São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2009

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Parlamento de Israel quer barrar dois partidos árabes

Comissão determina que legendas não disputem eleição geral de 10 de fevereiro

Agremiações atingidas pela medida prometem recorrer à Suprema Corte do país; caso evidencia racha entre judeus e árabes israelenses

DA REDAÇÃO

A Comissão Central das Eleições, órgão do Parlamento israelense que regula os processos eleitorais, decidiu ontem barrar a participação nas legislativas marcadas para 10 de fevereiro de duas legendas que representam a minoria árabe do país. Os dois partidos foram acusados de apoiar grupos terroristas e de negar o direito de existência de Israel.
O Lista Árabe Unida (centro) e o Balad (esquerda), que juntos têm sete deputados, prometeram recorrer à Suprema Corte -que precisa se pronunciar até sexta-feira, quando vence o prazo para o registro de candidaturas ao pleito.
A moção de veto foi elaborada pelos partidos ultradireitistas Yisrael Beiteinu e União Nacional, mas teve o apoio da maioria da Comissão, incluindo deputados do Partido Trabalhista (centro-esquerda) e do Kadima (centro-direita), que integram a atual coalizão de governo. A alegação é a de que as duas únicas agremiações integralmente formadas por árabes ferem os princípios do Knesset, o Legislativo unicameral.
Os mecanismos internos do Knesset determinam que devem ser banidos do processo eleitoral partidos que "negam a existência de Israel como um Estado judaico e democrático", "promovem o racismo" ou "apoiam a luta armada contra Israel ao defenderem organizações terroristas".
Os partidos ultranacionalistas argumentam que os líderes políticos árabe-israelenses se posicionaram contra os ataques de Israel ao Hamas em Gaza e já visitaram "países inimigos" como Síria e Líbano.
"Onde vocês [políticos árabe-israelenses] estavam nos últimos oito anos enquanto Sderot era atacada [por mísseis do Hamas]?", provocou o deputado David Rotem, do Yisrael Beiteinu, em meio à acalorada sessão que culminou com a aprovação do texto, por 26 dos 37 membros da Comissão.
O último partido banido da vida parlamentar em Israel foi o Kach, em 1986, por pregar a expulsão dos cidadãos árabes.
Mesmo sem atuação na esfera política, o Kach continuou ativo como movimento radical. Em 1994, um de seus membros massacrou 29 palestinos que rezavam em uma mesquita em Hebron. Em represália, o grupo Hamas cometeu o seu primeiro atentado suicida.
A moção despertou a revolta dos partidos visados. "Foi um julgamento político liderado por fascistas e racistas que querem ver o Knesset sem árabes e [Israel] sem árabes", disse Ahmed Tibi, da Lista Árabe Unida.
O procurador-geral de Israel, cuja opinião deve ser levada em conta pela Suprema Corte, já se pronunciou contra o banimento dos partidos árabes.
O caso evidencia o racha na vida pública e na sociedade israelense entre a maioria judaica de cerca de 5,7 milhões e a minoria árabe de cerca de 1,4 milhão, que representa 20% da população. Os árabes-israelenses são descendentes dos cerca de 160 mil árabes que ficaram em Israel após a primeira guerra árabe-israelense, em 1948. Durante o conflito, que se seguiu à rejeição árabe da partilha da Palestina, 700 mil foram expulsos do país ou fugiram.
Embora tenham se tornado cidadãos israelenses, os árabes sofreram vários tipos de discriminação. Até 1966, estavam submetidos à lei marcial -terras de árabes podiam, por exemplo, ser requisitadas e ocupadas sem justificativa pelas forças de segurança.
Os primeiros partidos árabes em Israel nasceram no final dos anos 60. O Hadash, comunista, reúne as duas comunidades. A Lista Árabe Unida e o Balad foram criados nos anos 90.
Embora hoje desfrutem dos mesmos direitos que os judeus, os árabes de Israel se sentem preteridos em distribuição de verbas e políticas sociais. Os árabes -muçulmanos e cristãos- também são dispensados de serviço militar, obrigatório para os judeus. Isso acaba contribuindo para a discriminação, já que o serviço militar é fator de status e experiência na sociedade israelense.


Com agências internacionais

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