São Paulo, quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

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No Chile, rivais centram debate em Pinochet e chefe da OEA

Último duelo antes de pleito transcorre sem ataques

THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL

Confrontos sobre temas de direitos humanos e o legado da ditadura militar marcaram na noite de anteontem o único debate entre o ex-presidente Eduardo Frei (1994-1999) e o empresário Sebastián Piñera no segundo turno da eleição presidencial no Chile, às vésperas da votação de domingo.
Candidato da Concertação, a aliança de centro-esquerda que governa o Chile desde o fim da ditadura, há 20 anos, Frei apostou em vincular Piñera, um moderado de direita, à gestão do general Augusto Pinochet (1973-1990). Citou, por exemplo, projeto de anistia a crimes do regime proposto por Piñera quando senador, em 1995.
O empresário negou "supremacia moral" da esquerda no tema e disse ter retirado o projeto. Rebateu com o apoio dado por Frei em 1995, como presidente, a um projeto que beneficiava acusados de violações de direitos humanos. À época, a iniciativa gerou crise no governo Frei -representante da Democracia Cristã, braço de centro da Concertação- pela oposição do Partido Socialista.
O tema direitos humanos é uma das principais apostas da Concertação para tentar reverter o jogo contra Piñera, que venceu o primeiro turno por 44% a 29% e lidera as pesquisas de intenção de voto para domingo. Na mesma noite do debate, a presidente Michelle Bachelet inaugurou o Museu da Memória, em homenagem aos 3.195 mortos pela ditadura.
Frei citou o museu logo em sua primeira intervenção, em que também aludiu a seu papel de continuador da gestão Bachelet -cuja aprovação beira os 80%. Defendeu seu governo -marcado pela crise asiática e do qual saiu aprovado por apenas 28%- e foi mais incisivo.
"Frei foi mais agressivo, defendendo o papel do Estado para chegar ao eleitor de Marco Enríquez-Ominami [dissidente do governo que teve 20% no primeiro turno]", disse à Folha o analista Bernardo Navarrete.
Piñera, por sua vez, destacou que representa a mudança e que o rival não fez um bom governo. Exibiu, por exemplo, fotos de casas populares defeituosas erguidas na gestão Frei.
Embora os candidatos tivessem se interrompido várias vezes durante o programa, o tom foi mais ameno do que os debates do primeiro turno, sem críticas pessoais. A diversidade de temas também ajudou a baixar a temperatura -Piñera e Frei elegeram até o melhor filme chileno do ano: "La Nana".

Insulza
Com até seis pontos de frente nas pesquisas, Piñera evitou responder se apoiará, se eleito, a reeleição de José Miguel Insulza, um líder histórico da Concertação, como secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Em dezembro, o Conselho Permanente da OEA apresentou proposta da Colômbia para adiantar a eleição do secretário-geral, ideia rechaçada por países como EUA e Venezuela.
Setores da mídia chilena afirmam que o adiantamento visa reduzir a possibilidade de surgir um candidato alternativo a Insulza, que, se reeleito, dirigirá a OEA por mais cinco anos.
O governo do Chile nega tentativa de antecipação -diz que quer apenas fixar uma data para o pleito. Ontem, o chanceler Mariano Fernández disse que Insulza "já tem votos suficientes" para ser reeleito e criticou a postura de Piñera.
"Parece que mudou de opinião, porque há algumas semanas respaldava a candidatura", afirmou, ao lado do número um da diplomacia americana para a América Latina, Arturo Valenzuela, que disse que os EUA ainda não se decidiram sobre candidato nem data do pleito.


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