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Depois da Odebrecht, Equador anuncia a expulsão de Furnas
Estatal integrou consórcio que fiscalizou obra de hidrelétrica
que parou de funcionar pouco mais de um ano após inauguração
Furnas diz que decisão é retórica, já que não participa atualmente de nenhum projeto no país, e diz não ter culpa por falhas em usina
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO
O presidente Rafael Correa
disse ontem que já assinou o
decreto que regulamenta a rescisão dos quatro projetos da
construtora Odebrecht no
Equador e que a medida inclui
também a expulsão da estatal
brasileira Furnas do país.
"Anteontem [quinta-feira] já
assinei o decreto ratificando a
expulsão. E expulsando também a firma fiscalizadora [Furnas], porque também é responsável pelo desastre de San
Francisco. Também é brasileira. A empresa construtora é
brasileira, e a fiscalização é brasileira. Amigos de alma", disse
ele em seu programa de TV.
Furnas e a sócia equatoriana
Integral foram as responsáveis
pela fiscalização da usina de
San Francisco, construída pela
Odebrecht e paralisada desde 6
de junho, cerca de um ano após
sua inauguração, por problemas no túnel principal e em
uma das turbinas. A Controladoria Geral do Equador diz que
o consórcio Furnas-Integral
poderia ter evitado os defeitos.
Como o trabalho de Furnas
em San Francisco já está concluído, a expulsão terá apenas
um efeito prático, a exclusão da
empresa da concorrência para
fiscalizar a hidrelétrica Toachi
Piláton, que também estava a
cargo da Odebrecht. A empresa
se considerava "potencial vencedora" da licitação por ter
apresentado o menor preço.
"Furnas não tem absolutamente nada no Equador. Não
temos pessoas, não temos equipamentos, não temos bens. Então, essa questão de expulsar
Furnas é mais retórica do que
prática mesmo", disse ontem o
diretor de construção da empresa, Márcio Porto.
Ele eximiu Furnas de responsabilidade por eventuais falhas na fiscalização. "Se tem um
peso maior na fiscalização, foi
do Equador. É preciso deixar
claro que não foi uma empresa
brasileira fiscalizando uma empresa brasileira. Foi um consórcio brasileiro-equatoriano."
Diferentemente da Odebrecht, Furnas é uma empresa
estatal, vinculada ao Ministério
de Minas e Energia e controlada pela Eletrobrás. Além da expulsão de Furnas, Correa não
deu mais informações sobre o
conteúdo do decreto, cujo teor
ainda não foi divulgado. Segundo a Folha apurou, a medida dá
30 dias para que a Odebrecht
deixe os quatro projetos dos
quais participa, cujos orçamentos somam US$ 650 milhões.
A Odebrecht tem dito que
respeitará a decisão de Quito,
mas que ainda não foi oficialmente informada da expulsão.
Crise diplomática
Correa disse ontem que "respeita, mas não entende" a decisão do governo brasileiro de
suspender a visita de missão
técnica liderada pelo ministro
dos Transportes, Alfredo Nascimento, em retaliação à rescisão dos contratos da Odebrecht
e à ameaça de nacionalizar investimentos da Petrobras.
"Um imenso abraço ao presidente Lula da Silva, respeitamos sua decisão, mas recordamos que o Equador é um país
soberano, e este é um problema
do Equador com uma empresa
privada. E não permitiremos
que nenhuma empresa, inclusive de um país tão querido como
o Brasil, se burle do Equador."
A missão trataria do Manta-Manaus, projeto que liga a cidade portuária equatoriana à capital do Amazonas e prevê a
construção de estradas, pontes,
portos e vias fluviais.
"Quem mais se prejudica é
Manaus. Porque não vai ter a
sua hidrovia a tempo. Nós podemos mandar cimento, mandar alimento fresco, que tanto
necessitam e é tão caro em Manaus. Espero que o governo
brasileiro revise essa decisão."
Em tom mais duro, a Chancelaria equatoriana afirmou
ontem em nota que "deplora
que essa decisão possa ter sido
adotada em relação à situação
entre o Estado equatoriano e
uma empresa privada". Expressou, porém, a "vontade de continuar fortalecendo as relações
bilaterais" com o Brasil.
Colaborou a Sucursal do Rio
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