São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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entrevista

"Poder dos EUA deve ser reduzido"

DE WASHINGTON

Princípio do "canivete suíço"? Criação de um "Conselho de Democracias"? Na sexta à tarde, John Ikenberry, professor de Princeton e um dos autores do Projeto Princeton de Segurança Nacional, falou à Folha do programa, que ganhou fôlego com a vitória democrata. (SD)

 

FOLHA - O projeto prevê uma estratégia para a política externa norte-americana que integre o "poder da coerção" com o "poder da atração". Como isso funcionaria, por exemplo, nos casos do Irã e da Coréia do Norte?
JOHN IKENBERRY -
Nesses casos, temos de usar as duas táticas simultaneamente. Deixar claro que haverá um custo aos regimes que não operarem dentro do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Ao mesmo tempo, oferecer alguma forma de inserção desses países na comunidade internacional.

FOLHA - Como conciliar essa abordagem com a política de um presidente que defende a guerra preventiva e coloca países no "eixo do mal"?
IKENBERRY -
Argumentamos que é mais importante sermos criativos e tentarmos criar um sistema internacional em que a democracia possa operar. Tentamos usar de uma forma mais inteligente a influência norte-americana para apoiar e implantar a democracia no mundo inteiro. As alianças que os EUA construíram ao longo dos anos são muito importantes.

FOLHA - Explique o conceito de "canivete suíço".
IKENBERRY -
Ao olharmos para o futuro, 2020, 2025, acreditamos que ameaças múltiplas e vários desafios demandarão a atenção da política externa norte-americana. Não haverá um só tema, como terrorismo. Por exemplo, a ascensão da China e da Índia, pandemias globais, instabilidade econômica mundial. Quando falamos de "canivete suíço", queremos dizer que precisamos de uma estratégia internacional mais inteligente, que permita múltiplas opções de ação.

FOLHA - E o "Conselho de Democracias"?
IKENBERRY -
É uma tentativa de atualizar a ordem mundial. Queremos muito ver a ONU reformada, e o Conselho de Democracias seria quase como um lobby reformista, uma coalizão global de democracias, assim não seria apenas o velho grupo da Otan (a aliança militar de norte-americanos e europeus), mas também Coréia, Japão, Índia, Brasil, México. Se a ONU não for reformada em dez ou 15 anos, achamos que será preciso uma nova organização que possa ajudar a facilitar as decisões sobre o uso da força. Queremos que seja a salvação da ONU, não a substituição da ONU, mas, se essa organização não for reformulada, certamente terá de ser suplementada. Idealizamos uma organização abaixo da Otan e acima da ONU.

FOLHA - Como o projeto lida com o fato de os EUA serem uma potência hegemônica?
IKENBERRY -
É uma pergunta importante: um mundo com apenas uma superpotência é estável? Somente se essa potência se comprometer a aceitar restrições estratégicas e se dobrar à comunidade global por meio de regras e instituições. Isso reduz a insegurança que outros países sentem por haver apenas uma grande potência.
Para construir uma nova ordem liberal, como fizemos nos anos 40, precisamos reduzir o papel da força e enfatizar o papel da legitimidade.
A ordem liberal precisa que a superpotência tenha seus poderes reduzidos, e que seja reduzida também a ameaça de que essa superpotência se transforme em um império. Dessa forma o poder dos EUA fica menos controvertido e isso reduz o antiamericanismo. É da maior importância para os EUA que o país restrinja seu poder.


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