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Parlamento de Israel quer barrar dois partidos árabes
Comissão determina que legendas não disputem eleição geral de 10 de fevereiro
Agremiações atingidas pela medida prometem recorrer à Suprema Corte do país; caso evidencia racha entre judeus e árabes israelenses
DA REDAÇÃO
A Comissão Central das Eleições, órgão do Parlamento israelense que regula os processos eleitorais, decidiu ontem
barrar a participação nas legislativas marcadas para 10 de fevereiro de duas legendas que
representam a minoria árabe
do país. Os dois partidos foram
acusados de apoiar grupos terroristas e de negar o direito de
existência de Israel.
O Lista Árabe Unida (centro)
e o Balad (esquerda), que juntos têm sete deputados, prometeram recorrer à Suprema Corte -que precisa se pronunciar
até sexta-feira, quando vence o
prazo para o registro de candidaturas ao pleito.
A moção de veto foi elaborada pelos partidos ultradireitistas Yisrael Beiteinu e União
Nacional, mas teve o apoio da
maioria da Comissão, incluindo deputados do Partido Trabalhista (centro-esquerda) e do
Kadima (centro-direita), que
integram a atual coalizão de governo. A alegação é a de que as
duas únicas agremiações integralmente formadas por árabes
ferem os princípios do Knesset,
o Legislativo unicameral.
Os mecanismos internos do
Knesset determinam que devem ser banidos do processo
eleitoral partidos que "negam a
existência de Israel como um
Estado judaico e democrático",
"promovem o racismo" ou
"apoiam a luta armada contra
Israel ao defenderem organizações terroristas".
Os partidos ultranacionalistas argumentam que os líderes
políticos árabe-israelenses se
posicionaram contra os ataques de Israel ao Hamas em
Gaza e já visitaram "países inimigos" como Síria e Líbano.
"Onde vocês [políticos árabe-israelenses] estavam nos últimos oito anos enquanto Sderot
era atacada [por mísseis do Hamas]?", provocou o deputado
David Rotem, do Yisrael Beiteinu, em meio à acalorada sessão
que culminou com a aprovação
do texto, por 26 dos 37 membros da Comissão.
O último partido banido da
vida parlamentar em Israel foi
o Kach, em 1986, por pregar a
expulsão dos cidadãos árabes.
Mesmo sem atuação na esfera política, o Kach continuou
ativo como movimento radical.
Em 1994, um de seus membros
massacrou 29 palestinos que
rezavam em uma mesquita em
Hebron. Em represália, o grupo
Hamas cometeu o seu primeiro
atentado suicida.
A moção despertou a revolta
dos partidos visados. "Foi um
julgamento político liderado
por fascistas e racistas que querem ver o Knesset sem árabes e
[Israel] sem árabes", disse Ahmed Tibi, da Lista Árabe Unida.
O procurador-geral de Israel,
cuja opinião deve ser levada em
conta pela Suprema Corte, já se
pronunciou contra o banimento dos partidos árabes.
O caso evidencia o racha na
vida pública e na sociedade israelense entre a maioria judaica de cerca de 5,7 milhões e a
minoria árabe de cerca de 1,4
milhão, que representa 20% da
população. Os árabes-israelenses são descendentes dos cerca
de 160 mil árabes que ficaram
em Israel após a primeira guerra árabe-israelense, em 1948.
Durante o conflito, que se seguiu à rejeição árabe da partilha da Palestina, 700 mil foram
expulsos do país ou fugiram.
Embora tenham se tornado
cidadãos israelenses, os árabes
sofreram vários tipos de discriminação. Até 1966, estavam
submetidos à lei marcial -terras de árabes podiam, por
exemplo, ser requisitadas e
ocupadas sem justificativa pelas forças de segurança.
Os primeiros partidos árabes
em Israel nasceram no final dos
anos 60. O Hadash, comunista,
reúne as duas comunidades. A
Lista Árabe Unida e o Balad foram criados nos anos 90.
Embora hoje desfrutem dos
mesmos direitos que os judeus,
os árabes de Israel se sentem
preteridos em distribuição de
verbas e políticas sociais. Os
árabes -muçulmanos e cristãos- também são dispensados de serviço militar, obrigatório para os judeus. Isso acaba
contribuindo para a discriminação, já que o serviço militar é
fator de status e experiência na
sociedade israelense.
Com agências internacionais
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