São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010

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ANÁLISE

Para o bem-estar de todos, subida deve ser cuidadosa

PAULO OLZON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os 33 mineiros que passaram mais de dois meses confinados a 628 metros em uma mina no Chile receberam oxigênio e alimentos líquidos, além de conversar com as famílias e com psicólogos.
E foi isso que permitiu a sobrevivência de todo o grupo, apesar das condições precárias do fundo da montanha.
A retirada, no entanto, deve ser muito cuidadosa, em função de alguns problemas que poderão ocorrer.
O primeiro é a pressão atmosférica, maior do que a do ambiente externo da mina.
Haverá uma descompressão, o que pode causar pressão na parte interna dos tímpanos e até perfurá-los.
Assim os mineiros terão que subir devagar, e devem forçar o equilíbrio da pressão externa tampando o nariz e injetando o ar nos ouvidos -como fazem os mergulhadores ou como fazemos ao descer ou subir de lugares com altitudes diferentes.
Outra questão: os mais de dois meses na escuridão provocarão uma sensibilidade maior da retina, que ficou em repouso por muito tempo, sem a luz solar.
A exposição repentina à luz pode até causar uma lesão nos olhos.
Para evitar o problema, é necessário que os mineiros utilizem óculos escuros ao sair ou fiquem em lugares escuros, após a retirada. Dessa forma, passarão por uma adaptação progressiva.
Durante o período em que ficaram soterrados, os 33 mineiros receberam também orientação para acender e apagar as luzes. A ideia era que eles tentassem simular noite e dia no abrigo.
No entanto, este estímulo artificial não é tão potente como a luz solar, o que pode causar falta de adaptação em relação ao sono que é induzido pelo anoitecer. Por alguns dias, eles devem sofrer problemas na adaptação ao horário de dormir.
A falta de luz solar pode se relacionar, ainda, a quadros de depressão emocional.
Mas não é só.
Como vão se deslocar de um lugar de pressão de oxigênio mais elevado para outro de menor concentração, existe a possibilidade de que os mineiros sintam um pouco de falta de ar, facilmente corrigido por bombas de ar com mais oxigênio.
O tempo em que ficaram presos e praticamente parados também pode deixá-los mais cansados ao executar pequenos esforços.
A falta de atividade física e do sol podem fazer com que os mineiros tenham perdido mais cálcio dos ossos, que voltarão ao normal, após a volta à rotina.
A readaptação a alimentos sólidos, após esse longo período de dieta líquida, pode provocar quadros de diarreia ou prisão de ventre.
O mais normal, no retorno para uma rotina normal de alimentação, é que os médicos prescrevam uma mudança progressiva da dieta líquida para sólida. Isso levará mais alguns dias.
Por serem pessoas com saúde, porém, os mineiros logo devem voltar a ter uma vida normal.


O médico PAULO OLZON é professor de clínica médica da Unifesp


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