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Brasil não intervirá por cubanos, diz Garcia
Assessor de Lula afirma que criticar o regime castrista é "contraproducente" e que melhor forma de ajudar é "não tomar partido"
Político qualifica de "laterais"
declarações de Lula sobre greve de fome e diz que Cuba "não é paradigma de direitos humanos" para o Brasil
Sebastião Moura/Efe
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Marco Aurélio Garcia disse que falas de Lula foram "laterais"
DA REDAÇÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
O assessor da Presidência para Assuntos Internacionais,
Marco Aurélio Garcia, afirmou
ontem que o governo brasileiro
"não é uma ONG" e que não irá
intervir na atual crise dos direitos humanos em Cuba porque
"se relaciona com outros governos, e não com dissidentes".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atraiu críticas ao dizer, no começo desta semana,
que a Justiça cubana deve ser
respeitada por prender pessoas
com base na lei do país e que
"greve de fome não pode ser
utilizada como pretexto de direitos humanos" para libertar
presos. "Imagine se todos os
bandidos presos em São Paulo
entrarem em greve de fome e
pedirem liberdade", comparou
o presidente que, em fevereiro,
visitou Havana no dia seguinte
à morte do preso político Orlando Zapata Tamayo após greve de fome de 85 dias.
Em meio à greve de fome que
o dissidente Guillermo Fariñas
iniciou após a morte de Zapata
-e que já dura 18 dias-, o presidente, que jejuou nos anos
1980, durante a ditadura militar brasileira, disse ainda que a
prática é uma "insanidade".
Fariñas está hospitalizado
desde anteontem, quando teve
seu segundo desmaio. Ele diz
que Lula é "cúmplice" da tirania do regime castrista.
Ontem, durante entrevista
em São Paulo, Garcia disse que
Lula trata da questão dos direitos humanos em Cuba "com a
discrição que ele acha que tem
que tratar" e defendeu que, às
vezes, "a melhor forma de ajudar é não tomar partido". Para
o assessor, os cubanos não dialogam "na base da exigência" e,
por isso, criticar seria "contraproducente." Ele exemplificou
com políticas dos EUA que, diz,
"agravaram" a situação "não só
de cem dissidentes, mas de milhões de pessoas".
Para o assessor, as declarações de Lula foram "laterais" e
"não refletem a posição do Brasil e nem do Lula sobre os direitos humanos". Segundo Garcia,
o país faz defesa "intransigente" dos direitos humanos, mas
só debate "nos fóruns multilaterais". "O regime de Cuba não
é paradigma para o nosso."
Sobre a carta enviada por dissidentes cubanos a Lula pedindo que ele intercedesse para
evitar a morte de Fariñas, Garcia confirmou sua devolução
por falta de assinaturas e ressaltou acreditar que o presidente não pode reagir a "qualquer documento".
O ministro Paulo Vanucchi
(Direitos Humanos) também
defendeu Lula ao falar da polêmica, ontem. Ele disse que "não
dá para concordar que tenha
preso de opinião" nem em Cuba e nem em "nenhum lugar do
mundo", mas que Lula não deve se pautar "a partir do enquadramento editorial que se quer
fazer". "O que o presidente está
dizendo é que não vai intervir
na situação cubana."
"Minha fala como autoridade
é de que qualquer situação entre vida e morte é um problema
de todos nós", disse Vannuchi,
durante aula inaugural do ensino médio da Escola Politécnica
de Saúde, da Fiocruz, no Rio.
Quanto à comparação de Lula entre os presos políticos cubanos e presos comuns brasileiros, o ministro também o defendeu. "Já fiz greve de fome e o
presidente disse várias vezes
que isso não tem cabimento."
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