São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 2006

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Oposição boliviana ameaça declarar independência

Morales exorta Forças Armadas a "defender nação boliviana" de governadores separatistas

Líderes dos departamentos da "meia lua" dizem que declaração de autonomia ou até de independência ocorrerá nesta sexta-feira


DO ENVIADO A LA PAZ

O presidente boliviano, Evo Morales, exortou ontem as Forças Armadas a "defender a nação boliviana", em resposta à ameaça de governadores oposicionistas de quatro departamentos de declarar, durante eventos simultâneos nesta sexta-feira, maior autonomia em relação a La Paz ou mesmo a independência da chamada "meia lua", como é chamada a região do país que concentra a oposição ao governo federal.
Em discurso a oficiais do Exército pela manhã, Morales qualificou o movimento dos governadores de "traição à pátria" e, dirigindo-se aos militares, os conclamou: "Na pátria não se toca, pelo que vamos defendê-la, vamos defender a nação boliviana".
O presidente disse que o movimento de greve de fome, realizado pela oposição sobretudo em Santa Cruz, tem como objetivo "uma divisão ou separação da pátria" e afirmou que a autonomia "já é uma realidade". Ele lembrou que os governadores foram eleitos por voto direto pela primeira vez na história há um ano e que os departamentos controlam 50% do Orçamento do país.

Bloqueio
Ontem, representantes do partido governista, MAS (Movimento ao Socialismo), estavam reunidos em Sucre para discutir como reagirão as concentrações da oposição. Uma das propostas em análise, feita pelos cocaleiros, é bloquear as estradas de acesso a Santa Cruz para sufocar a manifestação.
É a segunda vez nos últimos dias em que Morales ameaça empregar as Forças Armadas. No sábado, disse que: "estes inimigos da Bolívia entendem que autonomia é secessão, separação da Bolívia, e não haverá nenhuma divisão, nenhuma separação na nossa pátria, as Forças Armadas estão aí".
Anteontem, durante reunião em Santa Cruz, governadores e líderes dos comitês cívicos de Pando, Beni, Tarija, além de Santa Cruz, marcaram atos nas capitais dos departamentos para as 16h de sexta. Também foi criada a Junta Autonômica Democrática da Bolívia, cujo objetivo declarado é "alcançar a autonomia departamental plena".
O evento de sexta vem sendo tratado como o principal ato de força contra Morales desde que a bancada governista na Constituinte passou a aprovação dos artigos constitucionais por maioria simples, com a exceção dos três considerados mais polêmicos, que precisariam de dois terços. O MAS controla pouco mais da metade das cadeiras da Constituinte, instalada em Sucre.
Os governadores rechaçam esse sistema de votação e exigem que todos os artigos sejam votados por dois terços, como determina a Lei de Convocatória, aprovada pelo Congresso e sancionada por Morales em março. A oposição alega que, se mantida a votação por maioria simples, o governo poderia tirar da pauta o tema de maior autonomia departamental, que foi motivo de um referendo realizado em julho, junto com a eleição dos assembleístas.
A resposta em favor de maior autonomia foi vencedora nos quatros departamentos das terras baixas, enquanto o "não", defendido por Morales, ganhou nos demais cinco departamentos bolivianos.
O Comitê Pró-Santa Cruz, controlado por empresários e responsável pela organização do evento no departamento mais rico do país, nega que esteja pregando a divisão do país. "Apenas uma minoria radical está pedindo a independência, mas nossa organização nunca reivindicou isso", disse à Folha o porta-voz Daniel Castro.
Juntos, os quatro departamentos, localizados nas terras baixas bolivianas, reúnem 80% da população do país, estimada em cerca de 9 milhões.
(FABIANO MAISONNAVE)


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