São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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análise

História optou por ignorar o massacre

ROBERT FISK
DO "INDEPENDENT"

A história do primeiro Holocausto do século passado -Winston Churchill empregou exatamente essa palavra - é fartamente conhecida, apesar da recusa da Turquia moderna em admitir os fatos. O paralelo com a perseguição movida pela Alemanha nazista contra os judeus não é injustificado.
O reinado de terror imposto pela Turquia foi uma tentativa de destruir a população armênia. Enquanto os turcos falavam em público da necessidade de "reassentar" essa população -como falariam mais tarde os nazistas sobre os judeus na Europa-, as verdadeiras intenções de uma comissão criada por Enver Pasha em Constantinopla eram claras.
Em 15 de setembro de 1915, Talaat Pasha, ministro do Interior turco, telegrafou uma ordem a seu prefeito em Aleppo sobre o que deveria fazer com as dezenas de milhares de armênios que viviam na cidade. "O senhor já foi informado de que o governo decidiu destruir completamente essas pessoas."
São palavras quase idênticas às de Himmler aos matadores da SS em 1941.
Taner Akcam, destacado acadêmico turco, usou documentos turcos otomanos para confirmar o ato do genocídio. Ele está agora sob ataque acirrado de seu governo.
A tentativa da Turquia otomana de exterminar toda uma população cristã no Oriente Médio é uma história de horror de policiais, soldados e tribos curdas.
Em 1915, a Turquia alegou que sua população armênia estava dando apoio aos seus inimigos cristãos na Grã-Bretanha, França e Rússia.
Acadêmicos armênios compilaram um mapa da perseguição e deportação de seu povo, documento tão detalhado quanto os mapas da Europa que mostram os trajetos ferroviários a Auschwitz e Treblinka. Os armênios de Erzerum, por exemplo, foram enviados numa marcha de morte até Terjan, e, de lá, para Erzinjan e para a Província de Sivas.
Os homens eram executados por pelotões de fuzilamento ou seriam mortos a machadadas na periferia de seus povoados. Em seguida, as mulheres e crianças eram conduzidas até o deserto para ali morrerem de sede, doenças, exaustão ou sofrerem estupros coletivos. Na vala comum que eu próprio descobri numa encosta de morro em Hurgada, na atual Síria, havia milhares de esqueletos. Uma armênia de 100 anos que escapara do massacre identificou a colina para mim.
A questão hoje é a razão de os armênios da diáspora se preocuparem mais com o genocídio do que os cidadãos da Armênia moderna.


Tradução de CLARA ALLAIN

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