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OPINIÃO
Falas de Lula ilustram desafio diplomático
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
AO EQUIPARAR dissidentes em Cuba a presos comuns, o presidente Lula não apenas demonstrou fidelidade obsoleta
ao que há de pior na ditadura
cubana, como já se disse, mas
também expôs uma posição
que é em tudo reacionária, obscurantista.
Em primeiro lugar, porque a
objeção de consciência é um direito humano consagrado, e
não só contra ditaduras. Mesmo em países democráticos, o
indivíduo pode, por exemplo,
se recusar a servir numa guerra
à qual se opõe.
Depois, porque a greve de fome pode ser sim instrumento
legítimo de pressão de presos
comuns -ainda mais no Brasil,
onde a Justiça é desigual, as
condições carcerárias causam
escândalos e a tortura é rotina
em delegacias, em geral contra
os pobres.
Mas as declarações de Lula e
de sua equipe no caso de Cuba
também acentuam um desafio
que a diplomacia brasileira terá
de enfrentar.
Está claro que, na questão
dos direitos humanos, não é
mais exequível se escudar apenas no princípio da não ingerência, que demandaria o silêncio absoluto -sem a defesa dos
opositores cubanos ou, como
foi feito, do regime.
Quando mais atuar globalmente, mais o país será cobrado a se pronunciar sobre o tema, inscrito na Carta brasileira.
Para isso, terá que construir
um novo paradigma, mais coerente, o que não é simples.
Abordar direitos humanos de
forma seletiva é atrair problemas. O Brasil não pode distribuir elogios e críticas unilateralmente, exceto em casos evidentes de massacre de civis,
porque se arriscaria a atuar ao
sabor de lobbies, a limitar seu
possível papel mediador, a ser
acusado de hipocrisia e a terminar isolado e atacado, por falta
de realismo.
Mudanças
Mas o país pode mudar em
dois níveis. Primeiro, na região
e no continente.
A condenação ao golpe em
Honduras, por exemplo, não foi
um gesto unilateral brasileiro.
Sua legitimidade decorreu da
existência de um instrumento
multilateral, a Carta Democrática da OEA (Organização dos
Estados Americanos), que, se é
imprecisa em outros itens, prevê sanções coletivas à derrubada à força de governos eleitos.
Se pretende exercer liderança regional, o Brasil terá de,
mais cedo ou mais tarde, negociar mecanismo semelhante
para violações de direitos humanos, algo que vá além do caráter normativo ou aspiracional dos tratados e declarações
sobre o assunto.
No plano global, o Brasil precisa ser mais transparente sobre suas posições, sobretudo no
Conselho de Direitos Humanos
das Nações Unidas, no qual a
diplomacia com frequência argumenta que negociar com os
acusados de violações é mais
produtivo do que sanções ou
condenações rígidas.
Isso é verdadeiro até certo
ponto. No Zimbábue, a insistência dos vizinhos na mediação resultou em acordo entre o
regime de Robert Mugabe e a
oposição. No Sudão, funcionou
uma mistura de pressão e diálogo -hoje, mesmo os EUA negociam com Cartum sobre o conflito em Darfur.
O problema é que nem sempre fica claro o objetivo ou o
porquê das opções brasileiras
por diferentes gradações de firmeza, originando suspeitas sobre negociatas de prestígio e
votos em outras instâncias. Por
isso, é necessário que a exposição de motivos seja feita com
clareza e discutida de forma
madura com a sociedade.
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