São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2004

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Deserto do Saara vira nova frente da guerra americana ao terror

DA REDAÇÃO

Os Estados Unidos estão expandindo a sua guerra contra o terror para o deserto do Saara, no norte da África. Os departamentos de Estado e da Defesa informaram ontem que vão mandar tropas para treinar os Exércitos de Mauritânia, Níger, Mali e Chade.
Os EUA acreditam que a parte ocidental do Saara (cuja área total tem cerca de 8,6 milhões de km2, pouca coisa a mais do que todo o território brasileiro) tem muito a oferecer aos terroristas: fronteiras e costas pouco patrulhadas, laços comerciais e culturais com o Oriente Médio centenários e populações muçulmanas simpáticas ao líder terrorista Osama bin Laden e ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein.
Grandes áreas do Saara são "terras de ninguém", em que bandidos e sequestradores operam e ex-guerrilheiros buscam refúgio. Na semana passada, duas etapas do rali Paris-Dacar foram canceladas após o recebimento de informações de que ladrões planejavam uma emboscada contra os competidores.
"Existe um princípio militar que diz que um front calmo precisa ser vigiado e cuidado com a mesma seriedade reservada a um front ativo", disse uma autoridade diplomática norte-americana recentemente, sob a condição de não ter seu nome revelado.
"Já vimos como os terroristas operam. Ao invés de ir para os países óbvios, ele vão atrás dos pontos fracos. E geralmente são os países que têm níveis baixos de segurança", afirma o analista Dapo Oyewole, diretor-executivo em Londres do Centro para Políticas Africanas e Estudos da Paz.
"Uma equipe de especialistas militares está aqui desde sábado para ensinar, treinar e reforçar as capacidades das forças da Mauritânia encarregadas de vigiar as fronteiras", afirmou Pamela Bridgewater, vice-subsecretária de Estado para Assuntos Africanos, em Nouakchott (Mauritânia).
Indagada se sabia de ameaças contra alvos americanos na Mauritânia ou no Senegal, Bridgewater disse: "Sim, mas se trata de uma questão muito delicada, e não quero dar mais detalhes".
Além da equipe que já está na Mauritânia, mais soldados e funcionários de uma empresa de segurança contratada pelo governo dos EUA serão enviados. O custo da iniciativa para fechar as fronteiras contra traficantes, contrabandistas e terroristas está calculado em US$ 100 milhões.
Segundo o coronel M.J. Jadick, o programa de cooperação vai durar 60 dias. Soldados dos quatro países receberão treinamento sobre temas que vão de navegação no deserto ao desenvolvimento de táticas para unidades pequenas de infantaria. Os países também ganharão veículos militares, rádios e uniformes.
O programa anunciado pelo governo americano já enfrenta críticas. "Está longe de ser adequado. É preciso mais investimentos porque essas fronteiras são muito abertas. Os territórios são muito vastos", disse Princeton Lyman, do Council on Foreign Relations, um reputado centro de pesquisas dos Estados Unidos.
Assessores do Congresso dos EUA e centros independentes de pesquisa afirmam que células da Al Qaeda operam na Mauritânia. Pelo menos um dos principais assessores de Bin Laden veio do país. Dominada pelos 30% árabes da população, a nação tem vínculos antigos com Saddam e o partido Baath, do ex-ditador.
Desde a metade da década passada, porém, o país se voltou contra o regime de Saddam. O governo pró-Ocidente se aliou aos EUA e prendeu dezenas de pessoas suspeitas de serem extremistas islâmicos.


Com agências internacionais


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