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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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Novo regime traz marca dos neoconservadores

DA REPORTAGEM LOCAL

Se implementado conforme o planejado até agora, o projeto para a reconstrução do Iraque poderá representar mais uma vitória significativa de um importante grupo que, em larga escala, tem ditado os rumos do atual governo norte-americano. São os chamados neoconservadores.
O grupo reúne gente importante do atual governo como Dick Cheney, vice-presidente; Donald Rumsfeld, secretário de Defesa; Paul Wolfowitz, subsecretário de Defesa, e Condoleezza Rice, assessora de Segurança Nacional.
A ideologia em comum foi herdada de um passado também em comum. Todos eles tiveram passagens pelos famosos centros de investigação ("think tanks") de direita dos Estados Unidos.
Para ter uma idéia do forte caráter conservador desses centros de investigação, até a revista "The Economist" -considerada baluarte das teses liberais de direita- descreveu seus objetivos de forma irônica em um artigo publicado em fevereiro passado.
Dizia o seguinte: "Guerra no Iraque? Essas pessoas têm planos para a transformação de todo o Oriente Médio. Capitalismo desenfreado? Essas pessoas têm projetos para levar a livre iniciativa ao espaço sideral".
Aparentemente, os "think tanks" norte-americanos estão dispostos a perseguir esses objetivos nem que para isso tenham de embarcar em guerras e projetos ambiciosos de reconstrução de países como o Iraque.
Os neoconservadores de hoje já haviam formado o time de conservadores da gestão de Bush pai. Dessa vez, no entanto, ganharam maior visibilidade. Para alguns analistas políticos dos EUA, isso ocorre porque Bush filho é mais facilmente influenciável mesmo.
Para outros, "a ocasião fez o ladrão". Depois dos atentados terroristas de 11 de setembro, o discurso neoconservador teria ganhado mais apelo. Afinal, gente como Wolfowitz já dizia, há anos, que o mundo era um lugar mais perigoso do que muitas pessoas imaginavam, que os EUA deveriam aumentar seus gastos militares e que a melhor forma de defesa, muitas vezes, é o ataque.
Não por acaso, Wolfowitz é atualmente considerado um dos principais idealizadores da política externa norte-americana.
Embora a estratégia neoconservadora tenha surpreendido em seus êxitos, como a rápida vitória militar, até agora, a reconstrução do Iraque pode ser um terreno mais perigoso do que foi a guerra.
Se levarem o projeto de reconstrução seriamente, os EUA enfrentarão riscos. Para especialistas em política externa, restauração do sistema educacional, por exemplo, pode facilmente redundar em tentativa de transformar os valores da sociedade iraquiana. O que não agradaria nem um pouco à população árabe.
Se, ao contrário, desistem logo do projeto, perigam acabar deixando um vácuo ainda maior para instabilidade na região.
Nada disso seria bom para a segurança norte-americana tão prezada pelos neoconservadores.
(EF)


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