São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 2009

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Popularidade de chilena não chega às urnas

Bachelet investe em programas sociais para conseguir aprovação mais alta a um governante no Chile redemocratizado

Com discurso focado na renovação, porém, oposição é favorita na disputa de amanhã contra o candidato governista Eduardo Frei


THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

A eleição de Michelle Bachelet em 2006 marcou uma mistura de continuidade e mudança na política do Chile. Se a persistência vinha da quarta vitória consecutiva da Concertação, a aliança esquerdista no poder desde 1990, a transformação chegava com a primeira mulher presidente do país.
Após um primeiro ano complicado, com protestos estudantis e fracasso na reforma do transporte público em Santiago, Bachelet termina o mandato com a maior aprovação presidencial desde a redemocratização do Chile, roçando os 80%, mas vê a bandeira da mudança e o favoritismo em sua sucessão passarem à oposição, com o conservador Sebastián Piñera à frente nas pesquisas rumo ao primeiro turno presidencial de amanhã.
Embora a Concertação seja criticada pela falta de renovação na eleição, optando pela candidatura do ex-presidente Eduardo Frei (1994-1999), o governo se tornou parte do problema ao não cumprir promessa de renovação da máquina pública, expressa na frase de Bachelet ao assumir: "Ninguém repetirá o mesmo prato". Os ministros de Bachelet, contudo, levam, em média, 13 anos em cargos estatais.
"Bachelet tem alta popularidade porque não se envolve em temas polêmicos. É parte do problema. Essa aprovação pouco serviu, porque ao fim do governo não beneficia a candidatura oficial", diz o analista político chileno Carlos Huneeus.
Por outro lado, Bachelet consolidou a rede de proteção social que é hoje consenso no país, a ponto de os quatro candidatos presidenciais prometerem sua manutenção e ampliação. "Nesse ponto vencemos a batalha das ideias", afirma a assessora pessoal da presidente e ex-ministra do Planejamento Clarisa Hardy.
A base da rede é o programa Chile Solidário, focado na extrema pobreza. Com 332 mil famílias atendidas, sua primeira fase tem dois anos, mede 53 aspectos de qualidade de vida e promove repasses mensais decrescentes de R$ 33 a R$ 12.
A segunda, de três anos, prevê acesso preferencial a programas estatais -capacitação profissional e prevenção de violência familiar, por exemplo- e subsídios específicos, como para grávidas.

Ampliação da rede
Bachelet desdobrou o Chile Solidário no Chile Cresce Contigo, que garante, por exemplo, educação pré-escolar gratuita para 60% das famílias mais pobres do país.
As ações se refletem nos índices sociais -a pobreza caiu de 38% em 1990 para 14% hoje; a desnutrição infantil recuou de 4,4% a 0,5% no mesmo período. Nesse aspecto, o país andino sofre agora problema comum em países desenvolvidos: a obesidade infantil dobrou e atinge 9,4% das crianças.
A atenção social também marcou o projeto mais emblemático da gestão: uma nova lei de Previdência Social aprovada em 2008 que criou uma pensão básica universal de R$ 292 para 40% dos idosos mais pobres do país, excluídos do sistema privado de aposentadoria instaurado na ditadura militar de Augusto Pinochet (1973-1990).
"Bachelet foi mais ministra de Proteção Social do que presidente. É um grande feito, mas permitido pelo contexto macroeconômico", diz o cientista político Patricio Navia.


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