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MÍDIA
"Boston Globe" também acredita ter sido iludido por Jayson Blair, responsável por inventar reportagens no jornal nova-iorquino
Repórter que enganou "Times" é acusado de mais fraudes
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
A mídia americana repercutiu
ontem o resultado de uma investigação do "New York Times" que
revelou fraudes em reportagens
de Jayson Blair, ex-jornalista do
diário americano.
Alguns veículos divulgaram
questionamentos à posição do
"Times" no caso. Jornais que também publicaram textos de Blair
apontaram que o repórter pode
ter cometido fraudes também em
suas páginas.
Anteontem, o diário nova-iorquino publicou extensa e destacada reportagem -quatro páginas
internas com uma chamada no alto de sua primeira página- indicando problemas em 36 textos
produzidos por Blair nos últimos
sete meses. A investigação ainda
não está encerrada.
Segundo o "Times", Blair desrespeitou normas de conduta ética do jornal de várias formas. As
investigações internas dizem que
ele assinou reportagens de lugares
onde não esteve, usou fotografias
para descrever lugares aos quais
nunca foi e inventou declarações
de pessoas que não entrevistou.
Por causa disso, o jornal editou
anteontem uma série de correções a informações que julga terem sido divulgadas de forma
equivocada.
Em texto no alto de sua primeira página, definiu o problema como "uma profunda quebra de
confiança e um ponto baixo nos
152 anos de história do jornal".
Mais acusações
Ontem, o "Boston Globe", diário em que Blair trabalhou antes
de ter sido contratado pelo "Times", disse haver indícios de que
o jornalista reproduziu citações
inexistentes nas reportagens que
produziu lá.
Já o "Star Telegram", jornal do
Texas que reproduziu textos escritos por ele para o "Times", avisou seus leitores das dúvidas sobre as reportagens.
O debate sobre a crise naquele
que é considerado o mais influente jornal do mundo foi alvo de reportagem do concorrente "The
Wall Street Journal".
No texto, analistas apontam que
o caso também revela graves erros
de procedimentos do "Times",
que não teria se preparado para
detectar o problema com antecedência. Na rede de TV CNN, um
comentarista disse esperar que o
jornal assuma parte da culpa pelo
que aconteceu.
Responsabilidades
Mas o publisher do "Times",
Arthur Ochs Sulzberger Jr., disse
que não vê motivo para isso. Declarou ao "Wall Street Journal":
"Nós temos um sistema feito para
descobrir venalidades? Não temos, e, quer saber, não estou descontente por isso. Não quero que
nos tornemos um Estado policial,
onde você suspeita de todo empregado". Sulzberger eximiu-se
pessoalmente de culpa: "Não vamos demonizar nossos executivos ou o publisher. A pessoa que fez isso é Jayson Blair".
Mas, na edição de ontem do "Times", um dos mais importantes
colunistas do jornal, William Safire, já especulava sobre como a
fraude teria se concretizado. Para
ele, o diário aparentemente ignorou outros erros do repórter por
causa de "editores ansiosos por
ver esse ambicioso jornalista negro ter sucesso".
Blair, 27, trabalhava no "Times"
desde junho de 1999. Ele não se
pronunciou após a reportagem
do domingo -segundo a revista
"Newsweek", estaria internado
num hospital. Em carta que diz
ter enviado ao jornal após ter pedido demissão, no último dia primeiro, afirmou: "Tenho lutado
contra problemas pessoais que
me causam grande dor e lamento
o que fiz".
À época, o "Times" acabara de
descobrir que ele copiara trechos
publicados pelo jornal "The San
Antonio Express-News" ao produzir um texto sobre a mãe de um
militar americano desaparecido
que no Iraque. Avisado, um editor do "Times" pediu explicações
a Blair, que inicialmente negou a
fraude.
O "Times" diz que pediu ao repórter auxílio para descobrir outros problemas em suas reportagens -Blair trabalhou em casos
importantes, como o do atirador
que apavorou os subúrbios de
Washington no ano passado. Segundo o diário, ele se recusou a
ajudar na investigação interna, e o
diário destacou uma equipe para
analisar seus textos.
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