PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

O presidente Gonzalo Sánchez de Lozada deve renunciar, na opinião de Evo Morales, líder cocaleiro e deputado socialista boliviano que ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais de agosto.
 

Folha - Quais são as principais reivindicações dos bolivianos?
Evo Morales - Elas se referem a questões econômicas, devido ao empobrecimento do país, mas não apenas. Queremos que o gás que foi dado de presente às multinacionais pelos governos neoliberais volte para as mãos do Estado. Rechaçamos a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e a militarização da Bolívia em nome do combate às drogas e da erradicação das plantações de coca.

Folha - E as negociações com o governo...
Morales - Durante meses, dialogamos com o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada sem resultados. É preciso manter a pressão até que haja resultados concretos. Todos os trabalhadores devem se manifestar e bloquear as estradas. O presidente deve renunciar.

Folha - Por que o sr. defende a interrupção dos trabalhos de erradicação da coca na Bolívia?
Morales - A crise econômica foi agravada consideravelmente por causa do programa de erradicação da coca. Nos últimos anos, ele provocou a morte de 60 agricultores devido à repressão. O consumo de cocaína não diminuiu nos EUA apesar da erradicação de mais de 70% das plantações de coca na Bolívia. É impossível chegar à "coca zero", como querem os EUA. A coca é um símbolo de nossa cultura, de nossa solidariedade comunitária. É como imaginar a Igreja Católica sem o vinho. A coca é um pretexto norte-americano para militarizar a região.

Folha - O sr. espera alguma interferência do governo brasileiro?
Morales - O presidente Lula tem uma enorme responsabilidade. Ressurgem movimentos sociais em todo o continente. Lula tem de ajudar os bolivianos. Esperamos que ele rechace a Alca e que, juntos, derrotemos esta nova tentativa de colonização.

Folha - O movimento dos cocaleiros vem ganhando força política. Quais são suas propostas ?
Morales - O povo está cansado dos que governam em seu nome. Os aimarás, os quéchuas e os guaranis estão cansados do modelo neoliberal, que só traz mais fome e desemprego. Que os que nunca governaram sejam governo, que os bens do Estado e nossos recursos naturais não sejam mais roubados por multinacionais.


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