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No Chile, rivais centram debate em Pinochet e chefe da OEA
Último duelo antes de pleito
transcorre sem ataques
THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL
Confrontos sobre temas de
direitos humanos e o legado da
ditadura militar marcaram na
noite de anteontem o único debate entre o ex-presidente
Eduardo Frei (1994-1999) e o
empresário Sebastián Piñera
no segundo turno da eleição
presidencial no Chile, às vésperas da votação de domingo.
Candidato da Concertação, a
aliança de centro-esquerda que
governa o Chile desde o fim da
ditadura, há 20 anos, Frei apostou em vincular Piñera, um
moderado de direita, à gestão
do general Augusto Pinochet
(1973-1990). Citou, por exemplo, projeto de anistia a crimes
do regime proposto por Piñera
quando senador, em 1995.
O empresário negou "supremacia moral" da esquerda no
tema e disse ter retirado o projeto. Rebateu com o apoio dado
por Frei em 1995, como presidente, a um projeto que beneficiava acusados de violações de
direitos humanos. À época, a
iniciativa gerou crise no governo Frei -representante da Democracia Cristã, braço de centro da Concertação- pela oposição do Partido Socialista.
O tema direitos humanos é
uma das principais apostas da
Concertação para tentar reverter o jogo contra Piñera, que
venceu o primeiro turno por
44% a 29% e lidera as pesquisas
de intenção de voto para domingo. Na mesma noite do debate, a presidente Michelle Bachelet inaugurou o Museu da
Memória, em homenagem aos
3.195 mortos pela ditadura.
Frei citou o museu logo em
sua primeira intervenção, em
que também aludiu a seu papel
de continuador da gestão Bachelet -cuja aprovação beira
os 80%. Defendeu seu governo
-marcado pela crise asiática e
do qual saiu aprovado por apenas 28%- e foi mais incisivo.
"Frei foi mais agressivo, defendendo o papel do Estado para chegar ao eleitor de Marco
Enríquez-Ominami [dissidente do governo que teve 20% no
primeiro turno]", disse à Folha
o analista Bernardo Navarrete.
Piñera, por sua vez, destacou
que representa a mudança e
que o rival não fez um bom governo. Exibiu, por exemplo, fotos de casas populares defeituosas erguidas na gestão Frei.
Embora os candidatos tivessem se interrompido várias vezes durante o programa, o tom
foi mais ameno do que os debates do primeiro turno, sem críticas pessoais. A diversidade de
temas também ajudou a baixar
a temperatura -Piñera e Frei
elegeram até o melhor filme
chileno do ano: "La Nana".
Insulza
Com até seis pontos de frente
nas pesquisas, Piñera evitou
responder se apoiará, se eleito,
a reeleição de José Miguel Insulza, um líder histórico da
Concertação, como secretário-geral da OEA (Organização dos
Estados Americanos).
Em dezembro, o Conselho
Permanente da OEA apresentou proposta da Colômbia para
adiantar a eleição do secretário-geral, ideia rechaçada por
países como EUA e Venezuela.
Setores da mídia chilena afirmam que o adiantamento visa
reduzir a possibilidade de surgir um candidato alternativo a
Insulza, que, se reeleito, dirigirá a OEA por mais cinco anos.
O governo do Chile nega tentativa de antecipação -diz que
quer apenas fixar uma data para o pleito. Ontem, o chanceler
Mariano Fernández disse que
Insulza "já tem votos suficientes" para ser reeleito e criticou
a postura de Piñera.
"Parece que mudou de opinião, porque há algumas semanas respaldava a candidatura",
afirmou, ao lado do número um
da diplomacia americana para a
América Latina, Arturo Valenzuela, que disse que os EUA
ainda não se decidiram sobre
candidato nem data do pleito.
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