São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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Índios bloqueiam estrada exigindo emprego

DO ENVIADO A ORELLANA

A visita da Folha ao Bloco 31, de pouco menos de 24 horas, teve momentos tensos quando três índios quíchuas derrubaram uma árvore ao longo da estrada atrás do acampamento, bloqueando, por quase uma hora, a volta do microônibus onde estava a reportagem.
O incidente ocorreu no final da tarde, quando já começava a escurecer. Durante quase todo o impasse, a reportagem foi orientada a ficar dentro do veículo, enquanto funcionários da Petrobras negociavam com os indígenas. Vivem na área de influência do projeto cerca de 700 quíchuas, mais acostumados à presença de estrangeiros, e outros 70 waoranis, tradicionalmente mais isolados.
Dois deles estavam no microônibus -pouco antes, quando voltavam de uma caçada e armados de espingardas, haviam pedido uma carona. Em conversa enquanto o impasse não era revolvido, o quíchua Gustavo Tape, 43, disse, sobre a presença da Petrobras, que "o medo é que os animais de caça fujam com o barulho das máquinas".
Tape, por outro lado, elogiou os benefícios concedidos pela empresa, como a doação de materiais de construção e a distribuição, há um ano, de cerca de US$ 1.000 por família.
Quando o protesto parecia resolvido, o microônibus se aproximou para iluminar a árvore enquanto funcionários cortavam seu tronco.
A repórter fotográfica Johanna Cortés desceu do veículo, mas, quando tentou tirar fotos, teve o equipamento arrancado por um dos indígenas. Bêbado, exigiu que as imagens fossem apagadas e que voltássemos ao veículo.
Cerca de dez minutos mais tarde, um trator da Petrobras finalmente removeu o tronco, liberando a passagem.
Mais tarde, no acampamento, um dos funcionários envolvidos na negociação explicou que os indígenas -três irmãos- exigiam ser contratados pela Petrobras, como na época da construção da estrada, quando foram empregadas 50 pessoas da comunidade.
Atualmente, apenas dez indígenas trabalham na Petrobras, com um salário de US$ 310.
Para Elizabeth Bravo, da ONG Ação Ecológica, ações compensatórias e indenizatórias como as promovidas pela Petrobras fazem com que os indígenas passem a ficar dependentes das empresas, atraindo-os para viver em seu entorno. "Na Repsol, que atua ao lado, é fornecida comida todos os dias, provocando uma alteração cultural imensa", exemplifica.
(FM)


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