São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

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Por "sapatada" em Bush, jornalista é condenado a 3 anos de cadeia no Iraque

DA REDAÇÃO

O jornalista iraquiano Muntader al Zaidi foi condenado ontem a três anos de prisão por ter atirado seus sapatos no ex-presidente George W. Bush - sob a lei local, crime de agressão a um chefe de Estado visitante.
Zaidi, aclamado como herói pelos críticos da invasão americana do Iraque, se declarou inocente à corte: "Minha reação foi natural, como qualquer iraquiano [faria]".
O jornalista está preso desde 14 de dezembro, quando, durante uma entrevista coletiva, lançou seus sapatos no então presidente dos EUA, em viagem-surpresa ao Iraque. O ato é considerado uma ofensa grave no mundo árabe, dada a conotação de impureza do sapato.
O julgamento começou em 19 de fevereiro, e a sessão de ontem durou só uma hora. Zaidi foi ovacionado pelo público ao chegar, sob escolta policial, ao Tribunal Central Penal do Iraque -corte em Bagdá formada especialmente para grandes casos, inclusive de terrorismo.
Os juízes rejeitaram um dos principais argumentos da defesa, que, para descaracterizar o crime, sustentava que Bush não estava em visita oficial.
Segundo o tribunal, a pena de três anos (mínima de um máximo de 15 anos) foi branda porque Zaidi não tem antecedentes criminais. A defesa, que tentou reduzir a acusação de agressão para insulto, considerou a sentença severa e deve recorrer.
"Zaidi só expressou seu sentimento", disse à corte o advogado Dhiya al Saadi. "O que ele via, enquanto Bush falava sobre seus êxitos no Iraque, era o sangue dos iraquianos sob seus pés."
"Viva o Iraque", gritou o jornalista -que tem 30 anos e trabalha para a TV árabe Al Bagdadia- ao ouvir o veredicto. Uma irmã do jornalista começou a chorar, e o irmão, Udai al Zaidi, atribuiu a decisão "de caráter político" ao premiê iraquiano, Nuri al Maliki, aliado dos EUA.
Já Bush -que conseguira se desviar dos sapatos- foi, à época, irônico sobre o incidente. "Tudo que posso dizer é que [o sapato] era tamanho 41", comentou em 14 de dezembro. Ontem, seu porta-voz, Rob Saliterman, só disse que se trata de "um assunto da Justiça iraquiana".
A Federação Internacional de Jornalistas chamou a sentença de "desproporcional". A Repórteres Sem Fronteiras condenou o ato de Zaidi, mas disse que "não se justifica essa condenação num país em que tantos assassinos de jornalistas escapam da Justiça".
Pesquisa das redes ABC News, BBC e NHK divulgada ontem aponta que 62% dos iraquianos consideram Zaidi um herói, e 24% o veem como criminoso.


Com agências internacionais



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