|
Próximo Texto | Índice
Brasil fará crítica a direitos humanos no Irã
Mudança de tom no conselho sobre o tema, em Genebra, é planejada como demonstração de que apoio a Teerã não é incondicional
Ao endurecer discurso na esfera humanitária, país busca estender margem de atuação para manter posição contra as sanções no CS
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
O Brasil está coordenando
sua posição sobre eventuais
sanções ao Irã no Conselho de
Segurança da ONU, em Nova
York, com sua ação sobre o país
no Conselho de Direitos Humanos da organização, em Genebra. Um endurecimento neste último o ajudaria a se credenciar como mediador na
questão nuclear.
Fontes ouvidas pela Folha
relatam uma triangulação
constante que inclui conversas
e reuniões abarcando ambos os
temas à medida que cresce a
pressão por novas sanções contra Teerã -o Irã passou a enriquecer urânio a um nível mais
alto nesta semana, ampliando
seu programa nuclear, que diz
ser pacífico, mas que para EUA
e aliados visa a bomba.
É nesse contexto que se
aproxima a revisão periódica
da situação dos direitos humanos no Irã pelo conselho em
Genebra, depois de amanhã.
A ideia do Itamaraty é tomar
uma posição mais firme em relação à violação de direitos humanos no Irã ao passo que
mantém o discurso contra sanções no CS -onde defende haver espaço ainda para diálogo.
Brasília estreitou os laços
com Teerã e tem recebido críticas abertas e veladas, vindas
dos demais países que antes
tentavam negociar com o governo iraniano o escrutínio de
seu programa nuclear e que
agora pedem sanções (EUA,
França e, a julgar pela última
semana, também a Rússia).
Com a visita do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva agendada para maio, é preciso marcar posição. Uma ação mais firme no Conselho de Direitos de
Humanos mostraria aos demais aliados que o Brasil não é
aliado irrestrito do Irã, dando
mais credibilidade à sua insistência pelo diálogo nuclear.
No mês passado, o chanceler
Celso Amorim declarou que as
questões não devem ser "misturadas". É uma brecha para
rever o histórico de evitar críticas duras ao país e se abster nas
votações sobre o tema na Assembleia Geral da ONU.
Outro passo nessa direção é
o discurso que a embaixadora
brasileira nas Nações Unidas
em Genebra, Maria Nazareth
Azevedo, fará durante a sessão
de revisão do Irã, depois de
amanhã. A fala, apurou a Folha, deve citar as prisões arbitrárias e condenações sumárias
à morte no país. Mesmo sem
mencionar a repressão pós-eleitoral (a mesma que Lula
chamou de "briga de torcida"),
cujo saldo foi de ao menos 20
mortos e centenas de ativistas
presos, a alusão é clara.
Mais de um observador ouvido pela reportagem aponta
uma mudança recente, discreta
mas firme, na posição brasileira. O Itamaraty também passou
a considerar "mais razoável" a
posição americana sobre o tema (os EUA são críticos firmes
das violações).
O Brasil já havia colocado,
em outras ocasiões, sua preocupação com a perseguição de
minorias e com os direitos das
mulheres no país -inclusive o
fez no encontro de Lula com
Mahmoud Ahmadinejad em
Brasília, em novembro. Desde
então, o tema continua sendo
discutido "a nível de embaixadas", segundo o Itamaraty.
A referência às prisões, porém, foi feita apenas na última
reunião da ONU em Nova York
sobre a questão, em dezembro.
Foi exatamente quando o país
se absteve de votar alegando
que o conselho em Genebra seria o fórum adequado.
Entidades de direitos humanos pressionam agora pelo
cumprimento da promessa e,
como pediu a Conectas em carta dirigida a Amorim, "recomendações concretas e mensuráveis ao Estado iraniano".
Próximo Texto: Foto de protestos no país é eleita a melhor de 2009 Índice
|