São Paulo, terça-feira, 13 de janeiro de 2009

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ARTIGO

Obama tem de repensar equipe

ROGER COHEN
DO "NEW YORK TIMES"

A equipe de Obama não gosta de divulgar muitas informações, mas tenho um furo sobre os assessores seniores que ele reuniu para promover uma nova política para o Oriente Médio no momento em que a guerra na faixa de Gaza corre solta. Shibley Telhami, Vali Nasr, Fawaz Gerges, Fouad Moughrabi e James Zogby -um grupo de respeitados estudiosos de origens árabe e iraniana, de larga experiência, que visa assinalar a disposição em repensar o Oriente Médio, com uma análise atenta para averiguar até que ponto o apoio complacente a Israel tem sido útil.
Nada disso -esqueça o que leu acima. Obama não tem planos para convocar essa equipe para tratar do problema israelo-palestino e do Irã. Na verdade, as pessoas que provavelmente exercerão papéis significativos em relação ao Oriente Médio no governo Obama formam uma lista um tanto quanto diferente.
Elas incluem Dennis Ross (que atuou como enviado de paz ao Oriente Médio sob Clinton e pode agora estender sua missão ao Irã); James Steinberg (como vice-secretário de Estado); Dan Kurtzer (ex-embaixador dos EUA em Israel), Dan Shapiro (assessor de longa data de Obama) e Martin Indyk (outro ex-embaixador em Israel, que tem vínculos estreitos com a próxima secretária de Estado, Hillary Clinton).
Não tenho nada contra homens inteligentes, motivados, progressistas e judeus -até porque me olhei no espelho. Conheço ou já conversei com todos eles. Todos são bem informados, têm mente aberta e são resolutos. Mesmo assim, deixam a desejar nos quesitos diversidade e "mudanças nas quais você pode acreditar".
Num artigo na "Newsweek", Michael Hirsh escreveu: "A experiência de Ross como enviado presidencial durante o fracassado processo de Oslo, além de principal negociador com a Síria, o torna uma escolha singularmente apropriada para promover uma renovação importante da política americana em quase todas as frentes".
Será mesmo? Eu me pergunto sobre a capacidade de "renovação importante" de alguém que fracassou por tanto tempo.
É importante que Obama transmita a mensagem certa desde o primeiro dia. Com as redes Al Jazeera e Al Arabiya colocando no ar 24 horas por dia de imagens da carnificina em Gaza, a mobilização no mundo árabe é intensa. A fúria contra Israel e os EUA é um augúrio tenebroso.

Credibilidade
Ignorar os assentamentos israelenses na Cisjordânia e o bloqueio israelense a Gaza não prejudica o interesse dos EUA em fomentar o sentimento palestino moderado? A política americana não deveria ser dirigida à reconciliação de um movimento palestino hoje dividido? Fora de suas alas terroristas, quais elementos do Hamas e do Hizbollah podem ser persuadidos a aderir ao centro?
Será que compreendemos o Oriente Médio cada vez mais sofisticado da Al Jazeera, onde, como me disse Telhami, professor da Universidade de Maryland, "as pessoas não são estúpidas, e nossa credibilidade caiu para quase zero"?
Formular essas perguntas não altera o compromisso dos EUA com a segurança de Israel dentro de suas fronteiras anteriores a 1967. Mas assinalaria que o consenso da era Bush de que Israel é incapaz de errar está prestes a ser contestado. Não me sinto encorajado -não pela equipe em que Ross supostamente exercerá papel tão importante, nem pelas resoluções aprovadas pelo Senado e pela Câmara dos Representantes. O primeiro ofereceu "compromisso inabalável" com Israel. A segunda reconheceu "o direito de Israel de defender-se de ataques lançados desde a faixa de Gaza". Nenhum dos dois fez críticas a Israel.
Entre as democracias progressistas, apenas no Congresso americano uma defesa contra o terror que resulta na morte de centenas de crianças palestinas não é motivo de exames de consciência. Na minha opinião, tal "defesa" israelense já extrapolou o permissível.
"Todos nos opomos ao terror", diz Telhami. "Mas de que maneira isso nos esclarece quanto à melhor maneira de avançar?"
O esclarecimento exigirá uma equipe mais ampla e nova para o Oriente Médio do que a que Obama está contemplando. A falta de conhecimentos especializados sobre o islã e a perspectiva árabe teve um custo alto em Camp David. Em dado momento foi preciso convocar o principal tradutor árabe do Departamento de Estado porque a falta de habilidades de negociação era aguda.
Obama deveria tomar nota disso, nomear um árabe-americano e um iraniano-americano para papéis de destaque e precaver-se contra uma equipe que o leve de volta ao futuro.
Ele disse durante a campanha que "uma abordagem resolutamente pró-Likud a Israel" não pode "ser a medida de nossa amizade com Israel". Agora, com o sangue correndo em Gaza, é chegada a hora das ações.


Tradução de CLARA ALLAIN


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