São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2007

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China quer imposto do cachorro

Proposta ao Parlamento procura limitar cães domésticos e diminuir 2.000 mortes anuais por raiva

Preocupação com limpeza e saúde já levou Pequim a limitar cachorros a um por família; cidade do oeste matou 500 mil animais

Aly Song - 31.jan.2007/Reuters
Meninas brincam com seus cachorros na periferia de Xangai; deputado teme aumento da raiva


DA REDAÇÃO

Um deputado chinês propôs ontem ao Parlamento a instituição de um imposto para os proprietários de cachorros, como forma de controlar a expansão desses animais domésticos e financiar o combate à raiva.
Jiang Deming, que é também vice-diretor do Centro de Pesquisas Tecnológicas Agrárias da China, argumenta que no ano passado 2.000 chineses morreram de hidrofobia e que, sem um imposto que contenha o número de animais, a incidência de raiva tenda a aumentar. O projeto faz parte de conjunto controvertido de políticas que autoridades chinesas têm adotado contra os cães.
Desde novembro vigora em Pequim lei que permite apenas um cão por família. Mas os moradores se recusam a entregar o segundo animal à carrocinha, e 200 pessoas participaram de uma manifestação que qualificou a exigência de arbitrária.
Segundo a BBC, o deputado Jiang também disse estar preocupado com a limpeza urbana e com a eliminação das fezes que sujam as calçadas.
Além do "imposto do cachorro", ele quer proibir a criação nas cidades de cães excessivamente grandes ou de raças que tenham um comportamento mais agressivo.
Um outro argumento dele é o de que o imposto desencorajaria pessoas mais pobres a criarem cães domésticos.

Meio milhão de vítimas
Em agosto do ano passado, depois da morte por raiva de 16 pessoas, as autoridades municipais de Jining, na Província de Shandong, a oeste do país, decidiram matar todos os cães na cidade e em aldeias num raio de cinco quilômetros.
Cerca de 500 mil animais foram mortos. Um grupo ocidental de defesa dos direitos animais, chamado Peta, lançou campanha pelo boicote a produtos chineses.
Jornalistas locais disseram que os proprietários dos animais se recusavam a entregá-los à carrocinha e tinham como alternativa envenená-los diante dos fiscais.
O jornal britânico "The Guardian" relata que no distrito de Wanzhou os proprietários de cães têm até o próximo dia 16 para entregá-los ou comprovar que eles foram mortos.
Uma outra entidade ocidental de proteção, a Humane Society, distribuiu nota em que acusava as autoridades chinesas de negligência por não vacinarem os animais.
O fato de ser ou não proprietário de cães domésticos foi por muito tempo na China uma questão privada, sem maiores ingerências do setor público.
O quadro mudou com a proliferação da hidrofobia e com a incompetência das campanhas de vacinação. Além disso, com a aparição de uma nova classe de ricos, ser proprietário de um cão de raça também passou a dar status social.
Em Nanquim, em maio de 2004, a mídia relatou o pedido de divórcio de um cidadão cujo cachorro, chamado Tigrinho Negro, foi morto por sua mulher. Ela não se conformava com a sujeira feita pelo cão num apartamento luxuoso que eles compraram.
Na época, com estimados 700 casos de morte por hidrofobia a menos que hoje, a Universidade de Pequim publicou estudo afirmando que proprietários de cães tinham mais saúde e eram mais felizes que o restante da população.
Arqueólogos acreditam que a China foi o primeiro país, há cerca de 12 mil anos, em que os cães foram domesticados.
Trata-se também do país em que cerca de 300 mil animais são criados especialmente para o corte. A carne de cachorro é bastante cara e é consumida por uma minoria.


Com agências internacionais


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