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Deserto do Saara vira nova frente da guerra americana ao terror
DA REDAÇÃO
Os Estados Unidos estão expandindo a sua guerra contra o
terror para o deserto do Saara, no
norte da África. Os departamentos de Estado e da Defesa informaram ontem que vão mandar
tropas para treinar os Exércitos de
Mauritânia, Níger, Mali e Chade.
Os EUA acreditam que a parte
ocidental do Saara (cuja área total
tem cerca de 8,6 milhões de km2,
pouca coisa a mais do que todo o
território brasileiro) tem muito a
oferecer aos terroristas: fronteiras
e costas pouco patrulhadas, laços
comerciais e culturais com o
Oriente Médio centenários e populações muçulmanas simpáticas
ao líder terrorista Osama bin Laden e ao ex-ditador iraquiano
Saddam Hussein.
Grandes áreas do Saara são "terras de ninguém", em que bandidos e sequestradores operam e
ex-guerrilheiros buscam refúgio.
Na semana passada, duas etapas
do rali Paris-Dacar foram canceladas após o recebimento de informações de que ladrões planejavam uma emboscada contra os
competidores.
"Existe um princípio militar
que diz que um front calmo precisa ser vigiado e cuidado com a
mesma seriedade reservada a um
front ativo", disse uma autoridade diplomática norte-americana
recentemente, sob a condição de
não ter seu nome revelado.
"Já vimos como os terroristas
operam. Ao invés de ir para os
países óbvios, ele vão atrás dos
pontos fracos. E geralmente são
os países que têm níveis baixos de
segurança", afirma o analista Dapo Oyewole, diretor-executivo em
Londres do Centro para Políticas
Africanas e Estudos da Paz.
"Uma equipe de especialistas
militares está aqui desde sábado
para ensinar, treinar e reforçar as
capacidades das forças da Mauritânia encarregadas de vigiar as
fronteiras", afirmou Pamela Bridgewater, vice-subsecretária de Estado para Assuntos Africanos, em
Nouakchott (Mauritânia).
Indagada se sabia de ameaças
contra alvos americanos na Mauritânia ou no Senegal, Bridgewater disse: "Sim, mas se trata de
uma questão muito delicada, e
não quero dar mais detalhes".
Além da equipe que já está na
Mauritânia, mais soldados e funcionários de uma empresa de segurança contratada pelo governo
dos EUA serão enviados. O custo
da iniciativa para fechar as fronteiras contra traficantes, contrabandistas e terroristas está calculado em US$ 100 milhões.
Segundo o coronel M.J. Jadick,
o programa de cooperação vai
durar 60 dias. Soldados dos quatro países receberão treinamento
sobre temas que vão de navegação no deserto ao desenvolvimento de táticas para unidades pequenas de infantaria. Os países também ganharão veículos militares,
rádios e uniformes.
O programa anunciado pelo governo americano já enfrenta críticas. "Está longe de ser adequado.
É preciso mais investimentos porque essas fronteiras são muito
abertas. Os territórios são muito
vastos", disse Princeton Lyman,
do Council on Foreign Relations,
um reputado centro de pesquisas
dos Estados Unidos.
Assessores do Congresso dos
EUA e centros independentes de
pesquisa afirmam que células da
Al Qaeda operam na Mauritânia.
Pelo menos um dos principais assessores de Bin Laden veio do
país. Dominada pelos 30% árabes
da população, a nação tem vínculos antigos com Saddam e o partido Baath, do ex-ditador.
Desde a metade da década passada, porém, o país se voltou contra o regime de Saddam. O governo pró-Ocidente se aliou aos EUA
e prendeu dezenas de pessoas suspeitas de serem extremistas islâmicos.
Com agências internacionais
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