São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 2006

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"Acadêmicos" negam no Irã Holocausto de judeus

Encontro foi idéia do presidente Ahmadinejad

DA REDAÇÃO

O governo iraniano abriu ontem uma "conferência acadêmica" de dois dias para tentar provar que não houve genocídio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
O presidente Mahmoud Ahmadinejad, idealizador do encontro, há meses qualificou o Holocausto de "mito" e afirmou que Israel deveria "ser varrido do mapa".
Organizado por uma instituição ligada ao Ministério das Relações Exteriores, o encontro conta com a participação de 67 supostos especialistas.
Um deles é o australiano Frederick Toben, professor secundário aposentado que já cumpriu pena de nove meses de prisão, na Alemanha, por exortação ao racismo.
Da conferência também participa David Duke, que pertence à hoje decadente organização racista americana Ku Klux Klan, e o francês Robert Faurisson, autor de uma tese segundo a qual os nazistas não tinham tecnologia suficiente para construir câmaras de gás em campos de concentração.
São representantes da chamada corrente revisionista da história, que procura dar uma certa legitimidade ao nazismo.
Estão igualmente presentes dois rabinos de um grupo ortodoxo denominado Judeus Unidos contra o Sionismo. Eles não negam o Holocausto, mas se opõem ao Estado de Israel.
Moris Motamed, o único deputado judeu no Parlamento iraniano, qualificou o encontro de "um imenso insulto".
O governo do Irã negou visto a Khaled Mahameed, árabe e cidadão israelense e diretor de um museu sobre o Holocausto em Nazaré, em Israel.
O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, qualificou a conferência iraniana de uma iniciativa "nauseante". Em carta a Ahmadinejad, o presidente do Parlamento alemão, Norbert Lammert, afirmou condenar "essa tentativa de fazer propaganda anti-semita debaixo do pretexto de liberdade científica e objetividade".
O chefe da diplomacia iraniana, Manouchehr Mottaki, defendeu em discurso o seguinte raciocínio: se o Holocausto não for confirmado, não teriam existido motivos para a criação de Israel; mas se ele for confirmado, os palestinos não devem pagar o preço por um genocídio cometido por Hitler. Nenhuma das alternativas justificaria o reconhecimento dos direitos de Israel à a existência.
O Memorial do Holocausto, em Israel, divulgou declaração em que qualificou o encontro em Teerã de uma tentativa de "pintar uma pauta extremista com um lustro acadêmico".
O escritor e pacifista israelense Amos Oz qualificou a iniciativa de "uma piada doentia" que deve receber reações de repulsa no plano mundial.
A "conferência" coincide com um encontro acadêmico sobre o mesmo tema em Berlim. Um de seus participantes, Wolfgang Benz, afirmou que "é algo político que não tem nada a ver com a história". O ex-presidente de uma associação judaica australiana, Jeremy Jones, disse tratar-se de "obscena propaganda anti-semita".

Protestos
Em ato sem relação com a "conferência", estudantes da Universidade Amir Kabir vaiaram ontem o presidente Amadinejad, queimaram seu retrato e o chamaram de ditador.


Com agências internacionais

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