São Paulo, sábado, 13 de março de 2010

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Brasil não intervirá por cubanos, diz Garcia

Assessor de Lula afirma que criticar o regime castrista é "contraproducente" e que melhor forma de ajudar é "não tomar partido"

Político qualifica de "laterais" declarações de Lula sobre greve de fome e diz que Cuba "não é paradigma de direitos humanos" para o Brasil

Sebastião Moura/Efe
Marco Aurélio Garcia disse que falas de Lula foram "laterais"

DA REDAÇÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

O assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, afirmou ontem que o governo brasileiro "não é uma ONG" e que não irá intervir na atual crise dos direitos humanos em Cuba porque "se relaciona com outros governos, e não com dissidentes".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atraiu críticas ao dizer, no começo desta semana, que a Justiça cubana deve ser respeitada por prender pessoas com base na lei do país e que "greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de direitos humanos" para libertar presos. "Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade", comparou o presidente que, em fevereiro, visitou Havana no dia seguinte à morte do preso político Orlando Zapata Tamayo após greve de fome de 85 dias.
Em meio à greve de fome que o dissidente Guillermo Fariñas iniciou após a morte de Zapata -e que já dura 18 dias-, o presidente, que jejuou nos anos 1980, durante a ditadura militar brasileira, disse ainda que a prática é uma "insanidade".
Fariñas está hospitalizado desde anteontem, quando teve seu segundo desmaio. Ele diz que Lula é "cúmplice" da tirania do regime castrista.
Ontem, durante entrevista em São Paulo, Garcia disse que Lula trata da questão dos direitos humanos em Cuba "com a discrição que ele acha que tem que tratar" e defendeu que, às vezes, "a melhor forma de ajudar é não tomar partido". Para o assessor, os cubanos não dialogam "na base da exigência" e, por isso, criticar seria "contraproducente." Ele exemplificou com políticas dos EUA que, diz, "agravaram" a situação "não só de cem dissidentes, mas de milhões de pessoas".
Para o assessor, as declarações de Lula foram "laterais" e "não refletem a posição do Brasil e nem do Lula sobre os direitos humanos". Segundo Garcia, o país faz defesa "intransigente" dos direitos humanos, mas só debate "nos fóruns multilaterais". "O regime de Cuba não é paradigma para o nosso."
Sobre a carta enviada por dissidentes cubanos a Lula pedindo que ele intercedesse para evitar a morte de Fariñas, Garcia confirmou sua devolução por falta de assinaturas e ressaltou acreditar que o presidente não pode reagir a "qualquer documento".
O ministro Paulo Vanucchi (Direitos Humanos) também defendeu Lula ao falar da polêmica, ontem. Ele disse que "não dá para concordar que tenha preso de opinião" nem em Cuba e nem em "nenhum lugar do mundo", mas que Lula não deve se pautar "a partir do enquadramento editorial que se quer fazer". "O que o presidente está dizendo é que não vai intervir na situação cubana."
"Minha fala como autoridade é de que qualquer situação entre vida e morte é um problema de todos nós", disse Vannuchi, durante aula inaugural do ensino médio da Escola Politécnica de Saúde, da Fiocruz, no Rio.
Quanto à comparação de Lula entre os presos políticos cubanos e presos comuns brasileiros, o ministro também o defendeu. "Já fiz greve de fome e o presidente disse várias vezes que isso não tem cabimento."


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