São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 2007

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Cochabamba é "paradoxo" na divisão política boliviana, afirma sociólogo

FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

Considerado um dos principais analistas do país, o sociólogo cochabambino Fernando Mayorga afirmou que sua cidade é um "paradoxo" dentro da divisão político-geográfica da Bolívia, na qual os evistas estão concentrados no altiplano, e a oposição, nos departamentos das terras baixas, como Santa Cruz. Cochabamba, no altiplano, é base de Evo Morales, mas o governador é oposicionista. Leia a entrevista, concedida por telefone à Folha desde Cochabamba:

 

FOLHA - Por que o confronto?
FERNANDO MAYORGA
- O país está dividido em torno do tema da autonomia para os departamentos. Em julho, houve um referendo sobre o assunto. Em Cochabamba, se deu o paradoxo: o "não" às autonomias venceu, mas a disputa para o governo foi vencida por Manfred Reyes Villa, rival de Evo Morales. Desde o referendo, o país está dividido entre os departamentos e também na Assembléia Constituinte por causa do debate sobre a autonomia. No mês de dezembro, houve manifestações em favor da autonomia nos quatro departamentos onde o "sim" ganhou, pedindo que a Constituinte respeite essa posição. Em Cochabamba, essa disputa se manifestou nas últimas semanas, com uma proposta do governador para convocar um novo referendo sobre autonomia no departamento, desatando os pedidos de renúncia pelo MAS [Movimento ao Socialismo, partido de Morales]. Essa dupla posição se traduziu numa divisão de grupos dentro do departamento, em termos culturais e de classe, que ontem [anteontem] se enfrentaram, com saldo trágico.

FOLHA - O que pode ocorrer nos próximos dias?
MAYORGA
- Para que a situação melhore, o governo Morales tem de pedir aos seus manifestantes que deixem a cidade. Segundo, o governador Reyes Villa tem de retirar sua proposta de um novo referendo. Essas duas decisões podem pacificar o ambiente, porque estamos com risco de novas confrontações. Há cerca de 10 mil camponeses na cidade, e outros milhares estão chegando. Basta que ocorra uma provocação de qualquer um dos lados para que a violência se repita.
A cidade está paralisada, deserta em vários lugares. Houve uma concentração de cerca de 15 mil pessoas na praça central que voltou a pedir a renúncia do governador, mas seguiram a recomendação de Morales para evitar ações de vingança.


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