São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 2006

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Annan critica Bush em seu discurso final

Secretário-geral, que termina mandato no fim do ano, pede fidelidade a "princípios norte-americanos"

DA REDAÇÃO

O último discurso do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, foi marcado por críticas à administração do presidente americano George W. Bush e a sua política externa unilateral.
"Nenhum país pode garantir sua segurança tentando dominar os outros. Todos compartilhamos da responsabilidade de garantir a segurança", disse Annan, ontem, em cerimônia realizada na Biblioteca Presidencial Harry Truman, em Independence, no estado norte-americano de Missouri.
Annan, que deixará seu posto no próximo dia 31, após dez anos à frente da ONU, lembrou que os EUA sempre foram líderes de movimentos de direitos humanos e que "essa liderança só pode ser mantida se o país permanecer fiel a seus princípios, incluindo a luta contra o terrorismo". Entretanto, "se um país desrespeita ou abandona seus próprios ideais e princípios, seus colegas no exterior ficam naturalmente incomodados e confusos".
Em seu discurso, Annan ainda defendeu o multilateralismo para resolver problemas internacionais e mandou um recado a Bush, sem citá-lo sequer uma vez: "O que estou dizendo é que, quando os EUA trabalham com outros países de uma forma multilateral, o resultado é muito bom".

Reforma do Conselho
Ele também disse ser importante a reforma do Conselho de Segurança, "que ainda reflete a realidade de 1945". Sua sugestão é incluir novos membros permanentes.
Segundo reportou o jornal americano "USA Today", discursos de despedida não costumam ser duros contra os EUA. "Nas seis décadas de história da ONU, nenhum secretário-geral terminou seu mandato criticando as políticas norte-americanas", disse Stanley Meisler, autor da mais recente biografia de Annan.
Mas isso não inibiu Kofi Annan que, ao assumir o cargo, em 1997, tinha o apoio dos EUA. As desavenças, entretanto, começaram em 2003, quando Bush ordenou a invasão do Iraque, sem o aval do Conselho de Segurança da ONU. Desde então, Annan é um forte crítico da política externa norte-americana.
Após o pronunciamento, Annan respondeu a algumas perguntas, entre elas, sobre o documento divulgado na semana passada pelo Grupo de Estudos do Iraque, elaborado por congressistas e especialistas do Partido Republicano e do Partido Democrata.
Segundo Annan, o texto foi esclarecedor para muitos assuntos, mas a prioridade deve ser encontrar uma forma para resolver os problemas iraquianos, com o apoio da Síria e do Irã ."Nós precisamos ser tão ativos no campo político como somos no campo militar."
A Biblioteca Truman foi escolhida a dedo para o último discurso. O gesto foi para homenagear o ex-presidente americano Harry Truman, que, segundo Annan, "foi um pioneiro por contribuir com o surgimento da ONU". Foi durante o seu governo -após o fim da Segunda Guerra- que a ONU foi criada. O próximo secretário-geral será Ban Ki Moon, atual chanceler sul-coreano. Sua posse está marcada para 1º de janeiro de 2007 .


Com agências internacionais

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