São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

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Iraque tem proliferação de pequenos grupos políticos

KAREN MARÓN
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BAGDÁ

Parece distante o tempo em que os partidos políticos iraquianos eram só uma fachada usada pelo regime de Saddam Hussein para melhor reinar sobre o país.
Apesar da intervenção militar anglo-americana, da crise humanitária, da violação dos direitos humanos, da insegurança, da falta de água e de eletricidade, das bombas e dos jogos dos dirigentes iraquianos controlados pela coalizão, a ambição democrática é um sonho que toma corpo.
Não menos que 200 grupos e entidades políticas e étnicas criaram sites na eleição. A maioria desses movimentos apareceu na cena política nacional desde o ano passado, com as perspectiva das eleições parlamentares que acontecerão no dia 15 próximo e competirão para obter uma parcela das 275 cadeiras da Câmara, dominada pelos xiitas e pelos curdos. Desde o Sol do Iraque, encabeçado por Taufik Yaliaseri, passando pelo Diálogo Nacional Iraquiano, slogans e anúncios dizem a mesma coisa. Socialistas, comunistas, monárquicos, curdos, xiitas, islâmicos, sunitas e liberais defendem o mesmo como profecia divina: "igualdade, democracia e liberdade".
Entre eles está a Aliança Nacional Iraquiana, fundada em 1991 em total clandestinidade, e que considera ter hoje 200 mil membros. Seus líderes sempre apostaram nestas eleições. Oriundos de Kirkuk, Kerbala, Nassiryia e Mossul, querem mudanças. "A situação é caótica. Não há governo, nem lei, nem segurança no Iraque. Em uma guerra e em dois anos e meio de ocupação, os norte-americanos conseguiram destruir este país", protesta Mohammed, antigo general do serviço de contra-espionagem de Saddam e hoje membro ativo do partido.
Enquanto são favoráveis ao princípio do uso de uma força multinacional sob mandato da ONU, os membros do partido não aceitam que se fale em "guerra civil" ou "divisão do país". Se alguém evoca esse tema, Al Jaburi toma a palavra: "Os muçulmanos sempre viveram juntos e continuarão assim. Essa tese norte-americana não tem fundamento".
A democracia e seus valores são uma esperança de renovação para eles. A imensidão da obra não lhes dá medo, não mais que os atentados. O que os membros da Aliança Nacional iraquiana temem é uma escalada do islamismo que seria, dizem, a conseqüência direta de "uma política selvagem de colonização." Al Jaburi diz que, para realizar a pacificação, os estrangeiros têm de deixar de meter o nariz nos assuntos do Iraque.


A argentina Karen Marón é especializada na cobertura de conflitos armados, como na Colômbia e no Oriente Médio

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