São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2010

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Operação torna-se mina de ouro para presidente chileno

Sebastián Piñera utiliza operação de salvamento como uma chance de unir politicamente o país em torno de si

Governo banca os custos do resgate, que incluiu até a contratação de estrangeiros, mas não revela ainda o montante

DA ENVIADA A COPIAPÓ

Nunca a viagem de um presidente da República foi acompanhada com tanta atenção como a que Sebastián Piñera realizava ao Equador no dia de ontem.
No acampamento Esperanza, todo decorado com bandeiras nacionais chilenas, havia uma certeza: o resgate não se iniciaria sem a presença de Piñera.
"Ele não perderá esse momento por nada neste mundo", disse Marta Flores Duhalde, da Cruz Vermelha, trabalhando no apoio emocional às famílias dos homens soterrados.
O presidente fez da operação de salvamento na mina San José ponto de honra de seu governo.
Em suas palavras, "o resgate será um verdadeiro renascimento não só dos 33 mineiros mas também para o espírito de unidade, força, fé e esperança" do Chile.
Já no momento em que se descobriu que os mineiros estavam vivos, Piñera fez um discurso inflamado, identificando o Chile, recém-assolado pela tragédia do terremoto do início do ano, aos mineiros enfrentando a tragédia do desabamento.
Transformou o salvamento dos homens sob a terra em uma metáfora do próprio Chile, que também poderia ser salvo. O governo Piñera, é claro, seria o condutor de ambos os salvamentos.
"Chi-chi-chi, le-le-le, viva Chile, mierda!", gritou o presidente, ao finalizar um discurso inflamado em homenagem aos mineiros, quando afinal se soube que eles ainda estavam vivos, no dia 22 de agosto. Piñera surpreendeu até seus aliados.
No governo, não se informa a quanto montam os custos da operação de salvamento, que implicaram trazer dos EUA e do Canadá equipamentos e pessoal especializado em perfuração.
É gente que atuou anteriormente no Afeganistão e em prospecção de petróleo.
Segundo a assessoria de imprensa, só depois do fim dos trabalhos se divulgarão os custos.
O dirigente da Codelco, a gigante estatal do cobre chileno, Gerardo Jofré, disse ao jornal "El Mercurio" que tem todos os gastos planilhados, mas que quem poderá divulgar os números é o governo.
Eleito em 17 de janeiro ao derrotar o candidato situacionista Eduardo Frei, o milionário Piñera, representante de uma coalizão de centro-direita, tinha a perspectiva de governar um país dividido. Unificá-lo era o seu principal desafio.

PATRIOTISMO
O clima patriótico do acampamento Esperanza, quando está para ser feito o resgate, se espalha pelo país por meio dos canais de TV.
E tudo o que se vê são pessoas cantando a plenos pulmões o hino nacional, imagens subterrâneas dos 33 mineiros, Piñera discursando e Laurence Golborne, o ministro da Mineração, transformado em líder supremo dos trabalhos de resgate.
A oposição desapareceu.
A não ser pelas visitas discretas da senadora Isabel Allende, filha do trágico presidente socialista Salvador Allende (1969-1973), e do deputado comunista Lautaro Carmona, é quase nula a presença da oposição ao presidente Piñera no drama que mobiliza o país.
Fora da sala de imprensa, de novo, vem o grito "Chi-chi-chi, le-le-le, los mineros de Chile!"
Também deve acompanhar o resgate o presidente boliviano, Evo Morales. (LAURA CAPRIGLIONE)


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