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Oposição boliviana ameaça declarar independência
Morales exorta Forças Armadas a "defender nação boliviana" de governadores separatistas
Líderes dos departamentos da "meia lua" dizem que declaração de autonomia
ou até de independência ocorrerá nesta sexta-feira
DO ENVIADO A LA PAZ
O presidente boliviano, Evo
Morales, exortou ontem as
Forças Armadas a "defender a
nação boliviana", em resposta à
ameaça de governadores oposicionistas de quatro departamentos de declarar, durante
eventos simultâneos nesta sexta-feira, maior autonomia em
relação a La Paz ou mesmo a independência da chamada
"meia lua", como é chamada a
região do país que concentra a
oposição ao governo federal.
Em discurso a oficiais do
Exército pela manhã, Morales
qualificou o movimento dos governadores de "traição à pátria"
e, dirigindo-se aos militares, os
conclamou: "Na pátria não se
toca, pelo que vamos defendê-la, vamos defender a nação boliviana".
O presidente disse que o movimento de greve de fome, realizado pela oposição sobretudo
em Santa Cruz, tem como objetivo "uma divisão ou separação
da pátria" e afirmou que a autonomia "já é uma realidade". Ele
lembrou que os governadores
foram eleitos por voto direto
pela primeira vez na história há
um ano e que os departamentos controlam 50% do Orçamento do país.
Bloqueio
Ontem, representantes do
partido governista, MAS (Movimento ao Socialismo), estavam reunidos em Sucre para
discutir como reagirão as concentrações da oposição. Uma
das propostas em análise, feita
pelos cocaleiros, é bloquear as
estradas de acesso a Santa Cruz
para sufocar a manifestação.
É a segunda vez nos últimos
dias em que Morales ameaça
empregar as Forças Armadas.
No sábado, disse que: "estes inimigos da Bolívia entendem que
autonomia é secessão, separação da Bolívia, e não haverá nenhuma divisão, nenhuma separação na nossa pátria, as Forças
Armadas estão aí".
Anteontem, durante reunião
em Santa Cruz, governadores e
líderes dos comitês cívicos de
Pando, Beni, Tarija, além de
Santa Cruz, marcaram atos nas
capitais dos departamentos para as 16h de sexta. Também foi
criada a Junta Autonômica Democrática da Bolívia, cujo objetivo declarado é "alcançar a autonomia departamental plena".
O evento de sexta vem sendo
tratado como o principal ato de
força contra Morales desde que
a bancada governista na Constituinte passou a aprovação dos
artigos constitucionais por
maioria simples, com a exceção
dos três considerados mais polêmicos, que precisariam de
dois terços. O MAS controla
pouco mais da metade das cadeiras da Constituinte, instalada em Sucre.
Os governadores rechaçam
esse sistema de votação e exigem que todos os artigos sejam
votados por dois terços, como
determina a Lei de Convocatória, aprovada pelo Congresso e
sancionada por Morales em
março. A oposição alega que, se
mantida a votação por maioria
simples, o governo poderia tirar da pauta o tema de maior
autonomia departamental, que
foi motivo de um referendo
realizado em julho, junto com a
eleição dos assembleístas.
A resposta em favor de maior
autonomia foi vencedora nos
quatros departamentos das
terras baixas, enquanto o
"não", defendido por Morales,
ganhou nos demais cinco departamentos bolivianos.
O Comitê Pró-Santa Cruz,
controlado por empresários e
responsável pela organização
do evento no departamento
mais rico do país, nega que esteja pregando a divisão do país.
"Apenas uma minoria radical
está pedindo a independência,
mas nossa organização nunca
reivindicou isso", disse à Folha
o porta-voz Daniel Castro.
Juntos, os quatro departamentos, localizados nas terras
baixas bolivianas, reúnem 80%
da população do país, estimada
em cerca de 9 milhões.
(FABIANO MAISONNAVE)
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