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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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MÍDIA

"Boston Globe" também acredita ter sido iludido por Jayson Blair, responsável por inventar reportagens no jornal nova-iorquino

Repórter que enganou "Times" é acusado de mais fraudes

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

A mídia americana repercutiu ontem o resultado de uma investigação do "New York Times" que revelou fraudes em reportagens de Jayson Blair, ex-jornalista do diário americano.
Alguns veículos divulgaram questionamentos à posição do "Times" no caso. Jornais que também publicaram textos de Blair apontaram que o repórter pode ter cometido fraudes também em suas páginas.
Anteontem, o diário nova-iorquino publicou extensa e destacada reportagem -quatro páginas internas com uma chamada no alto de sua primeira página- indicando problemas em 36 textos produzidos por Blair nos últimos sete meses. A investigação ainda não está encerrada.
Segundo o "Times", Blair desrespeitou normas de conduta ética do jornal de várias formas. As investigações internas dizem que ele assinou reportagens de lugares onde não esteve, usou fotografias para descrever lugares aos quais nunca foi e inventou declarações de pessoas que não entrevistou.
Por causa disso, o jornal editou anteontem uma série de correções a informações que julga terem sido divulgadas de forma equivocada.
Em texto no alto de sua primeira página, definiu o problema como "uma profunda quebra de confiança e um ponto baixo nos 152 anos de história do jornal".

Mais acusações
Ontem, o "Boston Globe", diário em que Blair trabalhou antes de ter sido contratado pelo "Times", disse haver indícios de que o jornalista reproduziu citações inexistentes nas reportagens que produziu lá.
Já o "Star Telegram", jornal do Texas que reproduziu textos escritos por ele para o "Times", avisou seus leitores das dúvidas sobre as reportagens.
O debate sobre a crise naquele que é considerado o mais influente jornal do mundo foi alvo de reportagem do concorrente "The Wall Street Journal".
No texto, analistas apontam que o caso também revela graves erros de procedimentos do "Times", que não teria se preparado para detectar o problema com antecedência. Na rede de TV CNN, um comentarista disse esperar que o jornal assuma parte da culpa pelo que aconteceu.

Responsabilidades
Mas o publisher do "Times", Arthur Ochs Sulzberger Jr., disse que não vê motivo para isso. Declarou ao "Wall Street Journal": "Nós temos um sistema feito para descobrir venalidades? Não temos, e, quer saber, não estou descontente por isso. Não quero que nos tornemos um Estado policial, onde você suspeita de todo empregado". Sulzberger eximiu-se pessoalmente de culpa: "Não vamos demonizar nossos executivos ou o publisher. A pessoa que fez isso é Jayson Blair".
Mas, na edição de ontem do "Times", um dos mais importantes colunistas do jornal, William Safire, já especulava sobre como a fraude teria se concretizado. Para ele, o diário aparentemente ignorou outros erros do repórter por causa de "editores ansiosos por ver esse ambicioso jornalista negro ter sucesso".
Blair, 27, trabalhava no "Times" desde junho de 1999. Ele não se pronunciou após a reportagem do domingo -segundo a revista "Newsweek", estaria internado num hospital. Em carta que diz ter enviado ao jornal após ter pedido demissão, no último dia primeiro, afirmou: "Tenho lutado contra problemas pessoais que me causam grande dor e lamento o que fiz".
À época, o "Times" acabara de descobrir que ele copiara trechos publicados pelo jornal "The San Antonio Express-News" ao produzir um texto sobre a mãe de um militar americano desaparecido que no Iraque. Avisado, um editor do "Times" pediu explicações a Blair, que inicialmente negou a fraude.
O "Times" diz que pediu ao repórter auxílio para descobrir outros problemas em suas reportagens -Blair trabalhou em casos importantes, como o do atirador que apavorou os subúrbios de Washington no ano passado. Segundo o diário, ele se recusou a ajudar na investigação interna, e o diário destacou uma equipe para analisar seus textos.


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