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Cochabamba é "paradoxo" na divisão política boliviana, afirma sociólogo
FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL
Considerado um dos principais analistas do país, o sociólogo cochabambino Fernando
Mayorga afirmou que sua cidade é um "paradoxo" dentro da
divisão político-geográfica da
Bolívia, na qual os evistas estão
concentrados no altiplano, e a
oposição, nos departamentos
das terras baixas, como Santa
Cruz. Cochabamba, no altiplano, é base de Evo Morales, mas
o governador é oposicionista.
Leia a entrevista, concedida
por telefone à Folha desde Cochabamba:
FOLHA - Por que o confronto?
FERNANDO MAYORGA - O país está
dividido em torno do tema da
autonomia para os departamentos. Em julho, houve um
referendo sobre o assunto. Em
Cochabamba, se deu o paradoxo: o "não" às autonomias venceu, mas a disputa para o governo foi vencida por Manfred Reyes Villa, rival de Evo Morales.
Desde o referendo, o país está
dividido entre os departamentos e também na Assembléia
Constituinte por causa do debate sobre a autonomia.
No mês de dezembro, houve
manifestações em favor da autonomia nos quatro departamentos onde o "sim" ganhou,
pedindo que a Constituinte
respeite essa posição.
Em Cochabamba, essa disputa se manifestou nas últimas
semanas, com uma proposta do
governador para convocar um
novo referendo sobre autonomia no departamento, desatando os pedidos de renúncia pelo
MAS [Movimento ao Socialismo, partido de Morales].
Essa dupla posição se traduziu numa divisão de grupos
dentro do departamento, em
termos culturais e de classe,
que ontem [anteontem] se enfrentaram, com saldo trágico.
FOLHA - O que pode ocorrer nos
próximos dias?
MAYORGA - Para que a situação
melhore, o governo Morales
tem de pedir aos seus manifestantes que deixem a cidade. Segundo, o governador Reyes Villa tem de retirar sua proposta
de um novo referendo. Essas
duas decisões podem pacificar
o ambiente, porque estamos
com risco de novas confrontações. Há cerca de 10 mil camponeses na cidade, e outros milhares estão chegando. Basta
que ocorra uma provocação de
qualquer um dos lados para que
a violência se repita.
A cidade está paralisada, deserta em vários lugares. Houve
uma concentração de cerca de
15 mil pessoas na praça central
que voltou a pedir a renúncia
do governador, mas seguiram a
recomendação de Morales para
evitar ações de vingança.
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