comércio firmados por integrantes com os EUA.


Texto Anterior: Análise: História optou por ignorar o massacre
Próximo Texto: Arrecadação: Chávez diz que "CPMF" de empresas vai até dezembro de 2008
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.